{"id":3909,"date":"2014-08-12T11:00:29","date_gmt":"2014-08-12T14:00:29","guid":{"rendered":"http:\/\/leonardof.med.br\/?p=3909"},"modified":"2014-08-10T21:58:45","modified_gmt":"2014-08-11T00:58:45","slug":"saude-da-familia-previne-mortes-por-infarto-e-derrame","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/leonardof.med.br\/2014\/08\/12\/saude-da-familia-previne-mortes-por-infarto-e-derrame\/","title":{"rendered":"Sa\u00fade da Fam\u00edlia previne mortes por infarto e derrame"},"content":{"rendered":"

No in\u00edcio do ano eu tinha comentado que, ao longo de 20 anos, a mortalidade por doen\u00e7as cardiovasculares diminuiu em 33% no Brasil<\/a>. Na \u00e9poca, associei a melhoria \u00e0 expans\u00e3o da estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia, com base na experi\u00eancia internacional de melhoria das condi\u00e7\u00f5es de sa\u00fade quando as pessoas t\u00eam acesso \u00e0 aten\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria \u00e0 sa\u00fade, e com base no fato do derrame (AVC<\/abbr>) ter ca\u00eddo de primeira para segunda causa de morte no Brasil. (O derrame \u00e9 ainda melhor prevenido pelo controle da press\u00e3o arterial do que o infarto card\u00edaco.)<\/p>\n

Em julho a revista cient\u00edfica The BMJ<\/cite> publicou um artigo de pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos confirmando a minha suposi\u00e7\u00e3o. Examinando v\u00e1rios dados de 1622 munic\u00edpios brasileiros ao longo dos anos 2000 a 2009, os autores observaram que a cobertura de 70% ou mais dos moradores de um munic\u00edpio num ano predizia, para o ano seguinte, uma redu\u00e7\u00e3o em 18% na taxa de morte por derrame, e 21% na taxa de morte por infarto,<\/a> em compara\u00e7\u00e3o ao que seria esperado se o munic\u00edpio n\u00e3o implementasse a estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia. Melhor ainda: esse efeito parece aumentar com o tempo. Em 2009, os munic\u00edpios que durante oito anos tinham mantido uma cobertura de 70% ou mais apresentaram taxas de derrame e infarto 31% e 36% menores do que o que seria esperado sem a estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia.<\/p>\n

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A pesquisa usou um m\u00e9todo estat\u00edstico razoavelmente sofisticado, mas o artigo \u00e9 de uma leitura muito agrad\u00e1vel (para quem \u00e9 da \u00e1rea). Tr\u00eas dos autores j\u00e1 tinham participado em pesquisas sobre a expans\u00e3o da estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia e a redu\u00e7\u00e3o da mortalidade infantil<\/a>, inclusive uma pesquisa mais recente<\/a> que eu ainda n\u00e3o tinha citado por aqui.<\/p>\n

Numa resposta, um palestrante do Imperial College London<\/cite> destacou a import\u00e2ncia do estudo, dizendo que os autores tinham sido at\u00e9 moderados demais em suas conclus\u00f5es, e dizendo ainda que seria bom para a Inglaterra aprender com a estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia<\/a>. Vejam s\u00f3: a Inglaterra \u00e9 um dos ber\u00e7os da aten\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria \u00e0 sa\u00fade, e h\u00e1 d\u00e9cadas tem servido de inspira\u00e7\u00e3o para o SUS<\/abbr>!<\/p>\n

Como j\u00e1 expliquei<\/a>, o sistema de sa\u00fade \u00e9 apenas um dos motivos para a redu\u00e7\u00e3o da mortalidade cardiovascular no Brasil. Os outros motivos, como a melhoria da qualidade de vida e a redu\u00e7\u00e3o do consumo de sal de cozinha, j\u00e1 aconteceram h\u00e1 tempos nos pa\u00edses mais desenvolvidos como a Inglaterra.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, a gente sabe que n\u00e3o costuma ser f\u00e1cil conseguir consulta nas unidades b\u00e1sicas de sa\u00fade do Brasil. A expans\u00e3o da estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia ainda significa, em grande parte, aumentar o n\u00famero de profissionais para atender \u00e0 popula\u00e7\u00e3o, ou mesmo levar alguma equipe para comunidades onde n\u00e3o havia nenhuma (em vez de s\u00f3 substituir servi\u00e7os de aten\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria \u00e0 sa\u00fade que trabalhem de outra forma). Essa quest\u00e3o do acesso \u00e0 sa\u00fade j\u00e1 foi resolvida h\u00e1 muito tempo na Inglaterra.<\/p>\n

Mas, em pelo menos um aspecto, a estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia<\/a> tem sim o que ensinar para a Inglaterra. Estou falando do papel do agente comunit\u00e1rio de sa\u00fade no fortalecimento do v\u00ednculo entre a equipe de Sa\u00fade da Fam\u00edlia e a comunidade em que ela trabalha. Na Inglaterra, todas as pessoas t\u00eam “sua” unidade b\u00e1sica de sa\u00fade (coisa que nem sempre funciona no Brasil), mas na pr\u00e1tica as pessoas mais marginalizadas pela sociedade s\u00e3o justamente as que t\u00eam mais dificuldade de acesso ao servi\u00e7o de sa\u00fade. \u00c9 nessas situa\u00e7\u00f5es em que o trabalho dos agentes comunit\u00e1rios de sa\u00fade, “esquadrinhando” a comunidade, faz toda a diferen\u00e7a.<\/p>\n

Quando fiz resid\u00eancia m\u00e9dica em medicina de fam\u00edlia e comunidade, os agentes comunit\u00e1rios de sa\u00fade contavam que o servi\u00e7o da equipe era t\u00e3o importante que os alugu\u00e9is da regi\u00e3o aumentaram quando a equipe de Sa\u00fade da Fam\u00edlia come\u00e7ou a funcionar. Que tal voc\u00ea compartilhar alguma hist\u00f3ria<\/a> sobre o que mudou no lugar onde voc\u00ea mora (ou trabalha) quando a estrat\u00e9gia Sa\u00fade da Fam\u00edlia chegou at\u00e9 a\u00ed?<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Cobertura pela estrat\u00e9gia reduz em cerca de 20% as mortes por doen\u00e7as cardiovasculares.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[18,45,100,72,17,16],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3909"}],"collection":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=3909"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3909\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":3933,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3909\/revisions\/3933"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=3909"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=3909"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/leonardof.med.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=3909"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}