Arquivo mensais:novembro 2010

Indústria alimentícia vai reduzir sal e açúcar de seus produtos

O Ministério da Saúde anunciou recentemente a assinatura de um contrato com a Associação Brasileira da Indústria Alimentícia (Abia), renovando por mais 3 anos o Fórum da Alimentação Saudável. Esse fórum, composto também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi responsável pela retirada de 230 mil toneladas de gordura trans dos produtos alimentícios em 2009, segundo a própria Abia. Além de conseguir que todas as empresas restrinjam a gordura trans em seus alimentos (hoje em dia 94,6% teriam adotado a medida), o objetivo do fórum passou a incluir a diminuição dos teores de sódio e glicose nos produtos alimentícios.

Grãos de sal fotografados com aumento de 25%, com renderização de HDR (grande alcança dinâmico).

A importância do acordo foi ressaltada por um levantamento publicado recentemente pela Anvisa. O levantamento mostrou, por exemplo, que a quantidade de sódio em uma marca de batata palha foi 14 vezes maior que em outra; e que uma porção de macarrão instantâneo contém 167% do sódio que uma pessoa adulta pode ingerir num dia. O mesmo levantamento também descobriu que a glicose é responsável por cerca de 10% da composição dos refrigerantes, sucos e néctares analisados.

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Médicos de família fazem a diferença nos Estados Unidos

No meio acadêmico, a saúde dos Estados Unidos é motivo de piada. Mesmo para quem tem plano de saúde, o sistema é caro e os resultados são ruins, em comparação a outros países desenvolvidos. Eu poderia citar inúmeros artigos estudos científicos, mas em vez disso sugiro o filme Sicko: S.O.S. Saúde.

Vista panorâmica da cidade de Grand Junction, Colorado, nos EUA.

Mas existe uma cidade no estado do Colorado, chamada Grand Junction, que parece ser uma exceção à regra. Em junho de 2009, uma matéria (em inglês) publicada no jornal The New Yorker revelou ao país que aquela pequena cidade conseguiu a proeza de ter um dos sistemas de saúde mais baratos do país, e ainda assim ter um dos melhores conjuntos de indicadores de qualidade de atenção à saúde. Em agosto daquele ano, o presidente Barack Obama viajou à cidade para conhecer seu sistema de saúde.

Em setembro de 2010, a prestigiada revista científica The New England Journal of Medicine publicou (em inglês) o ponto de vista de dois médicos sobre a saúde da cidade:

O evento mais importante na história da atenção à saúde em Grand Junction foi a tomada da liderança por médicos de família. No início dos anos 70, um grupo de médicos de atenção primária à saúde [médicos de família, pediatras etc.] e especialistas fundaram um plano de saúde (Rocky Mountain Health Plans, ou simplesmente Rocky) e uma espécie de cooperativa (Mesa County Physicians Independent Practice Association, MCPIPA). Os médicos de família ganharam controle substancial dessas organizações, e promoveram uma cultura de incentivos para o controle e a transparência dos custos. Em 2006, Grand Junction tinha 85% mais médicos de família por habitante que a média nacional.

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Auto-exame das mamas faz mal à saúde

Durante muitos anos, os profissionais de saúde incentivaram as mulheres a fazer o auto-exame das mamas regularmente, como uma forma de detectar o câncer de mama no início e assim facilitar seu tratamento. De fato, os primeiros estudos científicos foram bastante promissores. As mulheres que praticavam ao auto-exame da mama apresentavam um risco 40% de ter câncer avançado no momento do diagnóstico, e um risco 36% menor de morrer por câncer de mama. Depois disso foram realizados estudos mais aprofundados (e caros), que chegaram a conclusões bem diferentes.

É mostrada uma mulher negra adulta nua da cintura para cima, realizando o auto-exame das mamas. Seu braço esquerdo está elevado e ela está examinando sua mama esquerda com a mão direita.

Em 2003 o British Journal of Cancer publicou um artigo de meta-análise, que interpretou em conjunto todos os estudos relevantes realizados em todo o mundo. Essa meta-análise mostrou que ensinar o auto-exame das mamas não diminui em nada a detecção ou a mortalidade por câncer de mama. Pior ainda, aumenta em 53% o risco da mulher ser submetida a uma biópsia desnecessária, e duplica a procura por atendimento médico especializado.

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Mil comentários

Eu só queria contar para vocês que o Doutor Leonardo acabou de atingir a marca de 1000 comentários, em 10 meses de existência. São quase 25 comentários por semana!

Recentemente uma certa autoridade capixaba publicou um artigo num jornal importante do estado. Quando penso que (fiquei sabendo) essa pessoa recebeu muito poucos comentários, aí é que me sinto privilegiado pelos leitores que tenho.

Agradeço do fundo do coração por todos os comentários, sugestões e divulgação. Vocês fazem o Doutor Leonardo ser ainda melhor!

Município de Vitória efetiva os agentes comunitários de saúde

A Câmara Municipal de Vitória (ES) aprovou, nesta última terça-feira (16), uma alteração no estatuto do servidor municipal para contemplar os agentes comunitários de saúde e os agentes de combate a endemias. O Projeto de Lei nº 237/2010, que inclui os ACS e ACE no quadro de servidores públicos efetivos, foi votado com a presença de 200 agentes da cidade.

A situação era um pouco atípica, porque o presidente da Câmara Municipal assumiu interinamente o cargo de prefeito. Mas o projeto de lei foi resultado de um processo que já vem de algum tempo, e inclusive foi entregue pelo próprio prefeito antes de transmitir o cargo. A efetivação dos ACS (e dos ACE) em Vitória contou com a participação do Ministério Público Estadual, do SindSaúde-ES, da própria Prefeitura Municipal de Vitória, e até da Câmara Municipal de Vitória. Um dos cuidados adotados no processo foi o de documentar muito bem que os ACS (e ACE?) tinham sido efetivamente contratados através de processo seletivo público, pré-requisito para a integração automática ao quadro de servidores municipais.

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Quando parar de fazer mamografia

Chega uma época na vida da pessoa em que os exames de rotina precisam ser repensados. Assim como muitos idosos não vêm benefício em adotar um estilo de vida mais saudável (por exemplo comendo mais salada), a rotina de mamografia precisa ser rediscutida com a pessoa quando ela atinge os 70 anos de idade.

O documento da Femama que citei há duas semanas não aborda a questão de quando (ou se) parar de fazer mamografia a partir de alguma idade; e o Inca não faz recomendações para as mulheres com 70 anos ou mais de idade.

Não existem dúvidas de que a mamografia continua sendo efetiva na detecção precoce do câncer de mama depois dos 70 anos. Na verdade, quando mais idosa a mulher, melhor a mamografia, pois fica mais fácil identificar calcificações anormais e pequenos nódulos. O problema é que, depois de uma certa idade, aumenta muito a chance do exame detectar um câncer que não traria qualquer consequência para a mulher.

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Pausa para o mestrado

Podem ficar tranquilos, não morri nem tirei férias. Estou fazendo alguns ajustes em minha dissertação de mestrado, e tenho pressa para terminá-la. Não vai dar para publicar nada hoje, mas em poucos dias volto à ativa.

Dia 14 será o Dia Mundial do Diabetes, então quem tiver interesse está convidado a (re)ler uma série de artigos que publiquei sobre o assunto em junho e julho:

Assim que puder completarei a série atual, sobre a detecção precoce do câncer de mama. Já escrevi sobre mamografia aos 40 anos e sobre mamografia anual ou bianual dos 50 ao 69 anos, e pretendo escrever sobre até quando a mulher deve continuar fazendo mamografia, e sobre as limitações do auto-exame das mamas.

Tenho uma lista aparentemente inesgotável de ideias para novos artigos, abrangendo um bocado de temas. Mas isso não significa que eu esteja fechado para sugestões — muito pelo contrário! Se você tiver uma pergunta que eu poderia responder na forma de um artigo, por favor me avise e darei prioridade à sua sugestão.

Conte ao seu médico como você é tratada

Achei esse artigo muito interessante, e pensei até mesmo em traduzir para publicar no Doutor Leonardo. Felizmente, o Blog do Pediatra em Casa já fez isso por mim! Confira o seguinte trecho:

Aos 73 anos, eu tenho visto certamente a evolução da experiência “médica”, da obstetrícia/ginecologia até o pediatra (tenho 5 filhos) a especialista, generalista.

Aprendi a aceitar o fato de que nesta época de alta tecnologia, nós não vamos estar conversando com o nosso médico sobre o preço do salgadinho na cantina da escola. A maior lição que aprendi, no entanto, é que, se você é tratado rudemente ou de forma brusca por algum funcionário, muitas vezes, o médico nem tem ideia do que está acontecendo. Você precisa dizer a ele, seja pessoalmente ou por uma cartinha “confidencial” escrita à mão.

Para ler o depoimento integral desta senhora norte-americana, bem como os comentários do pediatra brasileiro Andre Bressan, acesse a página Uma reflexão interessante sobre experiência de ser ‘paciente’.

Número de pessoas ou famílias por agente comunitário de saúde

Esse artigo é uma espécie de 2-em-1. Primeiro, vejamos a pergunta desse agente comunitário de saúde do Acre:

[…] Aproveitando, gostaria de pedir ao senhor que me informe sobre a quantidade de famílias e pessoas estabelecida pelo Ministério da Saúde por ACS.

Essa pergunta eu posso responder junto desta outra, de um ACS de Minas Gerais:

Gostaria de saber do senhor por que nós ACS [da área rural] temos que fazer uma quantidade de casas quase igual à dos ACS urbanos. […] tivemos que comprar carro para trabalhar, já que uma casa é longe da outra. Chega a ser no total 20km de distância, se não tiver carro não conseguimos fazer a pé. Temos que colocar gasolina do nosso bolso, e ganhando 575,00 reais.

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Mamografia pode ser feita a cada 2 anos

No artigo em que discuti os prós e os contras da mamografia a partir dos 40 anos de idade, falei o tempo todo em mamografia anual. De fato, tudo indica que nessa faixa etária a mamografia anual seja melhor que a bianual. Mas, no que diz respeito às mulheres com 50 anos de idade ou mais, a frequência ideal é alvo de uma nova discussão. O Inca recomenda mamografia a cada 2 anos, enquanto a Femama divulga que toda mulher deve fazer o exame anualmente.

Um estudo (em inglês) encomendado pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos reuniu uma série de pesquisas feitas até hoje, e chegou à conclusão de que fazer mamografia de 2 em 2 anos traz entre 67% e 99% do benefício de se fazer todo ano. Os riscos da mamografia, por outro lado, são proporcionais ao número de exames realizados, e não são nada desprezíveis.

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