Finasterida aumenta risco de câncer de próstata

O FDA, agência americana mais ou menos equivalente à Anvisa, alertou os médicos para um aumento no risco de diagnóstico de câncer de próstata agressivo (de alto grau) em homens que usem finasterida, dutasterida e outros medicamentos do grupo dos inibidores da 5α-redutase. Esses medicamentos são usados para combater dois problemas muito comuns entre homens: a calvície (alopecia androgênica) e o crescimento anormal da próstata sem câncer (hiperplasia prostática benigna).

Tudo começou com o Prostate Cancer Prevention Trial, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos para avaliar a hipótese de que a finasterida preveniria o câncer de próstata. De fato, os homens que usaram finasterida tiveram menos casos de câncer de próstata: 18,4%, contra 24,4% entre os que usaram placebo.

A taxa de detecção em si já era um problema que impedia a aplicação da pesquisa no dia-a-dia. Normalmente, 3 a 8% dos homens com 50 anos de idade ou mais descobrem ter câncer de próstata se fizerem o rastreamento com PSA e toque retal. Por outro lado, necrópsias de 30 a 40% dos homens que morrem depois dos 50 anos por outras causas revelam câncer de próstata escondido. Dessa forma, os cânceres de próstata descobertos pelo Prostate Cancer Prevention Trial eram provavelmente muito menos perigosos que os descobertos no dia-a-dia.

Mas o pior mesmo foi constatar que o número de cânceres agressivos aumentou: 6,4% dos homens que tomaram finasterida tiveram diagnóstico de câncer de próstata de alto grau, contra 5,1% dos homens que tomaram placebo.

A mesma coisa aconteceu com os homens que participaram da pesquisa Reduction by Dutasteride of Prostate Cancer Events (REDUCE): o número de casos de câncer diminuiu em 22,8%, mas o número de cânceres de alto grau aumentou 30%.

Na melhor das hipóteses, a diminuição do tamanho da próstata pela finasterida ou dutasterida estaria facilitando o diagnóstico dos cânceres de próstata agressivos. Mesmo assim, a suposta prevenção do câncer de próstata parece restrita aos tumores menos agressivos, justamente aqueles que dificilmente causariam algum transtorno. Mas, botando o pé no chão, o uso desses medicamentos aumenta pelo menos o risco do diagnóstico de câncer de próstata agressivo, e é possível que a finasterida e outros medicamentos do grupo realmente causem câncer de próstata agressivo.

Nenhum dos estudos nos permite saber os inibidores da 5α-redutase têm algum efeito (positivo ou negativo) na mortalidade por câncer de próstata, porque foram interrompidos assim que o efeito sobre o diagnóstico foi comprovado. Isso significa que muitos homens vão preferir continuar a tomar finasterida, já que seu efeito sobre a hiperplasia prostática benigna (e, em menor grau, sobre a alopécia androgênica) costuma ter um impacto significativo na qualidade de vida.

Visão bem-humorada do exame da próstata pelo toque retal.

Vale a pena lembrar que o Inca não recomenda a realização rotineira de toque retal e PSA. Mesmo combinados, os dois exames têm pouco ou nenhum efeito sobre a mortalidade por câncer de próstata, e aumentam o número de biópsias desnecessárias. Alguns médicos, no entanto, defendem que os homens com câncer de próstata na família continuem a rotina de toque retal e PSA: é possível que, para eles, esses exames tenham alguma utilidade, ainda que essa hipótese não tenha sido testada. Seguindo essa linha de raciocínio, faz sentido que os homens usando finasterida também sejam submetidos todo ano ao toque retal e à dosagem de PSA.

Para os leitores médicos: um editorial sobre o REDUCE, e um editorial sobre o PCPT, este recomendado pelo médico de família e comunidade espanhol Juán Gérvas.

4 pensou em “Finasterida aumenta risco de câncer de próstata

  1. Ana Beatriz

    Dr. gostaria de uma orientação.
    Meu pai faz reposição hormonal com Androgel (1ano) e na mesma época observamos que o jato de urina era fino e ele demorava muito urinar. Fez um urofluxograma e deu quase uma reta com poucos picos. Começou tomar unoprost, em 2 meses repetiu o urofluxograna e já deu uma parábola com um pico bom, mas ainda não seria o normal. Hoje completou 1 ano de unoprost e não observo o jato mais volumoso e nem mais rápido. Ainda é um filete, não tão fino como no início, mas não é com a pressão da normalidade. Tanto 1ª US da próstada que deu 17, foi repetida com resultado 16,5 e hoje após 1 ano a nova US deu 19. Que segundo o médico q realizou o exame, está dentro da normalidade.
    Bom, lendo agora a informação sobre a pesquisa da finasterida, fiquei com receio da troca do medicamento ou a associação dos dois.
    Pergunto: pode haver uma outra causa que não a hiperplasia, que possa está causando esse problema, já que o volume da próstata de encontra dentro do normal?
    Ou para meu pai, um simples aumento (digo, se antes de todo esse sintoma ele tivesse uns 15 de volume) poderia estar causando isso?
    Ele não deixa ninguém entrar com ele na consulta e nem pergunta ao médico o que deveria. Só diz: o médico quem sabe!! Estou ficando estressada com essa situação. Pois ele não é incapaz, nem idoso e não adimite falarmos com o médico. Agradeço se puder me explicar algo!

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    1. Leonardo Fontenelle Autor do post

      Como a uretra passa por dentro da próstata, qualquer pequena alteração da próstata (seja hiperplasia, seja um tumor) naquela região pode atrapalhar o fluxo de urina, ainda que o volume total da próstata esteja dentro da normalidade.

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