Quando parar de fazer mamografia

Chega uma época na vida da pessoa em que os exames de rotina precisam ser repensados. Assim como muitos idosos não vêm benefício em adotar um estilo de vida mais saudável (por exemplo comendo mais salada), a rotina de mamografia precisa ser rediscutida com a pessoa quando ela atinge os 70 anos de idade.

O documento da Femama que citei há duas semanas não aborda a questão de quando (ou se) parar de fazer mamografia a partir de alguma idade; e o Inca não faz recomendações para as mulheres com 70 anos ou mais de idade.

Não existem dúvidas de que a mamografia continua sendo efetiva na detecção precoce do câncer de mama depois dos 70 anos. Na verdade, quando mais idosa a mulher, melhor a mamografia, pois fica mais fácil identificar calcificações anormais e pequenos nódulos. O problema é que, depois de uma certa idade, aumenta muito a chance do exame detectar um câncer que não traria qualquer consequência para a mulher.

Se você está lendo com atenção, essa última frase deve ter parecido meio estranha. Como é que um câncer pode não trazer qualquer consequência? Quando a gente pensa em câncer, lembra sempre de um caso em que a pessoa morreu pouco após o diagnóstico.

Acontece que os tumores mais agressivos podem aparecer entre uma mamografia e outra, mesmo fazendo todo ano, e nesses casos a mamografia ajuda pouco a descobrir o câncer no começo. O exame é bom mesmo para descobrir tumores de crescimento lento, que demorariam vários anos para trazer alguma consequência. Se a mulher tiver outros problemas de saúde, ou um risco elevado de infarto cardíaco, pode muito bem acontecer dela morrer com o câncer mas não por causa do mesmo.

Se uma mulher descobre o câncer de mama muito no início, não dá para saber o que vai acontecer a seguir. O tumor pode regredir sozinho, pode continuar silencioso para o resto da vida, ou pode crescer ao ponto de causar sintomas sérios ou matar a mulher.

Pense agora numa mulher que teve o câncer de mama descoberto no início, e faça de conta que você sabe que ela nunca descobriria se não fosse pelo exame. Como ela não sabe que o tumor ficaria silencioso, ela procura um mastologista para tratar o câncer. Ela vai precisar de uma cirurgia, provavelmente de retirada de um nódulo, mas talvez de toda a mama. Aí vem outra cirurgia, para reconstrução da mama. Se for necessário retirar os gânglios linfáticos (linfonodos) da axila, isso poderá prejudicar a drenagem linfática natural do braço, levando à necessidade de fisioterapia. Se for indicada radioterapia, e a radiação atravessar o coração, isso triplica o risco de morte por infarto cardíaco. E uma possível quimioterapia expõe a pessoa a infecções graves, porque o sistema imune fica gravemente comprometido, sem contar com os outros efeitos colaterais.

A mamografia de rotina aumenta em cerca de 52% o número de diagnósticos de casos de câncer que, de outra forma, passariam desapercebidos pelo resto da vida.

Por outro lado, se for para tratar, é melhor fazer isso no começo, pois aí o tratamento é menos agressivo. Além disso, a mamografia depois dos 70 anos de idade efetivamente diminui a mortalidade por câncer de mama. (Só restam dúvidas quanto a uma possível diminuição da mortalidade pela somatória de todas as causas.) E a custo-efetividade (custo-benefício) de fazer mamografia de 2 em 2 anos, dos 70 aos 79 anos de idade, é parecida com a custo-efetividade da mamografia anual para mulheres de 40 a 49 anos de vida: R$ 11.648,30 para cada ano de vida ganho.

Se a mulher não gostar muito de ir ao médico, ou de fazer exames, isso conta contra a mamografia. Se ela está saudável, e as pessoas na família costumam viver até uma idade bem mais avançada, isso conta a favor. Além disso, pessoas com aparência mais jovem vivem por mais tempo. Mas com certeza, dos 70 anos em diante (e, segundo alguns, em qualquer idade), a mamografia não é simplesmente mais um exame de rotina, a ser pedido automaticamente. É algo que precisa ser discutido caso a caso.

5 pensou em “Quando parar de fazer mamografia

  1. Estelina de Souza Prates

    Dr. Leonardo eu lhe passei um e-mail para que o senhor pudesse me ajudar a parar de fumar, como já comentei antes frequentei por duas vezes o anti-tabagismo, usei adesivo e o Ziban mas de nada adiantou, tive a recaída e preciso e quero parar de fumar mas sem uma orientação eu não consigo, sou depressiva, ansiosa e muito estressada, por isso conto com a sua ajuda encarecidamente. muito obrigada.
    Estelina.

    Responder
      1. Manuel Monteiro

        Só existe um modo de deixar de fumar: NÃO COMPRE TABACO!
        Se você conseguir deixar de comprar você vai deixar de fumar.
        Digo isto por experiência própria. Fumei durante 4 anos e agora não fumo. Julgam que não há momentos em que me lembro do tabaco? Há sim muitas vezes em que até ia um cirrago, mas não fumo porque não o tenho. Se eu comprasse mesmo só com a intenção de fumar pouco de nada me serviria.
        Por isso NÃO COMPREM

        Responder
  2. Pingback: Auto-exame das mamas faz mal à saúde | Doutor Leonardo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *