{"id":1732,"date":"2010-11-24T00:00:41","date_gmt":"2010-11-24T02:00:41","guid":{"rendered":"http:\/\/leonardof.med.br\/?p=1732"},"modified":"2010-11-24T22:17:25","modified_gmt":"2010-11-25T00:17:25","slug":"auto-exame-das-mamas-faz-mal-a-saude","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/leonardof.med.br\/2010\/11\/24\/auto-exame-das-mamas-faz-mal-a-saude\/","title":{"rendered":"Auto-exame das mamas faz mal \u00e0 sa\u00fade"},"content":{"rendered":"

Durante muitos anos, os profissionais de sa\u00fade incentivaram as mulheres a fazer o auto-exame das mamas regularmente, como uma forma de detectar o c\u00e2ncer de mama no in\u00edcio e assim facilitar seu tratamento. De fato, os primeiros estudos cient\u00edficos foram bastante promissores. As mulheres que praticavam ao auto-exame da mama apresentavam um risco 40% de ter c\u00e2ncer avan\u00e7ado no momento do diagn\u00f3stico, e um risco 36% menor de morrer por c\u00e2ncer de mama. Depois disso foram realizados estudos mais aprofundados (e caros), que chegaram a conclus\u00f5es bem diferentes.<\/p>\n

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Em 2003 o British Journal of Cancer<\/cite> publicou um artigo<\/a> de meta-an\u00e1lise, que interpretou em conjunto todos os estudos relevantes realizados em todo o mundo. Essa meta-an\u00e1lise mostrou que ensinar o auto-exame das mamas n\u00e3o diminui em nada a detec\u00e7\u00e3o ou a mortalidade por c\u00e2ncer de mama. Pior ainda, aumenta em 53% o risco da mulher ser submetida a uma bi\u00f3psia desnecess\u00e1ria, e duplica a procura por atendimento m\u00e9dico especializado.<\/p>\n

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Quando um grupo de pesquisadores suspeita de que uma interven\u00e7\u00e3o seja ben\u00e9fica para a sa\u00fade das pessoas, os primeiros estudos t\u00eam um or\u00e7amento menor, porque ningu\u00e9m vai colocar uma fortuna em uma pesquisa sem ter ideia alguma do resultado. Infelizmente, isso significa que os primeiros estudos costumam ser mais simples, e mais sujeitos a erros. No caso do auto-exame das mamas, as mulheres que os praticam s\u00e3o geralmente mais novas e com melhor n\u00edvel socioecon\u00f4mico, al\u00e9m de com mais frequ\u00eancia n\u00e3o terem chegado ainda \u00e0 menopausa, o que significa que elas j\u00e1 teriam um menor risco de c\u00e2ncer mesmo se n\u00e3o realizassem o auto-exame.<\/p>\n

Posteriormente foram realizados estudos de longo prazo; em vez de comparar mulheres sadias com mulheres rec\u00e9m-diagnosticadas com c\u00e2ncer de mama, esses estudos acompanharam mulheres sem c\u00e2ncer de mama, mas que podiam ou n\u00e3o estar realizando o auto-exame. Um desses estudos, realizado no Reino Unido e publicado em 1999, acompanhou 190 mil mulheres por 16 anos; um ter\u00e7o delas recebeu treinamento em auto-exame das mamas, e o resto, n\u00e3o. Outros estudos, realizados na China e na R\u00fassia, foram ainda mais cuidadosos, porque as mulheres foram sorteadas<\/em> entre o grupo com auto-exame e o grupo sem auto-exame. O primeiro acompanhou 265 mil mulheres durante 10 anos, e o outro acompanhou 120 mil mulheres ao longo de 16 anos. Todos os tr\u00eas foram muito consistentes em mostrar que a mortalidade por c\u00e2ncer de mama n\u00e3o foi nem um pouco alterada pelo auto-exame das mamas.<\/p>\n

Hoje em dia, com os avan\u00e7os do tratamento do c\u00e2ncer de mama, os tumores descobertos em fases iniciais podem ser tratados cada vez de uma forma menos invasiva. Dessa forma, se por acaso o auto-exame for capaz de detectar o tumor numa fase mais inicial, isso poder\u00e1 trazer algum benef\u00edcio para a mulher. A meta-an\u00e1lise n\u00e3o aborda essa quest\u00e3o, mas fui direto aos pr\u00f3prios estudos, e descobri que ao menos os estudos russo e chin\u00eas se detiveram tamb\u00e9m na est\u00e1gio do tumor. E ambos estudos confirmaram que as mulheres que n\u00e3o foram treinadas em auto-exame das mamas descobriram o c\u00e2ncer t\u00e3o cedo quanto as que foram treinadas.<\/p>\n

Em vez de incluir apenas mulheres altamente motivadas, disciplinadas e ex\u00edmias examinadoras, os estudos de grande porte se contentaram em dividir as mulheres entre as que receberam e as que n\u00e3o receberam treinamento. As que receberam treinamento tinham mais habilidade e disciplina, mas obviamente nem todas eram perfeitas. Seria poss\u00edvel que teoricamente mulheres disciplinadas e habilidosas pudessem detectar o c\u00e2ncer de mama antes das outras. Teoricamente. Mas, mesmo assim, isso n\u00e3o isentaria a mulher de fazer mamografia.<\/p>\n

Os primeiros estudos, mas animadores, foram feitos quando nem mesmo os pa\u00edses mais desenvolvidos faziam mamografia de rotina. E a mamografia, ainda que tenha l\u00e1 suas controv\u00e9rsias, \u00e9 comprovadamente capaz de diminuir a mortalidade espec\u00edfica por c\u00e2ncer de mama. (Leia tamb\u00e9m: Mamografia aos 40 anos \u00e9 controversa<\/a><\/q>, Mamografia pode ser feita a cada 2 anos<\/a><\/q>, e Quando parar de fazer mamografia<\/a><\/q>.) At\u00e9 hoje nenhum estudo mostrou que o auto-exame das mamas agregue qualquer valor \u00e0 mamografia de rotina. N\u00e3o que a mulher esteja proibida de tocar as pr\u00f3prias mamas. Claro que n\u00e3o. E, se a mulher descobrir algum n\u00f3dulo por acaso, deve consultar um m\u00e9dico. Mas a rotina de examinas as pr\u00f3prias mamas todo m\u00eas s\u00f3 traz consequ\u00eancias negativas para a mulher.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O auto-exame das mamas aumenta o risco de bi\u00f3psias desnecess\u00e1rias, e n\u00e3o detecta o c\u00e2ncer a tempo.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[7,84,32,72],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1732"}],"collection":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1732"}],"version-history":[{"count":17,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1732\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":1826,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1732\/revisions\/1826"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1732"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1732"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1732"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}