{"id":3803,"date":"2013-11-17T13:00:58","date_gmt":"2013-11-17T15:00:58","guid":{"rendered":"http:\/\/leonardof.med.br\/?p=3803"},"modified":"2013-11-16T22:22:30","modified_gmt":"2013-11-17T00:22:30","slug":"cirurgia-de-catarata-aumenta-risco-de-quedas-em-idosos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/leonardof.med.br\/2013\/11\/17\/cirurgia-de-catarata-aumenta-risco-de-quedas-em-idosos\/","title":{"rendered":"Cirurgia de catarata aumenta risco de quedas em idosos"},"content":{"rendered":"

A catarata e as quedas s\u00e3o alguns dos maiores, e mais frequentes, problemas de sa\u00fade entre os idosos. N\u00f3s profissionais de sa\u00fade costumamos pesquisar a baixa acuidade visual entre os idosos e encaminhar ao oftalmologista, pensando especialmente na prescri\u00e7\u00e3o de \u00f3culos para a presbiopia (vista cansada) e na cirurgia para os casos mais avan\u00e7ados de catarata.<\/p>\n

\"Mature<\/a><\/p>\n

A cirurgia de catarata \u00e9 uma das interven\u00e7\u00f5es m\u00e9dicas com maior resultado em termos de qualidade de vida: \u00e9 uma das raras situa\u00e7\u00f5es em que podemos efetivamente curar a cegueira. Por isso mesmo, acreditava-se que a cirurgia para catarata seria uma \u00f3tima forma de se prevenirem as quedas.<\/p>\n

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Pessoas saud\u00e1veis t\u00eam dificuldade para entender a gravidade das quedas em idosos. Idosos fr\u00e1geis t\u00eam um risco muito maior de queda, que pode causar fratura, levando \u00e0 necessidade de imobiliza\u00e7\u00e3o. A imobilidade, por sua vez, aumenta o risco de pneumonia e de trombose venosa profunda, al\u00e9m de piorar a fragilidade de uma forma geral. A imobiliza\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m piora sensivelmente a qualidade de vida do idoso, e de quem quer que tenha que ajud\u00e1-lo em seus cuidados. Por fim, a queda pode afetar qualquer outro \u00f3rg\u00e3o al\u00e9m dos ossos. Ano passado, um paciente meu morreu por causa de um traumatismo craniano decorrente se suas quedas.<\/p>\n

A preven\u00e7\u00e3o de quedas \u00e9 t\u00e3o complexa quanto o pr\u00f3prio problema. Orienta\u00e7\u00f5es baseadas em bom senso n\u00e3o costumam mostrar efeito em estudos rigorosos, e interven\u00e7\u00f5es mais efetivas<\/a> nem sempre est\u00e3o ao alcance das pessoas que mais necessitam.<\/p>\n

Em 2012 a Colabora\u00e7\u00e3o Cochrane atualizou uma revis\u00e3o sistem\u00e1tica da literatura cient\u00edfica sobre a preven\u00e7\u00e3o de quedas<\/a> em idosos morando na comunidade (n\u00e3o em asilos), e s\u00f3 encontrou dois estudos avaliando o efeito da cirurgia de catarata sobre o risco de quedas. Juntos, os dois estudos inclu\u00edram 550 pacientes. O n\u00famero de quedas por ano diminuiu depois da primeira cirurgia de catarata, mas o risco de fratura, n\u00e3o. A segunda cirurgia de catarata n\u00e3o reduziu sequer o n\u00famero de quedas.<\/p>\n

Esse tipo de diferen\u00e7a entre a primeira e a segunda cirurgia \u00e9 perfeitamente compreens\u00edvel. A primeira cirurgia \u00e9 feita quase sempre no olho com mais catarata, e ter um olho bom \u00e9 muito melhor do que nada. De um olho bom para dois h\u00e1 menos diferen\u00e7a. Na verdade, como a cirurgia de catarata exige que a pessoa fique semanas sem fazer esfor\u00e7o, muitos idosos preferem nem operar o segundo olho.<\/p>\n

E agora saiu este estudo<\/a>, em que cientistas da Universidade de Curtin, na Austr\u00e1lia, analisaram os dados de todas as pessoas com 60 anos de idade ou mais que passaram por cirurgia de catarata numa determinada regi\u00e3o da Austr\u00e1lia, de 2001 a 2008. O risco de queda grave, precisando de interna\u00e7\u00e3o,\u00a0dobrou<\/strong> depois da primeira cirurgia de catarata, e aumentou em 34% depois da segunda.<\/p>\n

Devido \u00e0 forma como o estudo foi feito, \u00e9 imposs\u00edvel garantir que os pesquisadores tenham levado em considera\u00e7\u00e3o todos os fatores de confus\u00e3o relevantes. Mesmo assim, o tamanho do estudo conta a favor: ningu\u00e9m deixa de publicar o resultado de um estudo desse tamanho s\u00f3 porque os resultados n\u00e3o foram os esperados.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, estudos anteriores dos mesmos pesquisadores com esse mesmo conjunto de dados j\u00e1 tinha identificado melhoria na qualidade da vis\u00e3o, melhoria na qualidade de vida, e at\u00e9 mesmo redu\u00e7\u00e3o no n\u00famero de acidentes de tr\u00e2nsito notificados pela pol\u00edcia (entre os idosos do sexo masculino). Era para o risco de queda ter diminu\u00eddo.<\/p>\n

Acredito que a explica\u00e7\u00e3o esteja numa diferen\u00e7a importante entre um estudo e os outros com rela\u00e7\u00e3o ao comportamento e\/ou n\u00edvel de sa\u00fade dos idosos. Para que um idoso caia, ele precisa se colocar em risco. Se o idoso j\u00e1 tem uma casa adaptada, por exemplo, arriscar-se a sair de casa pode aumentar o risco dele cair. Se o idoso estiver doente o suficiente, ele pode continuar sendo cuidadoso, ou nem sair de casa. Se ele estiver saud\u00e1vel o suficiente, seu risco de queda ser\u00e1 muito pequeno. Se estiver no meio caminho…<\/p>\n

A cirurgia de catarata continua sendo uma das interven\u00e7\u00f5es m\u00e9dicas com maior retorno em qualidade de vida para o paciente. Infelizmente, parece que esse ganho de vida tem um efeito adverso, no risco de interna\u00e7\u00e3o por queda. Talvez as pessoas que v\u00e3o operar, ou que j\u00e1 foram operadas de catarata sejam boas candidatas a programas de preven\u00e7\u00e3o de quedas.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Estudo recente encontrou dobro do risco de quedas entre idosos depois da opera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[42,109,72,110],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3803"}],"collection":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=3803"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3803\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":3813,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3803\/revisions\/3813"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=3803"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=3803"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=3803"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}