As doenças causadas pelo tabagismo passivo

O Doutor Leonardo está publicando uma série de quatro artigos semanais em comemoração ao Dia Mundial sem Tabaco 2010, e o primeiro artigo foi 10 motivos para fumar. As pessoas podem até estranhar que um médico divulgue as razões que alguém pode ter para fumar, mas na verdade não se trata de propaganda de cigarro, e sim de explicar como alguém pode fumar mesmo a gente sabendo hoje em dia que faz mal.

Fumaça tóxica

Fonte: INCA (divulgação)

Defendo firmemente que cada pessoa, desde que maior de idade e livre de deficiência mental, tenha direito a escolher se quer fumar ou não. É claro que, enquanto médico de família e comunidade, sou obrigado a informar as pessoas dos riscos envolvidos, e a oferecer ajuda para que as pessoas consigam parar de fumar, mas a decisão de parar ou não de fumar deve ser individual. O outro lado da moeda é que as pessoas também têm o direito a não fumar, e, da mesma forma que os não fumantes devem respeitar o direito de fumar, os fumantes devem respeitar o direito de não fumar.

As informações a seguir foram simplificadas, para facilitar a leitura, e os números foram omitidos. Para cada doença citada abaixo, os riscos são 10% a 150% maiores entre os tabagistas passivos que entre os não fumantes, e quanto maior a exposição à fumaça do tabaco, pior. Se algum leitor for profissional de saúde e estiver interessado nos estudos de onde obtive os dados, basta entrar em contato comigo e indicarei minhas fontes com o maior prazer. Para o público geral, basta saber que as informações abaixo não são meras possibilidades, mas sim fatos comprovados com o melhor da ciência moderna.

Os riscos do tabagismo passivo começam antes da pessoa nascer. Não apenas as grávidas fumantes têm mais complicações nas suas gravidezes, mas também o tabagismo passivo da grávida aumenta o risco de malformações congênitas, ou seja, do bebê nascer com defeito, além de aumentar o risco de baixo peso ao nascer, o que por sua vez aumenta muito o risco de outras complicações para o recém-nascido. Além disso, o tabagismo passivo da gestante aumenta a chance da criança vir a desenvolver asma, e mesmo entre as crianças sem asma a função pulmonar é menor caso a mãe tenha sido exposta ao tabaco.

O risco de asma, entretanto, não se restringe ao tabagismo passivo durante a gravidez. Crianças e adolescentes expostos à fumaça do cigarro em casa têm mais risco de desenvolver asma, e caso tenham asma, têm crises mais frequentes que as crianças e adolescentes que não são fumantes passivos.

Para ficar ainda na parte respiratória, bebês fumantes passivos têm mais risco de, literalmente, morrer de repente. Em termos técnicos, o tabagismo passivo é uma das principais causas de morte súbita do lactente. A exposição à fumaça do tabaco também aumenta o risco de uma criança menor de 4 anos de idade ter uma pneumonia bacteriana ou viral, ou de ter otite média (aguda ou crônica), que é uma infecção dentro do ouvido.

O aparelho respiratório dos adultos também sofre, e muito, com o tabagismo passivo. Adultos expostos à poluição do tabaco têm maiores chances de desenvolverem asma, ou de ter pneumonia grave. Além disso, o tabagismo passivo está associado ao desenvolvimento de tuberculose, câncer de pulmão, e aquilo que chamamos tecnicamente de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC para os íntimos), que é a mistura de enfisema pulmonar e bronquite crônica.

A poluição do ambiente pela fumaça do tabaco também aumenta as chances de um adulto ter doença cardíaca coronariana, que envolve desde a angina até o infarto agudo do miocárdio. Detalhe que a doença cardíaca coronariana é a segunda maior causa de morte no Brasil; a primeira é o derrame cerebral (acidente vascular cerebral, ou AVC para os íntimos), que também é mais frequente entre os tabagistas passivos que entre os não fumantes.

O resultado disso é demorou algum tempo até os cientistas entenderem a relação entre o tabagismo passivo e o mal de Alzheimer. Na verdade, a exposição à fumaça do tabaco aumenta o risco da pessoa desenvolver a doença, mas, quando as pessoas já doentes são estudadas, essa relação não é tão aparente assim. É possível que os fumantes passivos morram mais cedo que os não fumantes, equilibrando as chances de desenvolver a doença.

A fumaça que vem da queima do tabaco é um dos principais componentes da poluição do ar, especialmente em ambientes fechados. E quando eu digo fechado, isso não significa apenas janelas fechadas ou sem ventilador. Até mesmo um simples toldo atrapalha a dispersão da fumaça (por isso áreas de churrasqueira têm chaminé), e a velocidade do vento necessária para retirar toda a poluição de um ambiente fechado seria semelhante à de um furacão, e não à de um ventilador. A exposição à fumaça do tabaco, ou seja, o tabagismo passivo, afeta não apenas o próprio fumante, mas também seus parentes e seus colegas de trabalho. Além disso, permitir aos clientes que fumem em aviões, bares, hoteis e outros estabelecimentos expõe os funcionários à poluição ambiental do tabaco.

De um ano para cá a realidade do tabagismo passivo melhorou muito. A lei federal nº 9294 já proibia o fumo em ambientes fechados coletivos, mas pela falta de detalhamento era inviável fiscalizar os ambientes. Ano passado vários estados brasileiros adotaram leis contra o tabagismo passivo, definindo melhor as medidas que os ambientes devem adotar para evitar que os não fumantes sejam expostos à fumaça do tabaco, e estipulando multas para donos de estabelecimentos que permitam o fumo em área indevida.

Estudos internacionais comprovam que esse tipo de legislação é capaz de diminuir as chances de um não fumante adoecer, e no Brasil minha impressão é que os resultados também são positivos. Hoje em dia é possível frequentar uma festa sem chegar em casa com cheiro de cigarro, e praticamente não é mais necessário pedir às pessoas que deixem de fumar em restaurantes, ônibus e outros lugares fechados. Naturalmente, isso é o que eu percebi, no estado do Espírito Santo. E os leitores, o que será que perceberam de mudança com as leis de combate ao tabagismo passivo no ano passado?

Confira a série de artigos em comemoração ao Dia Mundial sem Tabaco 2010:

8 pensou em “As doenças causadas pelo tabagismo passivo

    1. Leonardo Fontenelle Autor do post

      Guida, o Doutor Leonardo não é escrito para adolescentes, digo, não é escrito para crianças. Aprecio seu interesse no assunto, e agradeço a visita, mas concordo com você que para alunos de sexta a oitava série seria melhor uma abordagem diferenciada.

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  1. Pingback: Por que os homens morrem mais cedo? | Doutor Leonardo

  2. Cristiane O.V.F.

    Muito importante, esse artigo do Doutor Leonardo.
    Meu pai é fumante desde os 18 anos. Hoje tem 64 anos, está com Mal de Alzeimer, Efizema Pulmonar e Tuberculose. É muito triste vê-lo nessa situação e ainda ver que eu, minha mãe e irmãos somos todos cô-fumantes junto com ele.
    O cigarro e o álcool matam as pessoas ainda em vida.. e a sociedade parece que não vê!!!

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  3. julio belo

    Meu sonho é ver minha mãe parar de FUMAR!!!
    FICO MUITO TRISTE VENDO ELA USANDO UMA SUBSTANCIA KE VAI MATANDO ELA AOS POUCOS, FORA O RISCO MUITO GRANDE DE DESENVOLVER DOENÇAS COMO O CANCER E OUTRAS….

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  4. Renata Fraia

    Bom dia doutor! Tudo bem? Excelente o seu artigo. Vc mencionou que os prof de saúde poderiam solicitar as fontes do estudo, certo? Sou farmacêutica e jornalista e estou fazendo uma matéria a respeito desse tema e gostaria de obter essas fontes. Pode ser? Vou te enviar um e-mail, verifique se ele foi pra caixa de spam! (Renata Fraia)

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    1. Renata Fraia

      Acabei de ver que não há um e-mail para entrar em contato e o formulário de contato foi desativado. Se puder, doutor, coloque as fotos aqui ou me envie um e-mail (acho q ele aparece para o senhor, certo?) Obrigada, abraços!

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