{"id":2823,"date":"2011-10-31T03:00:15","date_gmt":"2011-10-31T05:00:15","guid":{"rendered":"http:\/\/leonardof.med.br\/?p=2823"},"modified":"2012-10-07T15:45:12","modified_gmt":"2012-10-07T18:45:12","slug":"o-exame-pode-nao-ter-salvado-a-sua-vida","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/leonardof.med.br\/2011\/10\/31\/o-exame-pode-nao-ter-salvado-a-sua-vida\/","title":{"rendered":"O exame pode n\u00e3o ter salvado a sua vida"},"content":{"rendered":"

O c\u00e2ncer ainda \u00e9 uma doen\u00e7a que inspira terror. Algumas pessoas simplesmente se recusam a falar seu nome, preferindo dizer “aquela doen\u00e7a”. Quando a gente fala em c\u00e2ncer, o que vem \u00e0 mente \u00e9 uma pessoa saud\u00e1vel que come\u00e7ou a sentir algo e, depois de uma avalia\u00e7\u00e3o m\u00e9dica, descobriu que ter\u00e1 poucos e dolorosos meses de vida pela frente. Por isso, quando uma pessoa descobre um c\u00e2ncer num exame de rotina, \u00e9 compreens\u00edvel que ela acredite que o exame tenha salvo sua vida.<\/p>\n

Acontece que muitos tipos de c\u00e2ncer simplesmente n\u00e3o s\u00e3o t\u00e3o letais assim. Se a pessoa com c\u00e2ncer n\u00e3o fizer o exame, corre um risco razo\u00e1vel de morrer \u2014 por outra causa \u2014 sem saber que tinha a doen\u00e7a. E, se o c\u00e2ncer for pouco agressivo, fazer o diagn\u00f3stico com anos de anteced\u00eancia pode fazer pouca diferen\u00e7a nas chances de cura. (Repare que estou falando em anos, e n\u00e3o em est\u00e1gio cl\u00ednico.) Al\u00e9m disso, alguns exames s\u00e3o capazes de dizer qual \u00e9 o grau de agressividade do c\u00e2ncer, mas nunca \u00e9 poss\u00edvel ter certeza se o tumor vai ou n\u00e3o matar a pessoa.<\/p>\n

\"Mama<\/a><\/p>\n

No caso do c\u00e2ncer de mama, um estudo rec\u00e9m-aceito pela revista Annals of Internal Medicine<\/cite><\/a> calculou qual \u00e9 a chance, para uma mulher que descobriu o c\u00e2ncer de mama num exame de rotina, de que a mamografia tenha realmente salvado a sua vida.<\/p>\n

<\/p>\n

Os pesquisadores utilizaram dados do National Health Interview Survey<\/cite> de 2003 para saber qual \u00e9 a propor\u00e7\u00e3o, nos Estados Unidos, dos c\u00e2nceres de mama que s\u00e3o detectados atrav\u00e9s de mamografias de rotina. Mesmo depois de uma s\u00e9rie de suposi\u00e7\u00f5es otimistas, os pesquisadores chegaram \u00e0 estimativa de que o diagn\u00f3stico precoce s\u00f3 faz a diferen\u00e7a em menos de 25% dos casos. Para a maioria das mulheres, portanto, o diagn\u00f3stico de c\u00e2ncer de mama numa mamografia de rotina n\u00e3o traz qualquer melhoria da expectativa de vida.<\/p>\n

Colocando em outros termos, uma s\u00e9rie de mulheres que j\u00e1 n\u00e3o iria morrer de c\u00e2ncer de mama passa a receber o diagn\u00f3stico por causa do exame de rotina. Ironicamente, isso aumenta em muito o n\u00famero de mulheres vivas que j\u00e1 tiveram um diagn\u00f3stico de c\u00e2ncer de mama, e que portanto se consideram salvas pela mamografia.<\/p>\n

\u00c9 importante notar que o estudo diz respeito \u00e0 mamografia de rotina, e n\u00e3o \u00e0quela solicitada para avaliar um n\u00f3dulo ou outro sinal. Al\u00e9m disso, a pesquisa n\u00e3o foi feita para avaliar se a mamografia funciona ou n\u00e3o; pelo contr\u00e1rio, ela partiu da suposi\u00e7\u00e3o de que a mamografia seja capaz de diminuir a mortalidade.<\/p>\n

O que a pesquisa mostrou \u00e9 que, quando uma pessoa aparece na televis\u00e3o dizendo que a mamografia de rotina salvou de rotina, essa pessoa est\u00e1 provavelmente enganada. Nem a mamografia e, principalmente, nem o c\u00e2ncer de mama s\u00e3o t\u00e3o dram\u00e1ticos assim. (Leia tamb\u00e9m: Nem sempre \u00e9 melhor prevenir do que remediar<\/a><\/q>.)<\/p>\n

Agrade\u00e7o ao m\u00e9dico de fam\u00edlia e comunidade espanhol Juan G\u00e9rvas<\/span> por divulgar o estudo. Semana que vem terei o prazer de publicar mais um artigo com base em material que ele divulgou; desta vez, um relat\u00f3rio de um estudante de medicina portugu\u00eas sobre seu est\u00e1gio numa unidade de Sa\u00fade da Fam\u00edlia daquele pa\u00eds<\/a>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Na grande maioria dos casos, o diagn\u00f3stico precoce do c\u00e2ncer de mama n\u00e3o faz diferen\u00e7a para a mulher.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[7,84,32,72],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2823"}],"collection":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2823"}],"version-history":[{"count":13,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2823\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":3220,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2823\/revisions\/3220"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2823"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2823"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2823"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}