{"id":3815,"date":"2014-01-01T11:00:42","date_gmt":"2014-01-01T13:00:42","guid":{"rendered":"http:\/\/leonardof.med.br\/?p=3815"},"modified":"2023-11-15T16:28:19","modified_gmt":"2023-11-15T19:28:19","slug":"a-saude-dos-brasileiros-esta-melhorando-ano-apos-ano","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/leonardof.med.br\/2014\/01\/01\/a-saude-dos-brasileiros-esta-melhorando-ano-apos-ano\/","title":{"rendered":"A sa\u00fade dos brasileiros est\u00e1 melhorando ano ap\u00f3s ano"},"content":{"rendered":"

De vez em quando ou\u00e7o algu\u00e9m reclamar que as pessoas est\u00e3o cada vez mais doentes. Algumas pessoas falam at\u00e9 mesmo em uma epidemia de doen\u00e7as n\u00e3o transmiss\u00edveis<\/a>! Eu at\u00e9 concordo que as pessoas saud\u00e1veis (no sentido em que eu e os leitores usamos a palavra<\/a>) t\u00eam sido transformadas em pacientes, na medida em que a medicina se preocupa com as causas das doen\u00e7as, as causas das causas, e por a\u00ed em diante.<\/p>\n

Mas, por outro lado, a expectativa de vida est\u00e1 aumentando d\u00e9cada ap\u00f3s d\u00e9cada. Isso n\u00e3o pode ser t\u00e3o ruim assim! Mesmo as pessoas que se sentem efetivamente doentes n\u00e3o reclamam de viver alguns anos a mais.<\/p>\n

E as pessoas est\u00e3o permanecendo ativas e sadias por cada vez mais tempo. Algumas d\u00e9cadas atr\u00e1s uma mulher com 50 anos de idade seria considerada velha, mas hoje uma mulher dessa idade nem ao menos aceita ser chamada de “senhora”.<\/p>\n

\"Taxa<\/a>

Mortalidade por doen\u00e7as n\u00e3o transmiss\u00edveis ajustada por idade (Brasil, 1991-2010)<\/p><\/div>\n

<\/p>\n

Recentemente, procurando por outra informa\u00e7\u00e3o na quarta edi\u00e7\u00e3o do livro Medicina Ambulatorial<\/cite>, encontrei o gr\u00e1fico acima, e resolvi compartilhar com voc\u00eas, meus queridos leitores. O gr\u00e1fico tamb\u00e9m pode ser encontrado, em tons de cinza, num artigo publicado em 2012<\/a> pela revista Ci\u00eancia & Sa\u00fade Coletiva<\/cite>, mas os autores generosamente me enviaram a vers\u00e3o em cores.<\/p>\n

O gr\u00e1fico mostra como evoluiu, em 20 anos, a taxa de mortes (mortalidade) no Brasil por cada um de 5 subgrupos das doen\u00e7as n\u00e3o transmiss\u00edveis, tanto para homens quanto para mulheres. Repare que as doen\u00e7as cardiovasculares s\u00e3o o subgrupo de doen\u00e7as n\u00e3o transmiss\u00edveis com maior mortalidade. Felizmente, a mortalidade por doen\u00e7as cardiovasculares est\u00e1 diminuindo<\/strong>, num ritmo de cerca de 33% em 20 anos.<\/p>\n

Os motivos para isso s\u00e3o t\u00e3o variados quanto as pr\u00f3prias causas das doen\u00e7as cardiovasculares. Um dos motivos \u00e9 que, ao longo das \u00faltimas 5-7 d\u00e9cadas, essa \u00e1rea recebeu muita pesquisa e desenvolvimento, e se beneficiou muito da expans\u00e3o dos gastos com assist\u00eancia \u00e0 sa\u00fade.<\/p>\n

No Brasil, por exemplo, a cria\u00e7\u00e3o e expans\u00e3o do Programa Sa\u00fade da Fam\u00edlia (PSF), hoje chamado estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia (ESF), ampliou dramaticamente o acesso dos brasileiros \u00e0 aten\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria \u00e0 sa\u00fade, e portanto ao diagn\u00f3stico e tratamento da hipertens\u00e3o arterial. Como a press\u00e3o arterial elevada est\u00e1 associada ao derrame ainda mais do que ao infarto, a mortalidade por derrame caiu no Brasil ainda mais do que a mortalidade por infarto. Em dez anos, o derrame perdeu para o infarto a posi\u00e7\u00e3o de principal causa de morte no Brasil.<\/p>\n

Mas o setor de assist\u00eancia \u00e1 sa\u00fade \u00e9 apenas uma das formas da sociedade influenciar a sa\u00fade das pessoas. O in\u00edcio da diminui\u00e7\u00e3o da mortalidade cardiovascular coincide com o controle da infla\u00e7\u00e3o, controle esse que ajudou as pessoas a continuar com dinheiro at\u00e9 o fim do m\u00eas. Eu me lembro claramente de como se alardeava, na \u00e9poca, que o controle da infla\u00e7\u00e3o tinha aumentado o consumo de frango pela popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O aumento do consumo de alimentos tamb\u00e9m depende de pre\u00e7os acess\u00edveis, que dependem de toda uma tecnologia para cultivo, processamento e distribui\u00e7\u00e3o. Voltando ao exemplo do frango, antigamente ele podia at\u00e9 ser mais gostoso, mas a maioria dos brasileiros s\u00f3 o comia em ocasi\u00f5es especiais. Hoje em dia deixou de ser aceit\u00e1vel que algumas fam\u00edlias n\u00e3o tenham o que comer.<\/p>\n

Na medida em que as pessoas deixaram de passar fome, e as m\u00e1quinas passaram a trabalhar cada vez mais para n\u00f3s, as pessoas ficaram cada vez mais gordas no Brasil. Isso j\u00e1 n\u00e3o me preocupa tanto desde que descobrimos que\u00a0pessoas com sobrepeso ou obesidade grau 1 t\u00eam mortalidade igual ou menor que a das pessoas com peso dito normal<\/a>, de acordo com o IMC. Mesmo assim, n\u00e3o podemos nos esquecer de que, quanto mais gorda \u00e9 a pessoa, maior \u00e9 seu risco de desenvolver uma s\u00e9rie de doen\u00e7as n\u00e3o transmiss\u00edveis.<\/p>\n

Por outro lado, cada vez menos pessoas fumam no Brasil. A Lei Federal n\u00ba 9.294, de 1996<\/a>, trouxe resultados palp\u00e1veis no combate ao tabagismo, tanto que a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade (OMS) escolheu o Brasil para coordenar a cria\u00e7\u00e3o da Conven\u00e7\u00e3o-Quadro de Controle do Tabaco, que entrou em vigor em 2005. Em 2008 o Brasil j\u00e1 tinha mais ex-fumantes do que fumantes atuais<\/a>.<\/p>\n

Os leitores de longa data deste blog podem estar at\u00e9 cansados de me ler comentando sobre a import\u00e2ncia do acordo<\/a> do governo com a ind\u00fastria aliment\u00edcia para reduzir o s\u00f3dio da comida industrializada<\/a>. Esse acordo \u00e9 recente demais para ter diminu\u00eddo a mortalidade nos anos retratados pelo gr\u00e1fico, mas antes houve outro acordo, para a retirada da gordura trans, que \u00e9 ainda mais mal\u00e9fica que a gordura saturada.<\/p>\n

Pena que o acordo para a redu\u00e7\u00e3o do a\u00e7\u00facar nos alimentos industrializados ainda esteja patinando.<\/p>\n

Por fim, nossa distribui\u00e7\u00e3o de renda melhorou<\/a> consideravelmente na \u00faltima d\u00e9cada, gra\u00e7as ao aumento efetivo do sal\u00e1rio m\u00ednimo e ao fortalecimento do Programa Bolsa Fam\u00edlia<\/a>. Mesmo entre os ricos, a desigualdade de renda reduz os n\u00edveis de sa\u00fade<\/a> e aumenta a mortalidade<\/a>, atrav\u00e9s de mecanismos que compreendemos apenas em parte.<\/p>\n

Mesmo sem discutir algumas melhorias pelas quais o mundo tem passado nos \u00faltimos s\u00e9culos, voc\u00eas j\u00e1 devem ter percebido que tenho motivos de sobra para acreditar que estamos vivendo num mundo cada vez melhor.<\/p>\n

\u00c9 pena que nem tudo melhore por igual. Eu adoraria, por exemplo, se neste Ano Novo o Papai Noel trouxesse um pa\u00eds menos violento.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Melhorias na assist\u00eancia \u00e0 sa\u00fade, estilo de vida e distribui\u00e7\u00e3o de renda reduziram a mortalidade cardiovascular no Brasil.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[22,45,27,100,143,25,17,123,36],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3815"}],"collection":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=3815"}],"version-history":[{"count":14,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3815\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":3919,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3815\/revisions\/3919"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=3815"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=3815"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=3815"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}