Como cortar o sal sem sofrimento

Um tempo atrás eu estava contando que a redução do sal dos alimentos industrializados consumidos por toda a população diminuiria o número de derrames (AVC) e infartos mais ou menos tanto quanto o tratamento medicamentoso das pessoas consideradas hipertensas. Melhor ainda, o governo federal fechou um acordo com a indústria alimentícia para reduzir pela metade o sal dos alimentos industrializados ao longo de 10 anos.

O problema, eu dizia, é que a maioria do sal consumido pelos brasileiros não vem de alimentos industrializados, mas sim de sal e temperos prontos acrescentados à comida feita em casa, seja na panela, seja no prato. Quem vai ao médico costuma ouvir que é necessário tirar o sal da comida. Mas quem é que consegue mesmo fazer isso?

A boa notícia é que as pessoas conseguem, sim, diminuir o sal da comida. A relação do sal com a pressão arterial é contínua, ou seja, quanto mais sal, maior a pressão arterial. Os níveis recomendados de ingestão diária de sal (metade da média do brasileiro) foram escolhidos simplesmente por serem metas viáveis, como já foi mostrado em vários estudos.

Poucas pessoas, no entanto, estão dispostas a cortar o sal pela metade. Pior ainda, as pessoas que comem mais sal do que a média precisariam diminuir ainda mais. O segredo é diminuir o sal aos poucos.

As pessoas percebem pouca ou nenhuma diferença entre a comida “normal” e a comida com 25% menos sal. Existem inúmeros sobre isso. Para ficar em um único estudo, recomendo aos curiosos que leiam a experiência de reduzir em 30% o sal do pão na Argentina, divulgada em 2011 pela Revista Panamericana de Salud Publica.

Com o tempo, a pessoa se acostuma com aquela quantidade de sal, então daqui a pouco pode reduzir ainda mais. Por exemplo: na década de 80 o American Journal of Clinical Nutrition publicou um estudo onde as pessoas passaram a ingerir diariamente cerca de um terço da nossa média. O paladar das pessoas se adaptou ao longo de três meses, e daí em diante continuou sempre do mesmo jeito.

Então, diminuir o sal aos poucos significa que, a cada três meses, a pessoa passa a usar um quarto de sal a menos do que vinha fazendo nos últimos meses. Fica mais fácil ainda se a família toda cortar o sal ao mesmo tempo.

Talvez o único problema, e digo por experiência própria, é começar a achar a comida dos outros salgada!

Atualização: O artigo “Sal de menos parece fazer mal à saúde” traz uma nova perspectiva sobre o assunto.

16 pensou em “Como cortar o sal sem sofrimento

  1. valquiria

    Dr. O sódio não é importante para transportar oxigênio para todas as células do corpo? Também não ajuda a regular a pressão arterial de pessoas hipotensas, visto que hipotensão também pode levar ao infarto? Confuso isso, né?

    Responder
    1. Leonardo Fontenelle Autor do post

      Valquiria, talvez você esteja procurando argumentos para algo que não chegou a escrever. Se você me disser onde quer chegar com a argumentação, responderei novamente.

      O oxigênio não é transportado pelo sódio, e sim pelo ferro. Mais especificamente pelo ferro que está dentro da hemoglobina. Ingerir mais ferro do que necessário para a produção de hemoglobina não aumenta a capacidade de transportar oxigênio.

      A única forma da hipotensão causar infarto é a pessoa sangrar tanto que não tem sangue para transportar oxigênio ao músculo cardíaco.

      O que algumas pessoas ficam repetindo é que uma baixa pressão de pulso, ou seja, ou seja, pouca diferença entre a pressão arterial sistólica (máxima) e diastólica (mínima) facilitaria a isquemia cardíaca, ou seja, a falta de sangue e oxigênio para nutrir o músculo do coração. Isso é baseado num argumento que faz sentido, mas na prática o argumento foi invalidado décadas atrás quando se mostrou que, quanto maior a pressão de pulso, maior o risco de infarto.

      Alguns medicamentos anti-hipertensivos agem ajudando o rim a eliminar mais sódio pela urina, e em geral esses medicamentos são alguns dos mais eficazes para prevenir as complicações da hipertensão arterial.

      Responder
      1. Leonardo Melanino

        Uma piese (tensão) de 0/0 mmHg é uma zeropiese ou uma zerotensão (carência total de pressão arterial), ou seja, uma morte provocada por hipopiese (hipotensão) e uma piese (tensão) de 300/300 mmHg é uma plenipiese ou uma plenitensão (excesso total de pressão arterial), ou seja, uma morte provocada por hiperpiese (hipertensão). Tanto as hipopieses quanto as hiperpieses causam mortes. Ou seja, ambos os extremos devem ser evitados. Os portadores destes extremos chamam-se “hiperpiésicos” ou “hipertensos” e “hipopiésicos” ou “hipotensos”. E os dos extremos totais chamam-se “plenipiésicos” ou “plenitensos” e “zeropiésicos” ou “zerotensos”.

        Responder
  2. Sergio Araujo de Andrade

    Eliminei totalmente o sal em alguns itens de meu cardápio.Saladas e grelhados totalmente sem sal, churrasco idem.Muito pouco sal em outros pratos diários. O grande problema é a sensibilidade adquirida em relação ao sal quando se vai (principalmente),em churrascos ou filar a boia na casa de outras pessoas.Substitui com vantagens o sal por temperos como o vinagre de vinho e balsâmico, limão e alho.Nada mais saboroso….E saudável…Da mesma forma chegando lá com o açúcar que já diminui consideravelmente.

    Responder
  3. Diego

    Minha maior dificuldade é que como muito fora, em restaurantes a quilo. E percebo que neste tipo de restaurante a quantidade de sal costuma ser maior do que a que estou acostumado a comer em na casa de meus familiares.

    Sobre o fato da pessoa se acostumar: lembro de quando estudante que nos períodos em que almoçava no Restaurante Universitário da UFSC depois de alguns meses sem comer lá achava a comida muito sem gosto, por eles colocarem bem menos sal do que o comum em outros restaurantes. Mas em poucos dias meu paladar ia se acostumando e depois de um certo tempo não sentia falta de sal. Até um novo período de férias ou de longas greves e desacostumar… :)

    Responder
  4. Pingback: Espírito Santo proíbe saleiro na mesa de bares e restaurantes | Doutor Leonardo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *