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É melhor usar camisinha o ano inteiro

Estamos naquela época do ano de novo. As pessoas se divertem como se o mundo fosse realmente acabar em 2012, e enquanto isso o Ministério da Saúde tenta convencê-las a pelo menos usar camisinha.

Mas por que concentrar as propagandas no Carnaval? O número de atendimentos a doenças sexualmente transmissíveis (DST) não aumenta em seguida ao Carnaval, e (convenhamos) a propaganda não é tão efetiva assim. Além disso, há muito tempo já se sabe que, para se proteger contra as DST, é necessário usar camisinha não apenas de forma correta, mas também de forma consistente, ou seja, em todas ou quase todas as relações sexuais.

Boca de balões de festa, parecendo camisinhas desenroladas.

As propagandas dão muito destaque ao HIV, que todo o mundo já sabe que causa AIDS e pode ser transmitido por relações sexuais desprotegidas, mas pouco se fala das outras doenças que a camisinha previne — inclusive o câncer de colo de útero.

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Adeus, Sócrates

Confesso que não me lembro de Sócrates jogando. De certa forma, isso faz dele um jogador ainda maior, já que só o conheço como lenda. Mas acompanhei nos últimos anos sua coluna, interessantíssima, na revista CartaCapital, e fiquei feliz em saber que Sócrates se formou médico na USP de Ribeirão Preto, onde fiz residência médica e mestrado. A Wikipédia tem uma foto do Sócrates participando de uma manifestação pelas Diretas Já, em frente a um hotel da cidade, hoje desativado; lembro-me muito bem do teatro e da choperia que ficam ao lado, bem como da praça em frente.

Outra surpresa, essa já mais desagradável, foi quando fiquei sabendo de sua internação em agosto. Já dava para saber que Sócrates estava na marca do pênalti, com o perdão do trocadilho. Depois de sua alta hospitalar, ele deu uma entrevista em que ficou clara a sua preocupação didática. Ele tinha consumido bebidas alcoólicas em excesso durante muito tempo, e não queria que outras pessoas seguissem seus passos.

Sócrates foi um atleta de ponta, médico e artista. Tinha suas finanças em dia, e gostava mais de cerveja do que de cachaça. Bem diferente da imagem que as pessoas fazem de um “alcoólatra”. Imagine então a dificuldade que as pessoas têm em identificar o consumo potencialmente nocivo, que é quando a pessoa está bebendo em excesso mas ainda não sofreu consequências negativas. Esse é o momento ideal para a prevenção, e é por isso que escrevi no começo do ano o artigo Você sabe beber com moderação?.

Gravidez na adolescência é causada por trauma de infância

De acordo com o IBGE, 5,5% das adolescentes com 15 a 17 anos de idade já tiveram um ou mais filhos. Não estou aqui para dizer se uma adolescente pode ou deve ter filhos, mas vários estudos mostram que uma gravidez na adolescência pode trazer uma série de consequências negativas tanto para a mãe quanto para o filho. É impressionante como uma garota pode engravidar sem querer, com tanta facilidade de informação e acesso a métodos de planejamento familiar (camisinha, pílula etc.), ou como uma garota possa decidir engravidar e assim prejudicar seu futuro nos estudos e no trabalho.

Quando lidamos com os adolescentes, vemos que a realidade é muito mais complexa. Poucas vezes a gravidez pode ser considerada como um acidente completo; muitas vezes o casal sabia que corria o “risco” de engravidar, ou então a gravidez foi mesmo planejada. O frequente abandono dos estudos pode não parecer importante para a adolescente, e às vezes a ordem é inversa: primeiro a adolescente abandona os estudos, e depois engravida. O namoro, união estável ou casamento com uma pessoa já estabelecida profissionalmente pode ser um motivo para a adolescente abandonar os estudos, ou pelo menos não abortar em caso de gravidez acidental. Por fim, uma gravidez pode significar para a adolescente um meio de ganhar prestígio social, ou mesmo de sair de uma família inadequada.

Fotografia da barriga de um gestante, a partir do chão.

Na década de 90, o CDC realizou, em convênio com o plano de saúde Kaiser Permanente, um estudo com 17 mil pessoas adultas, examinando a relação entre o estado de saúde atual e uma série de traumas de infância (e adolescência), conhecidos tecnicamente como experiências adversas na infância. Os traumas de infância estudados incluem maus-tratos físicos (bater não educa!), emocionais e sexuais, negligência emocional ou física, e o testemunho de problemas familiares como agressão física da mãe, uso de drogas (inclusive álcool) por alguém da casa, adoecimento mental de alguém da casa, divórcio ou separação dos pais, ou envolvimento de familiares em crimes.

O grupo confirmou que os traumas de infância estão associados a um comportamento menos saudável e a mais problemas de saúde. Ano passado eu já tinha listado as principais doenças da mulher e do homem brasileiros, bem como os principais fatores de risco (da mulher e do homem) que levam essas pessoas a adoecer; o terceiro elo dessa cadeia seriam os traumas de infância.

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O exame pode não ter salvado a sua vida

O câncer ainda é uma doença que inspira terror. Algumas pessoas simplesmente se recusam a falar seu nome, preferindo dizer “aquela doença”. Quando a gente fala em câncer, o que vem à mente é uma pessoa saudável que começou a sentir algo e, depois de uma avaliação médica, descobriu que terá poucos e dolorosos meses de vida pela frente. Por isso, quando uma pessoa descobre um câncer num exame de rotina, é compreensível que ela acredite que o exame tenha salvo sua vida.

Acontece que muitos tipos de câncer simplesmente não são tão letais assim. Se a pessoa com câncer não fizer o exame, corre um risco razoável de morrer — por outra causa — sem saber que tinha a doença. E, se o câncer for pouco agressivo, fazer o diagnóstico com anos de antecedência pode fazer pouca diferença nas chances de cura. (Repare que estou falando em anos, e não em estágio clínico.) Além disso, alguns exames são capazes de dizer qual é o grau de agressividade do câncer, mas nunca é possível ter certeza se o tumor vai ou não matar a pessoa.

Mama sendo comprimida para obter imagem mamográfica ótima.

No caso do câncer de mama, um estudo recém-aceito pela revista Annals of Internal Medicine calculou qual é a chance, para uma mulher que descobriu o câncer de mama num exame de rotina, de que a mamografia tenha realmente salvado a sua vida.

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Horário de verão: faça seu estoque de sono!

O horário de verão vai começar neste fim de semana: na meia-noite entre o sábado e o domingo, as pessoas deverão adiantar o relógio em uma hora. O início do horário de verão parece aumentar os acidentes de trabalho, mas se você pode começar a se prevenir hoje mesmo.

Mulher caída sobre um colchonete, dormindo à luz do dia.

As pessoas que se acidentam no início do horário de verão dormiram, em média, 40 minutos a menos na noite anterior. Então a solução mais simples é dormir no horário correto no domingo. Mas, se você preferir aproveitar o fim de semana até o último minuto, existe uma alternativa: fazer um estoque de sono.

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Onde está a epidemia de doenças crônicas não transmissíveis?

Todo o mundo sabe que a presidenta Dilma Rousseff foi a primeira mulher a abrir uma sessão da Assembleia Geral da ONU. Mas para nós, da saúde, essa 66ª sessão teve outro diferencial, ainda mais importante: o comprometimento da ONU com o enfrentamento das doenças não transmissíveis, como diabetes mellitus, derrame, infarto, asma, enfisema e câncer.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vinha promovendo o enfrentamento das doenças não transmissíveis, e é daí que vêm iniciativas como a redução do sal e do açúcar dos alimentos industrializados, a proibição da condução de veículos por pessoas embriagadas, e os altos impostos sobre os cigarros.

Mas o combate às doenças não transmissíveis também exige o compromisso de todos os setores. Para termos uma alimentação saudável, por exemplo, é preciso ter acesso a alimentos saudáveis de forma conveniente e a um baixo custo, ao longo de todo o ano. Colocando em outros termos, para termos uma população brasileira saudável, não basta o compromisso do ministro da saúde; é preciso que a presidência vista a camisa.

De uma forma geral, a declaração política (em inglês) foi muito equilibrada, mas eu não poderia deixar de destacar uma expressão que, infelizmente, muitas pessoas levam a sério demais: epidemia.

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Quando fazer o exame preventivo de câncer de colo de útero

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) publicou a versão 2011 de suas Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo de Útero. Acredito que as recomendações serão novidade para a maioria dos leitores, então reuni as informações mais importantes sobre quando começar e parar de fazer exames para a prevenção e detecção precoce do câncer de colo uterino:

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Cálcio e vitamina D só previnem fraturas em idosos no asilo?

A osteoporose não dói, mas aumenta silenciosamente o risco de fraturas espontâneas ou por quedas da própria altura. Por isso, cientistas do Reino Unido ligados à Colaboração Cochrane realizaram uma revisão sistemática das pesquisas que abordaram a eficácia dos suplementos de cálcio e vitamina D sobre o risco de fratura por osteoporose.

Fotografia de vidro quebrado contra o sol

Duas pesquisas, realizadas em asilos franceses, tiveram resultados realmente animadores. Os idosos que usaram o suplemento tiveram um risco 25% menor de fraturas de quadril, que são justamente as fraturas com maior impacto sobre a mobilidade e a expectativa de vida.

Já os estudos realizados na comunidade não encontraram benefício algum. Foram 6 pesquisas, envolvendo 43 mil pessoas, a maioria delas de alto risco (por exemplo, antecedente de fratura espontânea), e mesma assim não foi comprovada diferença entre as fraturas com e sem suplementos. Isso vale tanto para as fraturas de quadril quanto para as outras, como as de coluna vertebral.

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Suplementos com cálcio parecem causar infarto

O British Medical Journal publicou, em 2010 e 2011, dois estudos que revisaram o efeito dos suplementos de cálcio, com ou sem vitamina D, sobre o risco de infarto agudo do miocárdio e AVC (derrame). Foram incluídas 9 pesquisas, com mais de 28 mil homens e mulheres de meia-idade e idosos; o risco de infarto se mostrou 24% maior entre as pessoas que tomavam suplementos com cálcio.

Pó de carbonato de cálcio sobre um prato transparente, sobre um fundo negro.

No primeiro estudo, que abordou apenas os suplementos de cálcio sem vitamina D, foi possível ainda analisar a influência do cálcio da alimentação. As pessoas cuja alimentação continha mais de 800mg de cálcio por dia tiveram um aumento de 85% em seu risco de infarto com o uso dos suplementos; já as pessoas com dieta pobre em cálcio podiam usar os suplementos sem risco adicional. Essa diferença é ainda mais importante ao considerarmos que uma alimentação com 800mg de cálcio por dia é o suficiente para minimizar fraturas de osteoporose. Com uma ingestão diária maior do que 800mg, o risco de fratura continua o mesmo, e talvez até aumente.

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Prevenção de fratura por osteoporose: bastam 800mg de cálcio por dia

Pesquisadores da Suécia seguiram mais de 60 mil mulheres durante 19 anos, e avaliaram a relação entre o consumo de cálcio nos alimentos (poucas mulheres usavam suplementos de cálcio e/ou vitamina D) e o risco de fratura ou osteoporose. A conclusão, publicada este ano no British Medical Journal, é que as mulheres de meia-idade que ingerem cálcio acima da média apresentam um risco de osteoporose e fratura igual (ou maior) ao das com uma ingestão média.

Gráfico do risco ajustado de fratura osteoporótica de quadril, em função da ingestão diária de cálcio, usando 800mg como referência.

Mulheres que ingeriam menos de 750 mg de cálcio por dia tiveram um risco 32% maior de sofrer uma ou mais fraturas de quadril, e um risco 47% maior de desenvolver osteoporose. Essas eram as mulheres para as quais um consumo adequado de vitamina D também diminuía o risco de fratura.

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