Quando fazer o exame preventivo de câncer de colo de útero

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) publicou a versão 2011 de suas Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo de Útero. Acredito que as recomendações serão novidade para a maioria dos leitores, então reuni as informações mais importantes sobre quando começar e parar de fazer exames para a prevenção e detecção precoce do câncer de colo uterino:

  • O exame preferencial é o citopatológico, aquele que as mulheres brasileiras já conhecem. Existem alternativas, sem benefícios substanciais e com menor comprovação.
  • Mulheres que nunca tiveram atividade sexual não devem fazer o preventivo. Para desenvolver o câncer de colo de útero é necessário que a mulher tenha sido infectada pelo HPV, um vírus que só chega no colo do útero por relação sexual.
  • O exame não deve ser colhido antes dos 25 anos de idade. Antes dessa idade o risco é mínimo, e o exame é pouco confiável. Além disso, o propósito do exame é descobrir um tipo de alteração que pode evoluir para câncer, mas o tratamento dessas alterações em mulheres jovens aumenta o risco de doenças se um dia a mulher engravidar.
  • A mulher deve fazer o exame duas vezes com intervalo de um ano, e a seguir o intervalo entre os exames preventivos deve diminuir para três anos. Tanto a rotina trianual quanto a anual detectam mais de 90% das alterações pré-cancerosas. Fazer exames todo ano triplica o número de exames, e só aumenta detecção em 2,5%.
  • Quando completar 65 anos de idade, a mulher deve parar de fazer os exames se tem pelo menos dois exames normais nos últimos cinco anos. Mesmo em países mais desenvolvidos, existem indícios de haver pouco ou nenhum benefício em continuar os exames depois dessa idade.
  • Se uma mulher com 65 anos de idade ou mais nunca fez o exame preventivo, deve fazer dois exames com um a três anos de intervalo, e se ambos forem normais não deve mais fazer.
  • A rotina não deve ser alterada pela gravidez, nem pelo fim da menstruação.
  • Se o útero foi completamente removido por cirurgia, devido a uma doença benigna (não câncer), como o mioma, não é mais necessário continuar a fazer o preventivo, desde que os anteriores tenham sido normais. Sem útero não há necessidade de fazer exame do útero!
  • Mulheres imunossuprimidas (por exemplo, por Aids ou uso de corticoides em alta dosagem), se já tiverem iniciado atividade sexual, devem fazer o exame preventivo a cada seis meses no primeiro ano, e daí em diante a cada ano. Mulheres com o sistema imune (de defesa) deficiente têm maior risco de câncer de útero.

Essas recomendações não são lei; a mulher e seu médico podem resolver fazer o exame até mensalmente, se quiserem. Só precisam entender que, para além das recomendações do Inca, o número de exames aumenta muito, mas o benefício preventivo é mínimo.

As diretrizes do Inca foram endossadas pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, e pela Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia. Lamento que a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade não tenha participado, mas tenho certeza de que as diretrizes serão muito bem recebidas. As diretrizes deram destaque especial para a importância da estratégia Saúde da Família na prevenção do câncer de colo de útero, e defendem o interesse das mulheres ao evitar riscos e gastos desnecessários.

Leia também os artigos que escrevi ano passado sobre quando começar fazer mamografia, com que frequência passar pelo exame, e quando parar de fazer mamografia, além de por que o auto-exame das mamas não é recomendado.

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