{"id":448,"date":"2010-05-10T00:00:12","date_gmt":"2010-05-10T03:00:12","guid":{"rendered":"http:\/\/leonardof.med.br\/?p=448"},"modified":"2010-09-11T22:23:48","modified_gmt":"2010-09-12T01:23:48","slug":"10-motivos-para-fumar","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/leonardof.med.br\/2010\/05\/10\/10-motivos-para-fumar\/","title":{"rendered":"10 motivos para fumar"},"content":{"rendered":"

Dia 31 de maio \u00e9 o Dia Mundial Sem Tabaco 2010<\/strong>, e em sua comemora\u00e7\u00e3o o Doutor Leonardo<\/cite> traz uma s\u00e9rie de quatro artigos sobre o tabagismo. Hoje em dia todo o mundo sabe que cigarro causa uma s\u00e9rie de doen\u00e7as (leia tamb\u00e9m: Os 10 maiores fatores de risco para a sa\u00fade do brasileiro<\/cite><\/a>), mas mesmo assim o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade estima que 16% dos brasileiros adultos fumem ativamente (confira o relat\u00f3rio<\/a>). O artigo de hoje \u00e9 para os outros 84% dos brasileiros adultos, que n\u00e3o conseguem entender como aquele amigo ou parente consegue fumar mesmo sabendo que cigarro faz mal.<\/p>\n

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O motivo mais simples \u00e9 a juventude<\/strong>. Sim, o tabagismo est\u00e1 diminuindo tamb\u00e9m entre adolescentes, mas quase todos os fumantes tragaram o primeiro cigarro antes dos 18 anos de idade. Nessa idade a pessoa \u00e9 mais propensa a novas experi\u00eancias, tem mais necessidade de aceita\u00e7\u00e3o social, e est\u00e1 criando uma identidade pr\u00f3pria. Fica dif\u00edcil negar um cigarro. No Brasil \u00e9 proibido vender (ou dar) cigarro a menores de idade, mas todo o mundo sabe que o acesso \u00e9 f\u00e1cil. Existe at\u00e9 quem diga que a proibi\u00e7\u00e3o torna o cigarro ainda mais atraente…<\/p>\n

Al\u00e9m disso, quando come\u00e7aram a fumar, a maioria dos fumantes de hoje tamb\u00e9m n\u00e3o sabiam que cigarro fazia mal<\/strong>. Na verdade, nas d\u00e9cadas de 30 a 40 os cientistas da Alemanha j\u00e1 tinham ind\u00edcios dos malef\u00edcios do tabaco, mas depois da Segunda Guerra Mundial os americanos varreram esse conhecimento para baixo do tapete como coisa de nazista. Na d\u00e9cada de 60, no entanto, j\u00e1 existiam estudos provando definitivamente que os cigarros causavam c\u00e2ncer de pulm\u00e3o, por exemplo, mas esse tipo de estudo enfrentou uma oposi\u00e7\u00e3o t\u00e3o forte da ind\u00fastria do tabaco que em 1994 as 7 maiores empresas do ramo nos EUA ainda se prestavam a dizer em p\u00fablico que nem cigarro, nem nicotina viciava. (Assista ao v\u00eddeo<\/a>, em ingl\u00eas.) A situa\u00e7\u00e3o s\u00f3 foi revertida quando organiza\u00e7\u00f5es governamentais e n\u00e3o-governamentais come\u00e7aram a fazer propagandas caras sobre os malef\u00edcios do tabagismo.<\/p>\n

Algumas caracter\u00edsticas da pessoa tamb\u00e9m a tornam mais propensa a fumar. Os homens<\/strong>, por exemplo, ainda fumam mais que as mulheres: 20% deles s\u00e3o tabagistas, e s\u00f3 13% delas. Mas essa diferen\u00e7a est\u00e1 diminuindo, porque existe cada vez menos restri\u00e7\u00e3o social ao tabagismo entre as mulheres (deixou de ser tabu), e por motivos pouco explicados os homens parecem ter mais facilidade de largar o cigarro que as mulheres. Al\u00e9m do sexo, a escolaridade<\/strong> tamb\u00e9m \u00e9 muito importante. A propor\u00e7\u00e3o de fumantes entre as pessoas com pouco estudo \u00e9 1,5 a 2 vezes maior que entre as pessoas com mais estudo. Por fim, o local em que ela mora \u00e9 muito importante. O n\u00famero de fumantes em Porto Alegre, por exemplo, \u00e9 mais de 2 vezes maior que aquele em Salvador, em rela\u00e7\u00e3o ao n\u00famero de habitantes. O Rio Grande do Sul<\/strong> \u00e9 o estado brasileiro onde fica a Souza Cruz<\/a>, subsidi\u00e1ria da British American Tobacco que domina o mercado brasileiro h\u00e1 mais de 50 anos. A cultura do tabaco usa muita m\u00e3o-de-obra, geralmente na forma de agricultura familiar, de forma que restri\u00e7\u00f5es ao tabagismo (mesmo que passivo) s\u00e3o encaradas como uma amea\u00e7a ao trabalho dessas fam\u00edlias.<\/p>\n

Agora sendo sincero, fumar \u00e9 gostoso<\/strong>. Nunca fumei, mas de tanto ouvir os fumantes falar eu sou obrigado a acreditar. A nicotina \u00e9 amarga que s\u00f3, mas, quando chega ao c\u00e9rebro, ativa a parte do prazer. \u00c9 o mesmo efeito que outras drogas, como o \u00e1lcool e a coca\u00edna. Na d\u00e9cada de 60 a Philips Morris<\/a> come\u00e7ou a alterar o tabaco dos cigarros, introduzindo por exemplo a am\u00f4nia<\/a>. A am\u00f4nia aumenta a velocidade de absor\u00e7\u00e3o da nicotina dos pulm\u00f5es (dizem alguns inclusive que fica mais r\u00e1pido que uma inje\u00e7\u00e3o na veia), o que aumenta a capacidade de uma droga causar depend\u00eancia. Hoje em dia todos os cigarros j\u00e1 usam esse tipo de artif\u00edcio, basta perguntar a quem fuma h\u00e1 mais de 50 anos para saber se n\u00e3o houve diferen\u00e7a.<\/p>\n

Quem tem depend\u00eancia f\u00edsica<\/strong> de nicotina dificilmente fuma menos de 5 cigarros por dia. Isso porque, cerca de meia hora depois da pessoa ter fumado um cigarro, o organismo come\u00e7a a eliminar a nicotina, e algumas horas depois quase tudo j\u00e1 foi eliminado. A pessoa pode ent\u00e3o sentir dificuldade de concentra\u00e7\u00e3o, ansiedade, ins\u00f4nia, depress\u00e3o, aumento do apetite, desconforto abdominal e diminui\u00e7\u00e3o do ritmo card\u00edaco. E mais importante, a pessoa sente vontade de fumar, e sabe que, se fumar, esse sintomas v\u00e3o embora. A gravidade da s\u00edndrome de abstin\u00eancia varia de uma pessoa para outra, sendo pior principalmente em quem fuma mais de um ma\u00e7o por dia e\/ou fuma o primeiro cigarro menos de 30 minutos depois de ter acordado.<\/p>\n

Al\u00e9m da depend\u00eancia f\u00edsica, o cigarro tamb\u00e9m causa depend\u00eancia psicol\u00f3gica<\/strong>. \u00c0 medida que o cigarro se torna algo familiar \u00e0 pessoa, ela come\u00e7a a enxergar nele um apoio para as horas de estresse, solid\u00e3o ou tristeza. Algumas pessoas contam que, sem ter um ma\u00e7o por perto, ficam desesperadas, mas ao conseguir um cigarro, antes mesmo de acend\u00ea-lo j\u00e1 se sentem melhor. Um dia conheci, vejam s\u00f3, um ex-tabagista que passou meses com um ma\u00e7o de cigarros no bolso para lhe dar seguran\u00e7a. O cigarro vira uma esp\u00e9cie de amigo, e j\u00e1 soube at\u00e9 de uma mulher que chamava o cigarro de meu amante<\/cite>.<\/p>\n

A terceira forma de depend\u00eancia \u00e9 a associa\u00e7\u00e3o<\/strong> entre o cigarro e determinadas situa\u00e7\u00f5es. Grande parte dos fumantes, por exemplo, sente uma vontade intensa de fumar (a fissura<\/cite>) quando bebem caf\u00e9, e alguns tomam caf\u00e9 quando j\u00e1 est\u00e3o com vontade de fumar, para fazer boca de pito<\/cite>. Outras situa\u00e7\u00f5es comuns em que a pessoa pode sentir fissura s\u00e3o as refei\u00e7\u00f5es, as rela\u00e7\u00f5es sexuais, ou o uso de bebida alco\u00f3lica. Isso sem contar, claro, com o cheiro da fuma\u00e7a do cigarro de outro fumante.<\/p>\n

Durante s\u00e9culos as pessoas achavam que o tabagismo era um estilo de vida, e n\u00e3o uma doen\u00e7a. Mas mesmo hoje em dia existem pessoas que usam o cigarro de prop\u00f3sito, para emagrecer<\/strong>. De fato, a nicotina diminui o apetite, assim como o fazem outras drogas como o \u00e1lcool e a coca\u00edna. Mais ainda, quando a pessoa para de fumar ela ganha, em m\u00e9dia, 2 a 4 quilos. Essa quantidade varia de uma pessoa para outra; conhe\u00e7o gente que ganhou 10 ou at\u00e9 20 quilos parando de fumar, mas tamb\u00e9m conhe\u00e7o pessoas que emagreceram. O mais incr\u00edvel, acredito, s\u00e3o adolescentes que j\u00e1 fumavam ocasionalmente e que come\u00e7am a fumar diariamente para emagrecer. O cigarro estraga dos dentes e envelhece a pessoa, mas cada um tem suas prioridades…<\/p>\n

Outro motivo muito comum para a pessoa fumar \u00e9 achar que parar faz mal<\/strong>. At\u00e9 faz algum sentido: a pessoa tem 70 anos de idade, e fuma desde os 13, ent\u00e3o n\u00e3o conhece outra vida. Pior ainda foi num bairro em que trabalhei. Todo o mundo se conhecia, e um idoso tinha morrido um ano ap\u00f3s parar de fumar, ent\u00e3o os outros fumantes ficaram ressabiados. De fato, no primeiro anos ap\u00f3s parar de fumar, a mortalidade \u00e9 maior que no grupo geral dos fumantes, mas isso s\u00f3 acontece porque as pessoas esperam ter um infarto ou descobrir um enfisema para resolver parar de fumar. Se essas pessoas n\u00e3o parassem de fumar, iam morrer at\u00e9 mais r\u00e1pido, mas como elas param de fumar, v\u00e3o parar nas estat\u00edsticas dos n\u00e3o-fumantes. Resumindo, parar de fumar faz bem para todo o mundo, independente de quanto tempo faz que a pessoa fuma, ou de qual idade a pessoa tenha.<\/p>\n

E essa lista n\u00e3o estaria completa se eu n\u00e3o inclu\u00edsse uma das afirma\u00e7\u00f5es que eu mais ou\u00e7o: a dificuldade em parar de fumar<\/strong>. Muitas vezes, simplesmente por n\u00e3o acreditar ser capaz de parar de fumar, a pessoa se convence de que n\u00e3o quer mesmo parar de fumar, numa esp\u00e9cie de autodefesa contra o sentimento de impot\u00eancia. Um motivo frequente para isso s\u00e3o as reca\u00eddas. Um ex-fumante que volte a fumar, ou que n\u00e3o consiga vencer os sintomas da s\u00edndrome de depend\u00eancia, muitas vezes acredita que \u00e9 fraco<\/cite>, e que n\u00e3o vai conseguir nunca parar de fumar. Na verdade, \u00e9 bem pelo contr\u00e1rio, mas vou deixar para comentar o assunto nos pr\u00f3ximos artigos.<\/p>\n

Como eu disse acima, esse artigo foi escrito principalmente para os n\u00e3o-fumantes entenderem a cabe\u00e7a dos fumantes. Mas, se voc\u00ea for fumante, por favor n\u00e3o se acanhe: deixe um coment\u00e1rio abaixo descrevendo os motivos que voc\u00ea percebe como mais importantes para voc\u00ea continuar fumando. E aproveite para enviar este artigo por e-mail, ou twitter, para aquele amigo ou parente seu que vive querendo mandar voc\u00ea parar de fumar.<\/p>\n

\u00c0s quintas-feiras continuarei publicando artigos variados, mas cada segunda-feira publicarei um artigo novo sobre o tabagismo no Brasil. Confira os pr\u00f3ximos t\u00edtulos:<\/p>\n