Arquivo da tag: obesidade

Corrigindo… pessoas com sobrepeso vivem MENOS

Há quatro anos, divulguei uma descoberta contraintuitiva: pessoas com sobrepeso (IMC entre o recomendado e a obesidade) pareciam ter uma expectativa de vida maior do que aquelas com o peso dito normal. O estudo tinha concluído isso reunindo 141 pesquisas, com 2,9 milhões de participantes, então isso não era algo para se desconsiderar. O problema era que as principais doenças crônicas não transmissíveis são agravadas pelo sobrepeso (em comparação ao peso recomendado), de forma que os próprios autores do estudo admitiram a necessidade de examinar melhor do que é que essas pessoas estavam morrendo.

No fim das contas, o nó acabou sendo desatado de outra forma, através de um estudo ainda mais apurado, que contradisse as conclusões do anterior.

Gráfico de floresta para a razão de hazards para cada incrementos de 2,5 kg/m² no IMC, por sexo. Nadir em 22,5 a 25,0 kg/m², com aumento para ambos os lados.

Associação do índice de massa corpórea com a mortalidade geral, por sexo. © 2016 The Global BMI Mortality Collaboration. Distribuído sob a licença CC BY 4.0 Internacional.

Continue lendo

Adoçantes não parecem ser a solução para a obesidade

Refrigerantes e sucos industrializados são bebidas altamente processadas, e via de regra contêm altas doses de açúcares. Uma lata de 350mL dessas bebidas já atinge ou supera a quantidade máxima de açúcar adicionado recomendada para um adulto em um dia inteiro. Uma resposta da indústria alimentícia são as bebidas adoçadas artificialmente, que praticamente não contêm calorias, e assim deveriam ajudar a evitar a obesidade.

Pesquisadores do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos publicaram nesta terça-feira, na revista científica PLoS Medicine, um artigo analisando a efetividade das bebidas adoçadas artificialmente no combate à obesidade. Como os próprios autores resumem,

… a evidência disponível não dá suporte direto ao papel das bebidas adoçadas artificialmente na indução do ganho de peso ou em anormalidades metabólicas, mas também não demonstra consistentemente que essas bebidas sejam efetivas na perda de peso ou na prevenção de anormalidades metabólicas. A evidência do impacto dessas bebidas na saúde das crianças é ainda mais limitada e inconclusiva do que nos adultos.

Continue lendo

Os 10 maiores fatores de risco para a nossa saúde

No dia 31 de maio comemoramos o Dia Mundial sem Tabaco. E temos muito o que comemorar! A proporção de fumantes no Brasil diminui ano após ano, e o número de ex-fumantes já é maior do que o número de fumantes. Mesmo assim, o tabagismo ainda é o 5º fator de risco que mais prejudica a saúde do brasileiro. E quais os quatro fatores de risco mais importantes do que o tabagismo?

A lista dos os 10 maiores fatores de risco para a nossa saúde, que eu divulguei cinco anos atrás, foi atualizada em dezembro de 2012. Esse novo estudo de Carga Global de Doença foi um trabalho colossal, reunindo toda a informação disponível sobre 67 fatores de risco modificáveis e 291 doenças e outros agravos (por exemplo, agressões e acidentes), em todos os países do mundo.

Não apenas a nossa situação de saúde mudou muito, mas também os pesquisadores conseguiram acesso a mais dados, e a melhores técnicas de análise.

Este artigo substitui outro, publicado na terça-feira, 2 de junho de 2015.

Continue lendo

A saúde dos brasileiros está melhorando ano após ano

De vez em quando ouço alguém reclamar que as pessoas estão cada vez mais doentes. Algumas pessoas falam até mesmo em uma epidemia de doenças não transmissíveis! Eu até concordo que as pessoas saudáveis (no sentido em que eu e os leitores usamos a palavra) têm sido transformadas em pacientes, na medida em que a medicina se preocupa com as causas das doenças, as causas das causas, e por aí em diante.

Mas, por outro lado, a expectativa de vida está aumentando década após década. Isso não pode ser tão ruim assim! Mesmo as pessoas que se sentem efetivamente doentes não reclamam de viver alguns anos a mais.

E as pessoas estão permanecendo ativas e sadias por cada vez mais tempo. Algumas décadas atrás uma mulher com 50 anos de idade seria considerada velha, mas hoje uma mulher dessa idade nem ao menos aceita ser chamada de “senhora”.

Taxa de mortalidade por cada doença crônica não transmissível, ajustada por idade, separadamente para homens e mulheres.

Mortalidade por doenças não transmissíveis ajustada por idade (Brasil, 1991-2010)

Continue lendo

Pessoas com sobrepeso vivem mais

Cientistas do CDC e do National Cancer Institute (Estados Unidos) e da Universidade de Ottawa (Canadá) fizeram uma revisão da literatura científica e analisaram em conjunto 141 estudos, envolvendo 2,9 milhões de pessoas, para avaliar a associação entre o grau de obesidade e a mortalidade. O resultado foi publicado na revista científica JAMA em 2 de janeiro deste ano. Mesmo agregando estudos que já vinham sido publicados há muitos anos, o resultado é surpreendente.

De fato, os obesos têm maior mortalidade que as pessoas com peso normal, mas as pessoas com sobrepeso (algo entre o peso normal e a obesidade) têm mortalidade menor, ou seja, têm maior expectativa de vida. Além disso, as pessoas com obesidade grau 1 (o mais leve) têm a mesma mortalidade que as pessoas com o peso normal. O aumento de mortalidade entre os obesos está concentrado nas pessoas com obesidade graus 2 e 3, ou seja, os mais gordos.

Continue lendo

Dicas para você dormir melhor

Grande parte da população brasileira sofre de insônia: tem dificuldade para começar a dormir, acorda várias vezes ao longo da noite, ou tem dificuldade para voltar a dormir se acordar.

As consequências são melhor percebidas durante o dia: a pessoa fica sonolenta, especialmente em ocasiões de pouco movimento, como assistir à televisão, ficar parado no sinal vermelho no trânsito, ou num intervalo do trabalho ou do estudo. Com o envelhecimento e o adoecimento, a qualidade do sono vai ficando ainda pior.

Relógio despertador vermelho numa janela durante o amanhecer.

Uma das melhores formas de melhorar o sono, inclusive de quem tem outros problemas como o ronco, são as orientações a seguir, conhecidas como controle de estímulo:

Continue lendo

Saudável em Qualquer Tamanho: uma abordagem controversa da obesidade

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a obesidade é um dos fatores de risco modificáveis mais prejudiciais à saúde. O problema é que, na prática, poucas pessoas conseguem emagrecer e manter essa perda de peso a longo prazo. Dessa forma, faz sentido prestarmos atenção em abordagens alternativas como a Health at Every Size (HAES; em português: Saúde em Qualquer Tamanho), que faz uma opção explícita por promover um estilo de vida saudável sem emagrecimento.

Mulher gorda bonita

O diferencial da HAES está nas seguintes propostas:

  • Aceitação do corpo — As pessoas são encorajadas a aceitar seus corpos como são, em vez de perseguirem um corpo mais magro.
  • Suporte à alimentação intuitiva — As pessoas são encorajadas a observar a relação entre o que comem e como elas se sentem a curto e médio prazo, e usar esse conhecimento para determinar o que vão comer, em vez se seguir regras “externas”.
  • Suporte à incorporação ativa — As pessoas são estimuladas a incorporar a atividade física ao seu dia-a-dia, tendo em vista o auto-cuidado e o bem-estar, em vez de desenvolver programas estruturados de exercícios físicos.

De acordo com os adeptos da HAES, a obesidade não causa adoecimento ou mortalidade, a não ser em casos extremos. Desconfio que essa ruptura com o consenso científico atual agradará muito às pessoas que desconfiam das instituições de uma forma geral, bem como às pessoas que estão cansadas de fazer dieta. Por isso mesmo, resolvi resumir os principais estudos que se propuseram a verificar a eficácia e a efetividade da abordagem HAES.

Continue lendo

Emagrecer para prevenir a hipertensão: eficácia e efetividade

Pesquisadores do Trials of Hypertension Prevention Research Group conduziram uma pesquisa de grande porte para avaliar melhor a eficácia e a efetividade do emagrecimento na prevenção da hipertensão arterial. Mais de mil pessoas com sobrepeso ou obesidade e com pressão arterial maior que 12 por 8 mas menor que 14 por 9 foram sorteadas entre receber ou não uma intervenção de alta intensidade para a perda de peso, incluindo informações nutricionais, incentivo à atividade física, técnicas de gerenciamento do próprio comportamento, e suporte social.

Feira em Munique.

A pesquisa comprovou que emagrecer é uma forma eficaz de prevenir a hipertensão arterial: as pessoas que perderam 4,5kg ou mais e mantiveram essa perda de peso até o fim da pesquisa tiveram um risco 65% menor de desenvolver hipertensão. O problema é que apenas 13% das pessoas atingiram essa meta.

Continue lendo

Ter uma saúde perfeita não é normal

Quase 2 mil norte-americanos de meia-idade responderam a um questionário sobre o quão saudável era seu estilo de vida. O resultado é ainda pior do que se esperava: apenas um, dos 1933 entrevistados, apresentava os 7 componentes de uma vida saudável do ponto de vista cardiovascular (cardíaco e circulatório). Em média, os brancos tinham 2,6 componentes do estilo de vida saudável, enquanto os negros estavam ainda pior, com uma média de apenas 2,0 componentes.

Radiografia de tórax, com o espaço dos pulmões em vermelho.

A pesquisa é melhor entendida no contexto do projeto da American Heart Association: Até 2020, melhorar a saúde cardiovascular de todos os [norte-]americanos em 20%, reduzindo em 20% as mortes cardiovasculares e por derrame. Para fins desse projeto, a saúde cardiovascular (do coração e da circulação) é medida através do cumprimento dos 7 critérios a seguir:

Continue lendo

Pílula anticoncepcional não engorda

Grande parte das mulheres (e dos médicos em geral) acredita que os anticoncepcionais engordam. Esse é um fenômeno que acontece no mundo inteiro, e que ainda por cima é uma causa importante de interrupção do uso do método contraceptivo.

Pílulas anticoncepcionais

Pesquisadores da Cochrane Collaboration revisaram os estudos clínicos que abordaram a questão, e descobriram que apenas três estudos compararam o anticoncepcional com o placebo. Em todos os três estudos, o ganho de peso das mulheres que usaram a pílula ou adesivo foi igual ao ganho de peso das que usaram o placebo.

Continue lendo