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Corrigindo… pessoas com sobrepeso vivem MENOS

Há quatro anos, divulguei uma descoberta contraintuitiva: pessoas com sobrepeso (IMC entre o recomendado e a obesidade) pareciam ter uma expectativa de vida maior do que aquelas com o peso dito normal. O estudo tinha concluído isso reunindo 141 pesquisas, com 2,9 milhões de participantes, então isso não era algo para se desconsiderar. O problema era que as principais doenças crônicas não transmissíveis são agravadas pelo sobrepeso (em comparação ao peso recomendado), de forma que os próprios autores do estudo admitiram a necessidade de examinar melhor do que é que essas pessoas estavam morrendo.

No fim das contas, o nó acabou sendo desatado de outra forma, através de um estudo ainda mais apurado, que contradisse as conclusões do anterior.

Gráfico de floresta para a razão de hazards para cada incrementos de 2,5 kg/m² no IMC, por sexo. Nadir em 22,5 a 25,0 kg/m², com aumento para ambos os lados.

Associação do índice de massa corpórea com a mortalidade geral, por sexo. © 2016 The Global BMI Mortality Collaboration. Distribuído sob a licença CC BY 4.0 Internacional.

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O efeito de frutas, hortaliças, leguminosas sobre nossa saúde

Os leitores já devem estar familiarizados como estudo PURE, que seguiu mais de 135 mil pessoas, distribuídas entre 613 comunidades, em 18 países (inclusive Brasil), em variados continentes e graus de desenvolvimento econômico. O objetivo do estudo é avaliar uma grande variedade de fatores de risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular, principalmente infarto cardíaco e derrame (acidente vascular cerebral , AVC). Esse estudo já mostrou que consumir pouco sal parece aumentar o risco cardiovascular, e que consumir pouca gordura ou muito carboidrato parecem aumentar o risco de mortes não cardiovasculares. Agora é a hora de saber se consumir frutas, hortaliças (verduras) e legumes faz mesmo bem para a saúde.

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Mais gordura, menos carboidrato, mais saúde

Há muito tempo se sabe que uma dieta rica em gorduras saturadas está associada aos níveis de colesterol LDL (“ruim”), que está associado a placas de colesterol, que estão associadas a doenças cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio (enfarte cardíaco) e o acidente vascular cerebral (AVC, derrame). Por isso, há cerca de quarenta anos se recomenda uma dieta pobre em gordura (especialmente saturada) e rica em carboidratos (como arroz e pão).

Desde então, nosso entendimento do assunto avançou consideravelmente. Por exemplo, já sabemos que consumir ovo não aumenta o risco de doença cardiovascular, apesar de a gema do ovo ser rica em colesterol. Não apenas o ovo é rico em substâncias benéficas, mas (o mais importante) várias pesquisas verificaram que o risco cardiovascular não aumenta com o consumo de ovo.

Agora é a vez reexaminarmos o papel das gorduras e dos carboidratos no risco cardiovascular. Lembram-se do estudo PURE, com seus surpreendentes resultados sobre a relação entre a ingestão de sódio e a mortalidade? Em um artigo publicado em agosto pela revista científica The Lancet), os pesquisadores do PURE avaliaram a relação entre a ingestão de gorduras e carboidratos e o risco de doença cardiovascular (inclusive morte cardiovascular) e de morte por quaisquer causas. Durante uma média de 7,4 anos, o estudo acompanhou mais de 135 mil pessoas, tanto na área urbana quanto na rural, em 18 países distribuídos entre todos os continentes e estratos de desenvolvimento econômico, inclusive o Brasil.

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As 10 piores doenças no Brasil

Estou listando os grupos de doenças (e outros danos à saúde) pelo mesmo critério de meu artigo sobre os 10 principais fatores de risco para a saúde no Brasil. Ou seja, estou levando em consideração o número de pessoas afetadas, o grau de incapacidade das pessoas vivas, e a precocidade das mortes.

  1. As doenças cardíacas e circulatórias como o infarto e o derrame (AVC) somam 15% da carga de doença. A boa notícia é que essa carga de doença diminuiu em 33% desde 1990! (Leia também: “A saúde do brasileiro está melhorando ano após ano”, e “Saúde da Família previne mortes por infarto e derrame“.)
  2. Os transtornes mentais e do comportamento, como depressão, ansiedade e abuso do álcool, somam 12% da carga de doença. (Leia também: “Como saber se você está com depressão”, e “Você sabe beber com moderação?”)
  3. Os transtornos músculo-esqueléticos, principalmente dor inespecífica nas costas e no pescoço, somam 9% da carga de doença.
  4. Os cânceres somam 8% da carga de doença. Esse percentual é distribuído entre vários tipos de câncer; os principais são os cânceres de pulmão, os cânceres de intestino grosso, e os cânceres de mama. (Leia também: “Mamografia aos 40 anos é controversa”, “Mamografia pode ser feita a cada 2 anos”, “Quando parar de fazer mamografia”, e “Autoexame das mamas faz mal à saúde”.)
  5. Os danos intencionais, devidos principalmente a agressão entre pessoas, somaram 7% da carga de doença. Essa carga de doença aumentou em 13% de 1990 a 2000, mas diminuiu em 7% de 2000 a 2010.
  6. O grupo formado por diabetes e outras doenças endócrinas, além de doenças do aparelho urinário e genital e doenças do sangue (como doença falciforme) somaram 7% da carga de doença. A carga de doença devida exclusivamente pelo diabetes foi de 3%, e essa carga aumentou em 13% entre 1990 e 2010. (Leia também: “Como prevenir o diabetes mellitus.”)
  7. Os transtornos neonatais, como as complicações do parto prematuro, têm origem quando a pessoa ainda é recém-nascida, somam 6% da carga de doença. Essa carga de doença diminuiu em 44% desde 1990.
  8. As doenças respiratórias crônicas, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema e bronquite crônica) e a asma, somam 5% da carga de doença. Essa carga de doença diminuiu em 31% desde 1990. (Leia também: “As doenças causadas pelo tabagismo passivo”, “Como parar de fumar” e “Como usar adesivos de nicotina para parar de fumar.”)
  9. A diarreia, as infecções respiratórias baixas (como pneumonia), a meningite e outras infecções ainda são responsáveis por 5% da carga de doença. Por outro lado, este grupo viu as maiores reduções em carga de doença desde 1990: 82% para diarreia, 59% para pneumonia, e 62% para meningite. Em 1990, este grupo tinha a segunda maior carga de doença, atrás apenas das doenças cardiovasculares. (Leia também: “Saúde da Família diminui mortalidade infantil.”)
  10. Os danos relacionados ao transporte, como os acidentes de trânsito, são responsáveis por 4% da carga de doença. (Leia também: “Por que usar cinto de segurança no banco de trás?”.)

Quando analisamos apenas os anos vividos com incapacidade, os transtornos mentais e do comportamento assumem o primeiro lugar da lista, com 28% da carga de doença, seguidos pelos transtornos músculo-esqueléticos (22%) e as doenças respiratórias crônicas (7,2%). Por outro lado, quando analisamos apenas os anos de vida perdidos (por morte precoce), as doenças cardíacas e circulatórias voltam a ocupar o primeiro lugar da lista (24% da carga de doença), seguidas pelos cânceres (14%) e os danos intencionais (12%).

Essas médias escondem diferenças importantes entre homens e mulheres. O sexo masculino tem praticamente o dobro de anos de vida perdidos, em comparação ao “sexo frágil”! A diferença não está apenas nas chamadas causas externas, como os danos intencionais (741% a mais) ou os danos relacionados ao trânsito (376% a mais). Os homens também têm mais anos de vida perdidos por problemas como as doenças cardíacas e circulatórias (38% a mais), os cânceres (18,4% a mais) e até mesmo os transtornos do período neonatal (45% a mais).

Felizmente, a tendência é favorável tanto para homens quanto para mulheres. Descontando-se os efeitos do envelhecimento da população, quase todos os principais problemas de saúde do Brasil ou estão estáveis, ou estão diminuindo de forma importante. Isso é o resultado de uma série de fatores, desde melhorias no acesso aos alimentos e à água tratada até o desenvolvimento de novas formas de tratamento e a melhoria no acesso a serviços de saúde.

Ainda temos muito o que melhorar, mas é bom sabe que estamos no rumo certo!

A saúde dos brasileiros está melhorando ano após ano

De vez em quando ouço alguém reclamar que as pessoas estão cada vez mais doentes. Algumas pessoas falam até mesmo em uma epidemia de doenças não transmissíveis! Eu até concordo que as pessoas saudáveis (no sentido em que eu e os leitores usamos a palavra) têm sido transformadas em pacientes, na medida em que a medicina se preocupa com as causas das doenças, as causas das causas, e por aí em diante.

Mas, por outro lado, a expectativa de vida está aumentando década após década. Isso não pode ser tão ruim assim! Mesmo as pessoas que se sentem efetivamente doentes não reclamam de viver alguns anos a mais.

E as pessoas estão permanecendo ativas e sadias por cada vez mais tempo. Algumas décadas atrás uma mulher com 50 anos de idade seria considerada velha, mas hoje uma mulher dessa idade nem ao menos aceita ser chamada de “senhora”.

Taxa de mortalidade por cada doença crônica não transmissível, ajustada por idade, separadamente para homens e mulheres.

Mortalidade por doenças não transmissíveis ajustada por idade (Brasil, 1991-2010)

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Pessoas com sobrepeso vivem mais

Cientistas do CDC e do National Cancer Institute (Estados Unidos) e da Universidade de Ottawa (Canadá) fizeram uma revisão da literatura científica e analisaram em conjunto 141 estudos, envolvendo 2,9 milhões de pessoas, para avaliar a associação entre o grau de obesidade e a mortalidade. O resultado foi publicado na revista científica JAMA em 2 de janeiro deste ano. Mesmo agregando estudos que já vinham sido publicados há muitos anos, o resultado é surpreendente.

De fato, os obesos têm maior mortalidade que as pessoas com peso normal, mas as pessoas com sobrepeso (algo entre o peso normal e a obesidade) têm mortalidade menor, ou seja, têm maior expectativa de vida. Além disso, as pessoas com obesidade grau 1 (o mais leve) têm a mesma mortalidade que as pessoas com o peso normal. O aumento de mortalidade entre os obesos está concentrado nas pessoas com obesidade graus 2 e 3, ou seja, os mais gordos.

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Como a expectativa de vida evoluiu em 200 anos

Doutor Hans Rosling é estatístico e médico, e tem um programa de televisão onde apresenta a estatística de forma divertida. 200 países, 200 anos, 4 minutos é um vídeo em que o professor mostra como a saúde está ligada à economia, e como os países evoluíram nesses aspectos ao longo de 2 séculos.

O vídeo está em inglês e não tem legendas. Se quiser, preferir, leia as anotações a seguir antes de assistir ao vídeo.

  • Cada bola representa um país. Quanto maior a bola, maior a população. Quanto mais para cima, maior a expectativa de vida ao nascer. Quanto mais para a direita, maior a renda média da população. A cor indica o continente.
  • Em 1810 todos os países eram pobres e doentes. Apenas dois países tinham um expectativa de vida maior que 40 anos: Reino Unido e Holanda.
  • Ao longo do século 19 a revolução industrial melhorou em muito a renda em alguns países, principalmente na Europa. A expectativa de vida acompanhou. No resto do mundo, por outro lado, a situação continuou a mesma.
  • Os efeitos da 1ª Guerra Mundial, da Gripe Espanhola, da Crise de 1929, e da 2ª Guerra Mundial são marcantes.
  • Em 1948 a diferença entre os países atingiu seu máximo. O Brasil, que começou a melhorar em 1913, tinha superado a maioria dos países asiáticos e africanos, mas ainda estava pior que a maioria dos europeus.
  • As colônias europeias na África e na Ásia ganharam independência, e começaram a melhorar, tanto na economia quanto principalmente na expectativa de vida. O Brasil mudou para a parte mais rica e saudável do gráfico, mas continua não sendo exatamente um expoente.
  • Mesmo com a melhora geral, em 2009 ainda existiam grandes discrepâncias entre os países — e entre os países. A China, por exemplo, tem uma renda média e um nível de saúde semelhante ao Brasil, mas sua província Xangai tem condições mais semelhantes à Itália, enquanto outra província, Guizhou, está mais próxima do Paquistão.
  • A tendência para o futuro é de melhora, e com as novas tecnologias é possível que todos os países se tornem ricos e sadios.

E finalmente, o vídeo:

Muitas pessoas no Brasil têm a impressão de que o mundo está piorando. De fato, a violência no Brasil se tornou um problema seríssimo nas ultimas décadas. Mas, quando eu penso no aumento da expectativa de vida e nas condições de vida, fica muito mais fácil aceitar que as coisas estão melhorando, sim.

Mamografia pode ser feita a cada 2 anos

No artigo em que discuti os prós e os contras da mamografia a partir dos 40 anos de idade, falei o tempo todo em mamografia anual. De fato, tudo indica que nessa faixa etária a mamografia anual seja melhor que a bianual. Mas, no que diz respeito às mulheres com 50 anos de idade ou mais, a frequência ideal é alvo de uma nova discussão. O Inca recomenda mamografia a cada 2 anos, enquanto a Femama divulga que toda mulher deve fazer o exame anualmente.

Um estudo (em inglês) encomendado pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos reuniu uma série de pesquisas feitas até hoje, e chegou à conclusão de que fazer mamografia de 2 em 2 anos traz entre 67% e 99% do benefício de se fazer todo ano. Os riscos da mamografia, por outro lado, são proporcionais ao número de exames realizados, e não são nada desprezíveis.

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Mamografia aos 40 anos é controversa

Chegamos ao fim de mais um Outubro Rosa: vários monumentos públicos foram iluminados, e os meios de comunicação deram mais espaço para o combate ao câncer de mama. Este é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres (depois o câncer de pele não-melanoma), e está entre as 15 doenças que mais comprometem a saúde da mulher brasileira. A mamografia é o melhor exame para a detecção precoce, mas ainda existem controvérsias sobre quais mulheres devem fazê-lo, e com que frequência. Por isso, o Doutor Leonardo vai publicar uma série de quatro artigos sobre dúvidas no rastreamento do câncer de mama, expondo os prós e os contras de cada opção.

Mama sendo comprimida para obter imagem mamográfica ótima.

© Governo federal dos Estados Unidos da América (domínio público)

A maior polêmica, no Brasil e no resto do mundo, é se as mulheres com 40 a 49 anos de idade devem ou não ser submetidas ao exame. A Femama recomenda que todas as mulheres nessa faixa etária façam mamografia anualmente. O Inca, por outro lado, recomenda que a mulher só realize mamografia de rotina a partir dos 50 anos de idade, a não ser que tenha fatores de risco adicionais.

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Saúde da Família diminui mortalidade infantil

Duas semanas atrás, ao discutir a lista das principais doenças das crianças brasileiras, eu disse que a Saúde da Família (PSF) estava colaborando para a diminuição da mortalidade infantil, ou seja, em menores de um ano de idade, mas não mostrei qualquer estudo científico que justificasse a afirmação. Não que faltasse comprovação científica; pelo contrário. Achei melhor escrever um artigo só sobre o assunto, de tão importante que ele é.

A expansão da Saúde da Família tem contribuído com a queda da mortalidade em menores de um ano e em menores de 5 anos de idade, e o efeito é ainda maior se não considerarmos as mortes ocorridas no primeiro mês de vida, muitas das quais são inevitáveis. Em especial, a Saúde da Família contribui para a queda da mortalidade por pneumonia e diarreia, que são as duas maiores responsáveis pela carga de doença das crianças brasileiras.

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