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Anticoncepcionais modernos têm maior risco de trombose

As mulheres brasileiras estão cada vez mais conscientes de que as pílulas anticoncepcionais (contraceptivos hormonais orais) aumentam o risco de trombose venosa profunda, que é quando o sangue “coagula” dentro das veias da pessoa. A gravidade de uma trombose pode ser desde mínima até morte súbita, passando pela possibilidade de deixar sequelas.

Cartela de pílua anticoncepcional sobre teclado de computador.

© anga. Licença CC BY-NC 2.0.

Apesar do aumento no risco de trombose, os anticoncepcionais são considerados medicamentos muito seguros, e podem ser comprados sem receita médica. A trombose venosa profunda (e uma de suas complicações, a embolia pulmonar) é tão rara que, mesmo com o aumento do risco devido ao anticoncepcional, continua sendo uma complicação rara. Além disso, a gravidez aumenta o risco de trombose ainda mais do que a pílula anticoncepcional, e ninguém deixa de engravidar por causa disso.

O que poucas mulheres sabem é que as pílulas anticoncepcionais mais modernas aumentam o risco de trombose ainda mais do que as pílulas mais antigas. Apesar de essa diferença não ser novidade para nós médicos, decidi comentar o assunto mesmo assim, aproveitando a recente publicação de uma pesquisa sobre o assunto.

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É melhor usar camisinha o ano inteiro

Estamos naquela época do ano de novo. As pessoas se divertem como se o mundo fosse realmente acabar em 2012, e enquanto isso o Ministério da Saúde tenta convencê-las a pelo menos usar camisinha.

Mas por que concentrar as propagandas no Carnaval? O número de atendimentos a doenças sexualmente transmissíveis (DST) não aumenta em seguida ao Carnaval, e (convenhamos) a propaganda não é tão efetiva assim. Além disso, há muito tempo já se sabe que, para se proteger contra as DST, é necessário usar camisinha não apenas de forma correta, mas também de forma consistente, ou seja, em todas ou quase todas as relações sexuais.

Boca de balões de festa, parecendo camisinhas desenroladas.

As propagandas dão muito destaque ao HIV, que todo o mundo já sabe que causa AIDS e pode ser transmitido por relações sexuais desprotegidas, mas pouco se fala das outras doenças que a camisinha previne — inclusive o câncer de colo de útero.

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Gravidez na adolescência é causada por trauma de infância

De acordo com o IBGE, 5,5% das adolescentes com 15 a 17 anos de idade já tiveram um ou mais filhos. Não estou aqui para dizer se uma adolescente pode ou deve ter filhos, mas vários estudos mostram que uma gravidez na adolescência pode trazer uma série de consequências negativas tanto para a mãe quanto para o filho. É impressionante como uma garota pode engravidar sem querer, com tanta facilidade de informação e acesso a métodos de planejamento familiar (camisinha, pílula etc.), ou como uma garota possa decidir engravidar e assim prejudicar seu futuro nos estudos e no trabalho.

Quando lidamos com os adolescentes, vemos que a realidade é muito mais complexa. Poucas vezes a gravidez pode ser considerada como um acidente completo; muitas vezes o casal sabia que corria o “risco” de engravidar, ou então a gravidez foi mesmo planejada. O frequente abandono dos estudos pode não parecer importante para a adolescente, e às vezes a ordem é inversa: primeiro a adolescente abandona os estudos, e depois engravida. O namoro, união estável ou casamento com uma pessoa já estabelecida profissionalmente pode ser um motivo para a adolescente abandonar os estudos, ou pelo menos não abortar em caso de gravidez acidental. Por fim, uma gravidez pode significar para a adolescente um meio de ganhar prestígio social, ou mesmo de sair de uma família inadequada.

Fotografia da barriga de um gestante, a partir do chão.

Na década de 90, o CDC realizou, em convênio com o plano de saúde Kaiser Permanente, um estudo com 17 mil pessoas adultas, examinando a relação entre o estado de saúde atual e uma série de traumas de infância (e adolescência), conhecidos tecnicamente como experiências adversas na infância. Os traumas de infância estudados incluem maus-tratos físicos (bater não educa!), emocionais e sexuais, negligência emocional ou física, e o testemunho de problemas familiares como agressão física da mãe, uso de drogas (inclusive álcool) por alguém da casa, adoecimento mental de alguém da casa, divórcio ou separação dos pais, ou envolvimento de familiares em crimes.

O grupo confirmou que os traumas de infância estão associados a um comportamento menos saudável e a mais problemas de saúde. Ano passado eu já tinha listado as principais doenças da mulher e do homem brasileiros, bem como os principais fatores de risco (da mulher e do homem) que levam essas pessoas a adoecer; o terceiro elo dessa cadeia seriam os traumas de infância.

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Pílula anticoncepcional não engorda

Grande parte das mulheres (e dos médicos em geral) acredita que os anticoncepcionais engordam. Esse é um fenômeno que acontece no mundo inteiro, e que ainda por cima é uma causa importante de interrupção do uso do método contraceptivo.

Pílulas anticoncepcionais

Pesquisadores da Cochrane Collaboration revisaram os estudos clínicos que abordaram a questão, e descobriram que apenas três estudos compararam o anticoncepcional com o placebo. Em todos os três estudos, o ganho de peso das mulheres que usaram a pílula ou adesivo foi igual ao ganho de peso das que usaram o placebo.

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Eficácia e segurança da pílula do dia seguinte

Dr Leonardo, gostaria de saber quais são os efeitos colaterais da pílula do dia seguinte. Ela é sempre eficaz? Quais são os riscos em ingerir esse medicamento?

Cara leitora, imagino que você esteja falando de levonorgestrel 0,75mg, dois comprimidos de uma vez ou com 12 horas de intervalo, tomados menos de 72 horas após a relação sexual. Existem outros métodos de contracepção de emergência, mas esses são dois dos mais eficazes, e os mais usados no Brasil.

A pílula do dia seguinte está longo de ser o melhor método de planejamento familiar. Tem uma eficácia pouco satisfatória, e muitos efeitos colaterais. Só é indicada quando a mulher tem uma relação sexual sem estar usando qualquer método anticoncepcional, ou então se a camisinha estourar ou o DIU sair do lugar. Também pode ser necessário usar a pílula do dia seguinte caso a mulher tenha esquecido de usar o anticoncepcional de rotina; as bulas costumam ter informações a esse respeito.

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Uma retrato do aborto no Brasil

Esse ano foi realizada a primeira Pesquisa Nacional de Aborto, abrangendo 2002 mulheres de todo o território nacional. A pesquisa consistiu num inquérito domiciliar, semelhante aos realizados pelo IBGE, mas usando uma técnica com urna para garantir a sinceridade da entrevistada. Os primeiros resultados foram publicados em junho na revista científica Ciência & Saúde Coletiva.

Feto saudével extraído de uma mulher que tinha colo do útero.

© Suparna Sinha (CC-BY-SA-2.0)

A informação que mais chama a atenção é que, ao completarem 40 anos de idade, mais de um quinto das mulheres brasileiras já induziram pelo menos um aborto. A proporção foi maior entre mulheres com menor escolaridade, mas não houve muita diferença entre religiões.

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Diane 35 não é anticoncepcional

Muita gente não sabe, mas (ao menos no Brasil) a combinação de etinilestradiol 0,035mg e acetato de ciproterona 2 mg não é registrada como anticoncepcional. Basta ler as indicações na bula do Diane 35:

Para o tratamento de distúrbios andrógeno-dependentes na mulher, tais como a acne, principalmente nas formas pronunciadas e naquelas acompanhadas de seborreia, inflamações ou formações de nódulos (acne papulopustulosa, acne nodulocística); alopecia androgênica; casos leves de hirsutismo; síndrome de ovários policísticos (SOP).

(Leia também: Como acabar com as espinhas.)

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Filhos de lésbicas têm desenvolvimento psicológico normal

Agora que a Argentina reconheceu a união entre pessoas do mesmo sexo, muitas pessoas estão questionando quando o Brasil seguirá o exemplo. No meio tempo, os casais homossexuais daqui vão colecionando outros direitos, como o de incluir o companheiro como dependente no plano de saúde e no Imposto de Renda. Além disso, os homossexuais também podem adotar crianças, porque a lei brasileira é explícita quanto à irrelevância do estado civil (ser ou não casado), e a Constituição Federal proíbe a discriminação da pessoa em função de sua orientação sexual.

Duas recém-casadas com a filha ao meio

© bobster855 (alguns direitos reservados)

As pesquisadoras Gartrell e Bos destacam que a homossexualidade deixou de ser considerada doença há mais de 30 anos, mas ainda existe quem questione a legitimidade da criação de um filho (adotivo ou biológico) num lar homossexual. Já foram realizados vários estudos, que não encontraram influência alguma da orientação sexual dos pais no ajustamento psicológico dos filhos. A maioria desses estudos avaliou as famílias pontualmente, sem acompanhá-las ao longo do tempo. Isso traz algumas limitações, e é para responder a elas que as pesquisadoras começaram a acompanhar, em meados da década de 80, lésbicas grávidas ou planejando gravidez por inseminação artificial. O estudo científico publicado recentemente no periódico Pediatrics relata que hoje em dias esses filhos têm 16 a 18 anos de idade, e seu ajustamento psicológico é ainda melhor que a média.

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África testa anel vaginal para prevenir transmissão sexual do HIV

A International Partnership for Microbicides anunciou terça-feira que está iniciando um estudo clínico da segurança e eficácia de um anel vaginal que promete diminuir o risco de uma mulher contrair o vírus da AIDS durante uma relação sexual. O anel libera gradualmente um medicamento chamado dapivarina dentro da vagina, da mesma forma que os aneis vaginais mais conhecidos liberam hormônios para evitar a gravidez.

Anel vaginal com dapivirina

© Andrew Loxley/IPM (divulgação)

O anel vaginal usado no [estudo] é feito de silicone flexível, é durável e pode ser facilmente distribuível, tornando-o adequado ao uso em países em desenvolvimento. Cada anel libera gradualmente 25 mg do medicamento antirretroviral dapivirina ao longo de 28 dias, potencialmente proporcionando proteção sustentada contra o HIV. O anel é fabricado pela IPM, que tem uma licença gratuita da dapivirina da Tibotec Pharmaceuticals, uma divisão da Johnson & Johnson.

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10 motivos para parar de fumar

No início desta série semanal de 4 artigos em homenagem ao Dia Mundial sem Tabaco 2010, apresentei 10 motivos que levam as pessoas a fumar mesmo a gente sabendo hoje em dia que fumar faz mal para a saúde. O outro lado da moeda é que 18,2% dos brasileiros maiores de 15 anos de idade são ex-fumantes, e 80% dos fumantes atuais querem parar de fumar. Ora, a dependência da nicotina é uma das mais poderosas que existe. 50% das pessoas que fumam um cigarro vão ficar dependentes. Se as pessoas param de fumar mesmo assim, elas devem ter um bom motivo, não é mesmo?

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