Descobridor do PSA critica seu uso no câncer de próstata

Richard Ablin, cientista que descobriu o PSA em 1970, classificou recentemente seu uso sistemático como um desastre de saúde pública. O exame só é capaz de detectar 3,8% dos casos de câncer de próstata, e não é capaz de diferenciar o câncer de uma série de outras doenças benignas. Aliás, o próprio câncer de próstata é pouco agressivo, e em 80% dos casos a pessoa acaba morrendo de outra coisa primeiro.

A utilidade do PSA na prevenção das mortes por câncer de próstata foi testada em dois estudos recentes, com resultados desanimadores. Em um dos estudos, o exame de rotina simplesmente não alterou a mortalidade, nem um pouquinho. No outro estudo, foi necessário examinar 1410 pessoas e diagnosticar e tratar 48 casos para cada vida salva. Levando em consideração que o tratamento do câncer de próstata causa impotência sexual (disfunção erétil) e incontinência urinária (a pessoa não consegue segurar a urina), o tratamento continua deixando muito a desejar.

No meu trabalho, tanto pacientes quanto colegas estranham que eu não peça o PSA como um exame de rotina (na hora H, ninguém pede o toque). Realmente muitos médicos têm a rotina de realizar o toque e/ou pedir o PSA, especialmente os urologistas, e as pessoas parecem ter aceitado isso como um fato da vida. Então, para não parecer que tirei isso tudo da minha cabeça, cito aqui o Instituto Nacional de Câncer (INCA):

[…] não existem evidências de que o rastreamento para o câncer da próstata identifique indivíduos que necessitam de tratamento ou de que esta prática reduza a mortalidade do câncer de próstata. Desta forma, o Instituto Nacional de Câncer não recomenda o rastreamento para o câncer da próstata […]

6 pensou em “Descobridor do PSA critica seu uso no câncer de próstata

  1. Camila

    Olá,
    achei muito interessante e surpreendente esse post do seu blog.
    Gostaria de saber então, qual a melhor forma de fazer o diagnóstico precoce do Cancer de próstata? O que você recomenda? Na prática como neurologista, recebemos doentes com síndromes medulares compressivas, cujo diagnóstico final é metástase por neoplasia prostática. Será que mesmo com a baixa eficácia no tratamento, e suas complicações, se houvessemos diagnosticado precocemente e insituído um tratamento, teríamos como evitar uma disseminação tão incapacitante como esta?

    Aguardo sua resposta,
    Abraços,
    Dra. Camila Catherine.

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    1. Leonardo Fontenelle Autor do post

      Pelo que se sabe hoje em dia, é como diagnosticar precocemente o câncer de pâncreas ou pulmão. Não dá. Mas imagino que, talvez, se chegue à conclusão de que para certos grupos valha a pena definir pontos de corte mais rígidos, como por exemplo PSA de 1,00. Vamos ver no que dá.

      Um abraço, Amiga!

      Responder
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