{"id":1669,"date":"2010-11-02T00:00:47","date_gmt":"2010-11-02T02:00:47","guid":{"rendered":"http:\/\/leonardof.med.br\/?p=1669"},"modified":"2010-11-17T20:35:27","modified_gmt":"2010-11-17T22:35:27","slug":"mamografia-aos-40-anos-e-controversa","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/leonardof.med.br\/2010\/11\/02\/mamografia-aos-40-anos-e-controversa\/","title":{"rendered":"Mamografia aos 40 anos \u00e9 controversa"},"content":{"rendered":"

Chegamos ao fim de mais um Outubro Rosa<\/a><\/cite>: v\u00e1rios monumentos p\u00fablicos foram iluminados, e os meios de comunica\u00e7\u00e3o deram mais espa\u00e7o para o combate ao c\u00e2ncer de mama. Este \u00e9 o tipo de c\u00e2ncer mais comum entre as mulheres (depois o c\u00e2ncer de pele n\u00e3o-melanoma), e est\u00e1 entre as 15 doen\u00e7as que mais comprometem a sa\u00fade da mulher brasileira<\/a>. A mamografia \u00e9 o melhor exame para a detec\u00e7\u00e3o precoce, mas ainda existem controv\u00e9rsias sobre quais mulheres devem faz\u00ea-lo, e com que frequ\u00eancia. Por isso, o Doutor Leonardo<\/cite> vai publicar uma s\u00e9rie de quatro artigos sobre d\u00favidas no rastreamento do c\u00e2ncer de mama, expondo os pr\u00f3s e os contras de cada op\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\"Mama<\/a>

\u00a9 Governo federal dos Estados Unidos da Am\u00e9rica (dom\u00ednio p\u00fablico)<\/p><\/div>\n

A maior pol\u00eamica, no Brasil e no resto do mundo, \u00e9 se as mulheres com 40 a 49 anos de idade devem ou n\u00e3o ser submetidas ao exame. A Femama<\/abbr> recomenda<\/a> que todas as mulheres nessa faixa et\u00e1ria fa\u00e7am mamografia anualmente. O Inca<\/abbr>, por outro lado, recomenda<\/a> que a mulher s\u00f3 realize mamografia de rotina a partir dos 50 anos de idade, a n\u00e3o ser que tenha fatores de risco adicionais.<\/p>\n

<\/p>\n

O Inca recomenda que a mamografia seja feita anualmente, desde os 35 anos de idade, entre as mulheres cuja m\u00e3e, irm\u00e3 ou filha tenham tido c\u00e2ncer de mama antes dos 50 anos de idade; entre as mulheres cuja m\u00e3e, irm\u00e3 ou filha tenham tido c\u00e2ncer de mama nos dois lados ou ent\u00e3o c\u00e2ncer de ov\u00e1rio em qualquer faixa et\u00e1ria; entre as mulheres com algum caso na fam\u00edlia de c\u00e2ncer de mama em homem (sim, isso existe); e entre as mulheres que j\u00e1 tiveram les\u00e3o mam\u00e1ria proliferativa com atipia<\/q> ou neoplasia lobular in situ<\/q> (n\u00e3o se preocupe, seu m\u00e9dico sabe o que \u00e9 isso). Estima-se que 1% das mulheres brasileiras entre 40 e 49 anos de idade estejam nessa condi\u00e7\u00e3o; as outras (de acordo com o Inca) s\u00f3 devem fazer mamografia nessa faixa et\u00e1ria se o exame cl\u00ednico das mamas (pelo m\u00e9dico ou enfermeiro) encontrar alguma altera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ao contr\u00e1rio do que eu diria at\u00e9 pouco tempo atr\u00e1s, hoje em dia j\u00e1 existe comprova\u00e7\u00e3o cient\u00edfica de que fazer mamografia todo ano diminui a mortalidade por c\u00e2ncer de mama entre os 40 e os 49 anos de idade. O problema \u00e9 que, como o n\u00famero de casos \u00e9 bem menor nessa faixa et\u00e1ria, a utilidade do exame diminui muito. Al\u00e9m disso, como j\u00e1 expus no artigo Nem sempre \u00e9 melhor prevenir do que remediar<\/a><\/q>, fazer exames de rotina tamb\u00e9m exp\u00f5e a pessoa a riscos. No caso da mamografia, o maior risco s\u00e3o os exames falso-positivos, em que a mamografia detecta um n\u00f3dulo que na verdade n\u00e3o \u00e9 c\u00e2ncer. Nesses casos, a mulher \u00e9 obrigada a fazer exames adicionais, e at\u00e9 cirurgia, que n\u00e3o seriam necess\u00e1rios se ela n\u00e3o tivesse feito a mamografia. Al\u00e9m disso<\/a>, boa parte dos casos de c\u00e2ncer s\u00e3o causados pela radia\u00e7\u00e3o de radiografias, tomografias, mamografias e similares. N\u00e3o que um exame aumente em muito o risco, mas quando o exame \u00e9 desnecess\u00e1rio, qualquer risco de dano \u00e9 inaceit\u00e1vel.<\/p>\n

No caso da mamografia, n\u00e3o existe comprova\u00e7\u00e3o de que o exame fa\u00e7a (ou n\u00e3o) mais mal do que bem em qualquer faixa et\u00e1ria. Levando em considera\u00e7\u00e3o que a mamografia diminui o risco de morte por c\u00e2ncer de mama em cerca de 15%, vale a pena fazer o exame se ele sair de gra\u00e7a. Sair de gra\u00e7a<\/q> significa um plano de sa\u00fade sem co-pagamento (ou seja, que n\u00e3o seja participativo<\/q>), ou um exame particular que a mulher pretenda abater integralmente do imposto de renda. Para o resto das mulheres, o custo-benef\u00edcio precisa ser levado em considera\u00e7\u00e3o \u2014 mesmo nos Estados Unidos, onde o risco de c\u00e2ncer de mama \u00e9 o dobro do risco no Brasil, e os mam\u00f3grafos s\u00e3o mais baratos.<\/p>\n

Do ponto de vista individual, fazer mamografia pelo SUS \u00e9 de gra\u00e7a. Mas, do ponto de vista da gest\u00e3o, o or\u00e7amento \u00e9 limitado, de forma que oferecer mamografia significa deixar de oferecer outros servi\u00e7os.<\/p>\n

Em fevereiro deste ano a Revista Brasileira de Cancerologia<\/cite> publicou um estudo brasileiro de custo-efetividade (custo-benef\u00edcio) da mamografia<\/a>. Os pesquisadores brasileiros chegaram \u00e0 conclus\u00e3o de que a mamografia anual dos 40 aos 49 anos de idade custaria R$ 11.648,30 para cada ano de vida ganho, quando comparado aos R$ 7.469,43 para cada ano de vida ganho com a mamografia bianual dos 50 aos 69 anos de idade. Em 2006<\/a>, cada brasileiro ganhou em m\u00e9dia R$ 12,5 mil (por ano), e colocou R$ 449,93 (por ano) no SUS.<\/p>\n

Dessa forma, a pr\u00f3pria inclus\u00e3o da mamografia no SUS, e ainda mais a sua extens\u00e3o para as mulheres com 40 a 49 anos de idade significa que os homens e as mulheres de outras faixas et\u00e1rias ter\u00e3o menos dinheiro para a sua sa\u00fade. N\u00e3o que isso esteja necessariamente errado, mas \u00e9 uma decis\u00e3o que precisa ser tomada de forma consciente e com muito cuidado.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, o IBGE estima<\/a> que 28,9% das mulheres com 50 a 69 anos de idade nunca fizeram mamografia na vida. Levando em considera\u00e7\u00e3o que a custo-efetividade da mamografia nessa faixa et\u00e1ria \u00e9 55,9% maior do que aos 40-49 anos, faz sentido garantir primeiro a mamografia do primeiro grupo antes de estend\u00ea-la para o segundo.<\/p>\n

Em suma, do ponto de vista individual vale a pena fazer a mamografia todo ano, na faixa et\u00e1ria dos 40 aos 49 anos, se a mulher n\u00e3o tiver que tirar dinheiro do bolso, ou se ela estiver disposta a pagar o pre\u00e7o apesar do menor retorno. J\u00e1 a oferta da mamografia no SUS depende de uma decis\u00e3o que a sociedade precisa tomar com muita cautela. Em especial, n\u00e3o faz sentido deixar de oferecer servi\u00e7os com melhor custo-efetividade para oferecer servi\u00e7os com pior custo-efetividade.<\/p>\n

Talvez voc\u00ea tenha percebido que, com rela\u00e7\u00e3o \u00e0 faixa et\u00e1ria entre os 50 e os 69 anos de idade, falei o tempo todo em mamografia a cada 2 anos, e n\u00e3o todo ano. Daqui a alguns dias explico o porqu\u00ea disso<\/a>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Entre os 40 e os 49 anos de idade a mamografia tem um custo-benef\u00edcio question\u00e1vel.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[7,106,84,27,32,72,16],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1669"}],"collection":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1669"}],"version-history":[{"count":20,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1669\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":1782,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1669\/revisions\/1782"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1669"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1669"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1669"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}