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Qual é a novidade sobre carne processada e câncer?

Semana passada a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), que é o órgão da Organização Mundial da Saúde dedicado ao câncer, publicou uma nota à imprensa sobre o papel da carne processada e da carne vermelha na causa do câncer, além de uma nota na revista científica The Lancet Oncology.

Quatro embutidos fatiados

© Kent Wang (CC BY-SA 2.0)

Essa nota do IARC repercutiu nos meios de comunicação, e uma das coisas que mais se repete é que a carne processada agora está no mesmo grupo que o cigarro. Não, a carne processada não causa câncer com a mesma potência do cigarro! A novidade é que agora o IARC tem certeza de que tanto a carne processada quanto o cigarro são algumas das causas de câncer.

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Sal de menos parece fazer mal à saúde

Todo o mundo sabe que, quanto maior o consumo de sal, maior a pressão arterial; e que, quanto maior a pressão arterial, maior o risco de doenças cardiovasculares como o infarto e o derrame, que são algumas das principais causas de morte e incapacidade do Brasil e no mundo. Além disso, está claro que o controle da pressão arterial com medicamentos diminui o risco de doenças cardiovasculares e das mortes causadas por elas. No entanto, apesar da diminuição do consumo de sal melhorar a pressão arterial, nenhum estudo até hoje mostrou diretamente que a diminuição do consumo de sal previne as doenças cardiovasculares (cardíacas ou do resto do aparelho circulatório).

Essa é uma das questões abordadas pelo estudo Epidemiológico Prospectivo Urbano e Rural (“PURE”, do inglês Prospective Urban and Rural Epidemiologic). Iniciado em 2002, Esse estudo observou mais de cem mil pessoas, em várias dezenas de comunidades, tanto na área urbana quanto na rural, em países de todos os continentes e com todos os níveis de renda, inclusive o Brasil. O artigo sobre a relação entre o consumo de sal e as doenças cardiovasculares, publicado no New England Journal of Medicine, foi tão surpreendente que eu demorei um ano para trazer a novidade a vocês, para ter certeza de que eu tinha mesmo entendido a mensagem.

Três gráficos mostrando uma relação em jota

Relação entre o sódio e as chances da pessoa (A) morrer por qualquer causa ou sofrer um evento cardiovascular maior (desenvolver infarto, derrame ou insuficiência cardíaca, ou morrer por qualquer causa cardiovascular); (B) morrer por qualquer causa; e (C) sofrer um evento cardiovascular maior. Cada 1 grama de sódio excretado equivale a 2,5 gramas de sal consumidos. Fonte: New England Journal of Medicine 2014;371:612-623.

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Espírito Santo proíbe saleiro na mesa de bares e restaurantes

Nesta semana começa a valer a Lei Estadual nº 10.369, de 22 de maio de 2015, que proíbe bares, restaurantes e similares de expor saleiros e sachês de sal sobre suas mesas e balcões. Algumas pessoas estão revoltadas com a Lei, e falam em despropósito, paternalismo e até ditadura. Eu mesmo fui surpreendido, e só fiquei sabendo da Lei um mês depois dela ter sido publicada. Mesmo assim, não tenho uma visão tão negativa sobre ela.

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Vitória discute restringir horário de funcionamento de bares

Na última segunda-feira, dia 11 de maio de 2015, a Câmara Municipal de Vitória realizou uma audiência pública para discutir a restrição do horário de funcionamento de bares (além da proibição de sua abertura próxima a escolas). Esse tipo de projeto de lei pode render discussões extensas sobre quando e como legislar sobre o comportamento humano. Por isso mesmo, vou focar em uma única questão: funciona?

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Ultrassom prejudica o cérebro do bebê?

O sempre antenado médico de família e comunidade Ronaldo Zonta chamou a atenção para uma coluna da Folha de São Paulo onde a neurocientista Suzana Herculano-Houzel alerta para um risco do ultrassom realizado durante a gravidez:

[…] Pasko Rakic, um dos maiores especialistas mundiais no desenvolvimento do sistema nervoso, […] descobriu que, aplicada a camundongas gestantes em condições comparáveis às dos exames feitos com mulheres grávidas, a ultrassonografia tem o potencial de perturbar a migração dos neurônios que formarão o cérebro dos filhotes. Quanto maior o tempo de exposição, maior a porcentagem de neurônios que se perdem ao longo do trajeto de migração do local onde eles nascem até seu destino no córtex cerebral. A porcentagem sobe de 5% nos animais controle para 19% em animais expostos ao ultrassom por sete horas, o maior tempo testado no estudo. […]

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Saúde da Família previne mortes por infarto e derrame

No início do ano eu tinha comentado que, ao longo de 20 anos, a mortalidade por doenças cardiovasculares diminuiu em 33% no Brasil. Na época, associei a melhoria à expansão da estratégia Saúde da Família, com base na experiência internacional de melhoria das condições de saúde quando as pessoas têm acesso à atenção primária à saúde, e com base no fato do derrame (AVC) ter caído de primeira para segunda causa de morte no Brasil. (O derrame é ainda melhor prevenido pelo controle da pressão arterial do que o infarto cardíaco.)

Em julho a revista científica The BMJ publicou um artigo de pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos confirmando a minha suposição. Examinando vários dados de 1622 municípios brasileiros ao longo dos anos 2000 a 2009, os autores observaram que a cobertura de 70% ou mais dos moradores de um município num ano predizia, para o ano seguinte, uma redução em 18% na taxa de morte por derrame, e 21% na taxa de morte por infarto, em comparação ao que seria esperado se o município não implementasse a estratégia Saúde da Família. Melhor ainda: esse efeito parece aumentar com o tempo. Em 2009, os municípios que durante oito anos tinham mantido uma cobertura de 70% ou mais apresentaram taxas de derrame e infarto 31% e 36% menores do que o que seria esperado sem a estratégia Saúde da Família.

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Como cortar o sal sem sofrimento

Um tempo atrás eu estava contando que a redução do sal dos alimentos industrializados consumidos por toda a população diminuiria o número de derrames (AVC) e infartos mais ou menos tanto quanto o tratamento medicamentoso das pessoas consideradas hipertensas. Melhor ainda, o governo federal fechou um acordo com a indústria alimentícia para reduzir pela metade o sal dos alimentos industrializados ao longo de 10 anos.

O problema, eu dizia, é que a maioria do sal consumido pelos brasileiros não vem de alimentos industrializados, mas sim de sal e temperos prontos acrescentados à comida feita em casa, seja na panela, seja no prato. Quem vai ao médico costuma ouvir que é necessário tirar o sal da comida. Mas quem é que consegue mesmo fazer isso?

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Cirurgia de catarata aumenta risco de quedas em idosos

A catarata e as quedas são alguns dos maiores, e mais frequentes, problemas de saúde entre os idosos. Nós profissionais de saúde costumamos pesquisar a baixa acuidade visual entre os idosos e encaminhar ao oftalmologista, pensando especialmente na prescrição de óculos para a presbiopia (vista cansada) e na cirurgia para os casos mais avançados de catarata.

Mature cataract.

A cirurgia de catarata é uma das intervenções médicas com maior resultado em termos de qualidade de vida: é uma das raras situações em que podemos efetivamente curar a cegueira. Por isso mesmo, acreditava-se que a cirurgia para catarata seria uma ótima forma de se prevenirem as quedas.

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Como tirar cera do ouvido

Todo o mundo tem cera no ouvido. Ela evita infecções, e espanta os insetos. Mesmo assim, muita gente tem o costume de tirar cera do ouvido, com objetos pontiagudos ou cotonete (de qualquer marca). O problema é que, além de aumentar o risco de otites externas, esse costume aumenta as chances da pessoa ter o ouvido entupido.

Se é assim, como é que se deve tirar a cera do ouvido? Simples: não tire. A cera sai sozinha. Basta passar o dedo no ouvido para tirar a cera que já saiu.

Por outro lado, quando a pessoa já está com o ouvido entupido, a cera não sai sozinha: é preciso fazer uma lavagem de ouvido. Muitas pessoas têm dificuldade em conseguir esse procedimento, especialmente no SUS, e por isso daqui a alguns dias eu vou explicar como fazer lavagem de ouvido em casa. Aguardem!

Repelente de mosquito aumenta risco de picada em pessoas desprotegidas

Os meses de março e abril são o pico de circulação da dengue, e também dos comerciais de repelentes de mosquito. Os repelentes são eficazes em nível individual, mas não em nível coletivo, porque não dá para todo o mundo usar o tempo todo. E em nível de família, que fica no meio termo entre pessoa e comunidade?

Pesquisadores da London School of Hygiene and Tropical Medicine avaliaram o efeito do repelente de mosquito sobre as pessoas que não usam o repelente. Foram usadas duas formulações, uma natural (citronela), e outra sintética (dietiltoluamida). Ambas são eficazes em quem as usa, e por isso causaram ainda mais picaduras em pessoas próximas que não tinham usado o repelente.

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