Arquivos anuais: 2010

Retrospectiva 2010

Esse foi o ano em que botei em prática meu antigo projeto de escrever um blog sobre saúde — em especial, Saúde da Família. E o resultado não poderia ter sido melhor: um trabalho de qualidade, com um público cada vez maior. Eu cheguei mesmo a precisar fazer ajustes para atender a tanta gente: durante alguns meses o recurso de artigos relacionados (Leia também) precisou ser desativado, e recentemente solicitei ao provedor de hospedagem que quintuplicasse o número máximo de e-mails que posso enviar por hora.

Fogos de artifício.

O carro-chefe do Doutor Leonardo é, sem dúvida, o artigo Emenda constitucional garante piso salarial para agentes comunitários de saúde, que até hoje é responsável por mais de 10% das visitas. E muitos visitantes se tornaram leitores assíduos, talvez por causa de outros artigos importantes, como:

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Cerimônia de efetivação dos agentes comunitários de saúde de Vitória

Enquanto Dilma Rousseff e Renato Casagrande terão que esperar até amanhã, os agentes comunitários de saúde e dos agentes de controle de endemias de Vitória (ES) tomaram posse hoje ontem mesmo, em cerimônia simbólica. Era tanta gente que não havia lugar para todos se sentarem no auditório da Prefeitura Municipal de Vitória. Até mesmo quem não seria efetivado estava lá para prestigiar os colegas.

Como já mencionei em novembro, a efetivação dos ACS e dos ACE no município de Vitória é o resultado de um processo que envolveu até mesmo o sindicato e o Ministério Público. Como a cerimônia de hoje foi simbólica, a efetivação mesmo dos agentes comunitários de saúde se dará aos poucos, na medida em que forem acabando seus contratos com a própria prefeitura.

Para mais informações — e fotografias — leia a matéria no site da Prefeitura Municipal de Vitória.

Manutenção quase encerrada

Há alguns meses o Doutor Leonardo começou a apresentar dificuldades para lidar com o elevado número de visitantes, ao ponto de ser necessário remover o recurso Leia também, que seleciona automaticamente alguns artigos relacionados àquele que o visitante acabou de ler.

Pois bem, aproveitei o fim de semana para transferir o Doutor Leonardo para outro provedor de hospedagem, e espero não ter mais problemas com o desempenho. Infelizmente, a transição não foi assim tão suave, de forma que os comentários feitos durante o fim de semana foram perdidos. Por favor, se você deixou algum comentário sábado ou domingo, escreva de novo!

O recurso de Leia também já está funcionando de novo, mas outro recurso, o Participe, foi perdido na mudança, e terá que ser recriado do zero. Não vou estipular um prazo para o funcionamento normal deste último recurso, até porque prefiro privilegiar o conteúdo.

E por falar em conteúdo, dentro de alguns dias pretendo publicar um artigo explicando o que é, afinal, beber com moderação. Aguardem!

Especialidade está associada a melhor atenção primária à saúde

Uma dissertação de mestrado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul investigou os fatores associados a uma melhor qualidade da atenção primária à saúde em Curitiba (PR). A primeira conclusão já era esperada: unidades de Saúde da Família (“PSF”) prestam uma atenção melhor que a das unidades tradicionais. A pontuação média das unidades de Saúde da Família foi de 7,4 (numa escala de 0 a 10), enquanto a das unidades tradicionais foi de 6,6.

No primeiro plano, a escultura 'A Mãe'. Ao fundo, a estufa do Jardim Botânico Fanchette Rischbieter.

Mas o mais interessante é que essa foi aparentemente a primeira pesquisa nacional a avaliar a importância da especialização em Saúde da Família. A proporção de pontuações elevadas (maiores ou iguais a 6,6) foi 20% maior entre os especialistas em Medicina de Família e Comunidade e em Enfermagem Comunitária, em comparação aos pediatras, clínicos gerais, ginecologistas-obstetras, médicos sem especialidade, e outros enfermeiros. Essa maior proporção de pontuações elevadas entre os especialistas foi na verdade um engano meu. O estudo não mostrou associação entre a especialidade médica e o escore de qualidade da atenção primária. Aliás, isso faz bastante sentido, já que o instrumento foi criado para avaliar serviços de saúde, e não profissionais.

A autora da pesquisa não poderia ser mais imparcial: além de secretária municipal de saúde de Curitiba, Eliana Chomatas é pediatra.

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De onde vem o sal que você consome?

Pesquisadores da USP publicaram, ano passado na Revista de Saúde Pública, um estudo sobre o consumo de sal pela população brasileira. Com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE entre 2002 e 2003, a pesquisa apurou que o brasileiro ingere diariamente 11,4 gramas de sal (4,5 gramas de sódio) por dia. Ao destrinchar o consumo de sal pela origem, os pesquisadores descobriram que o sal puro e os temperos à base de sal são responsáveis por 76% do sal consumido pelos brasileiros.

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Como controlar a ansiedade do seu filho

O título original diz muito sobre a missão do livro: Como ajudar sua criança ansiosa, numa tradução literal. Os autores do livro Transtorno da Ansiedade na Infância presumem o tempo todo que os leitores são pais e mães de crianças com medos, preocupações ou ansiedades excessivas. Mesmo sem dispensar a consulta a um profissional de saúde, o livro ensina aos pais como ajudar seus filhos a superar situações que normalmente lhe trazem um sofrimento despropositado. Faço questão de destacar um trecho que explica como saber se sua criança (ou adolescente) poderá ser beneficiada pelo livro:

Capa do livro

Não existe isso de ‘medo anormal’. Todos os medos são normais — só que alguns são mais intensos e duram mais tempo que outros. […] O que importa é que se a ansiedade está prejudicando a vida de seu filho, você deve começar a pensar em fazer alguma coisa para ajudá-o a superar o problema.

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Redução do sal é tão importante quanto remédio de pressão

Dia 25 de novembro, como já mencionei aqui no Doutor Leonardo, o governo brasileiro divulgou um acordo com a indústria para a redução do teor de sódio (e de glicose) dos produtos alimentícios. A redução deverá ser gradual, para as pessoas não estranharem, e em 2020 os alimentos industrializados do Brasil deverão ter 50% menos sódio que hoje em dia. Esse acordo deverá ter um benefício imenso para a nossa saúde. Não se trata apenas de abaixar a pressão arterial. Trata-se de salvar vidas — muitas vidas.

Neste ano o New England Journal of Medicine publicou um estudo em que os pesquisadores simularam o que aconteceria nos Estados Unidos se aquele país tivesse uma iniciativa igual à do Brasil. Confira um trecho do resumo:

Uma intervenção regulatória desenvolvida para alcançar uma redução da ingestão de sal em 3 gramas por dia salvaria, todo ano, 194 a 392 mil anos de vida ajustados por qualidade de vida, e economizaria todo ano 10 a 24 bilhões de dólares em atenção à saúde. Tal intervenção traria mais economia do que custo, mesmo se apenas uma modesta redução de 1 grama por dia fosse atingida gradualmente entre 2010 e 2019, e seria mais custo-efetiva que usar medicamentos para baixar a pressão sanguínea em todos os hipertensos.

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Ministério da Saúde cria incentivo para especialistas em Medicina de Família e Comunidade

Parece que esse ano o Ministério da Saúde resolveu dar um presente de Natal para os médicos de família e comunidade. Justamente no dia em que publiquei um artigo sobre a diferença entre o médico de família e comunidade e o clínico geral, o Ministério da Saúde publicou uma portaria estabelecendo um incentivo financeiro para os municípios, proporcional ao número de especialistas em Medicina de Família e Comunidade, no valor de R$ 1 mil por mês por especialista.

Cenoura presa a uma vara.

Para que o município receba o incentivo, é necessário que o médico tenha sua especialidade registrada no respectivo Conselho Regional de Medicina (CRM). Não adianta fazer curso de especialização. É necessário ter feito residência médica (que é a melhor forma de especialização na Medicina) ou ter experiência e fazer prova de título de especialista. Para uma pessoa saber se um médico é especialista em alguma área (e registrou isso no CRM), basta acessar o site do Conselho Federal de Medicina, e clicar em Cidadão/Empresa → Busca por médico.

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Clínico geral não é médico de família

Dia 5 de dezembro foi comemorado o Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade, por isso resolvi tomar vergonha na cara e escrever um artigo que estou prometendo há muito tempo: qual é a diferença entre o clínico geral e o médico de família e comunidade.

Um médico realiza um exame de rotina em uma paciente em uma clínica médica.

A dúvida vem do fato de que o médico de família e comunidade está muito próximo daquilo que a maioria das pessoas considera um bom clínico geral. O médico de família e comunidade assume o cuidado integral da pessoa, mesmo quando ela tem alguma doença que também precisa dos cuidados de outros especialistas. O médico de família e comunidade pode trabalhar na estratégia Saúde da Família (PSF) do SUS, mas infelizmente a maioria dos médicos em equipes de Saúde da Família não têm especialização em Medicina de Família e Comunidade. Mas a MFC não é um cargo, é uma especialidade médica. Tenho colegas trabalhando em rede própria de planos de saúde, em consultórios particulares, em universidades e na gestão do SUS.

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Cidade mineira dá exemplo para o resto do Brasil

Janaúba é uma cidade no norte de Minas, com cerca de 70 mil habitantes. O clima é semiárido, expondo a cidade a secas periódicas. O PIB per capita da cidade é um terço do nacional, e apenas 4% da população tem plano de saúde. Mesmo sendo uma das cidades mais pobres de Minas Gerais, Janaúba conseguiu fazer a mortalidade infantil cair, de 1998 a 2007, de 33 óbitos por 1000 nascidos vivos para apenas 4 — o menor índice da América Latina. Quando a mortalidade infantil chegou a apenas um dígito, o município de Janaúba ganhou destaque nacional, e desde então secretários de saúde e pesquisadores de todo o Brasil fazem fila para conhecer o sistema de saúde da cidade.

Taxa de mortalidade infantil em Janaúba, Minas Gerais, no período de 2000 a 2007.

Tudo começou em 1999, quando Helvécio Albuquerque assumiu a coordenação da Saúde da Família. O município contava com 4 equipes de Saúde da Família recém-contratadas, com vínculo precário, trabalhando em instalações inadequadas e sem capacitação. Naquele momento já entendíamos que o município precisava rever todo o sistema de saúde e esta reformulação deveria necessariamente se dar através da Atenção Básica, disse Helvécio Albuquerque à Revista Brasileira Saúde da Família.

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