Indústria farmacêutica pode ter manipulado estudo com o Crestor

A rosuvastatina (Crestor) é um medicamento do grupo das estatinas. Assim como sinvastatina, atorvastatina e outras, a rosuvastatina é capaz de diminuir os níveis de colesterol no sangue, e em alguns casos até de diminuir a mortalidade cardiovascular (por problemas cardíacos e circulatórios). De dois anos para cá a a rosuvastatina virou moda, em grande parte por causa de um estudo que mostrou uma diminuição pela metade no risco de infarto agudo do miocárdio (enfarte do coração) e de acidente vascular cerebral (AVC, derrame) em pessoas com níveis normais de colesterol.

Várias pílulas saindo de uma caixinha derrubada aberta sobre uma mesa

© Michael Chen (alguns direitos reservados)

O problema é que, em 28 de junho de 2010, o Archives of Internal Medicine publicou um novo estudo, em que outra equipe de pesquisadores reanalisou os dados da pesquisa anterior, e chegou à conclusão de que os resultados do experimento não dão suporte ao uso de estatinas para a prevenção […] de doenças cardiovasculares, e levanta questões perturbadoras com relação ao papel dos patrocinadores comerciais. (Fonte: KevinMD.com.)

O laboratório AstraZeneca detém a patente do Crestor, e patrocionou o estudo JUPITER, aquele que mostrou uma proteção da rosuvastatina contra infarto e AVC em pessoas com colesterol normal. O laboratório também coletou os dados e monitorou os locais do estudo, e ainda teria algum tipo de relação financeira com 9 dos 14 autores do estudo. O autor principal do estudo, por sua vez, detém a patente de um exame de proteína C reativa, exame esse que foi usado para selecionar as pessoas que participaram no estudo como cobaias.

Os autores do novo estudo apontaram uma série de inconsistências no JUPITER, e chegaram ao ponto de dizer que o conjunto de dados parece enviesado, ou seja, deturpado. Vou poupar meus leitores dos detalhes de metodologia científica, mas quem quiser pode seguir os links fornecidos anteriormente.

Quando eu resolvi escrever este artigo, eu tinha dois objetivos. O primeiro deles era fazer uma ponte com outro artigo, publicado no blog Medicina de Família: Estudos patrocinados pelos laboratórios têm viés de achados positivos. Nele, Leonardo Savassi nos conta sobre uma pesquisa científica mostrando que os estudos clínicos patrocinados por laboratórios farmacêuticos têm mais chance de terem resultados positivos, ou seja, de mostrarem que o medicamento funciona.

Mas o principal objetivo era dividir com meus leitores um ditado que aprendi nas minhas primeiras semanas da faculdade de Medicina. Recapitulando, acabou de sair um estudo que jogou um balde de água fria nos cardiologistas que começaram a prescrever Crestor a torto e a direito. Pois bem, o ditado é mais ou menos assim: Na Medicina, a gente não deve ser nem o primeiro, nem o último a aderir a uma novidade.

Se você leu este artigo até aqui, acredito que também se interessará por outro: Nem sempre é melhor prevenir do que remediar.

3 pensou em “Indústria farmacêutica pode ter manipulado estudo com o Crestor

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  2. paulo henrique fernandes campelo

    gostei muito do que li pois minha esposa é hipertensa e toma diovan anlo mix de 160+5 e tambem esse crestor ate gostaria de mais informação sobre esses medicamentos pois ela é asmatica e não pode tomar qualquer medicamento.

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