Arquivo mensais:dezembro 2017

Doutor é quem tem doutorado?

Na minha opinião, a pessoa se recusar a chamar um médico de doutor é tão tolo quanto o médico exigir ser assim chamado. Sempre fiz questão de que outros profissionais da equipe me chamassem pelo primeiro nome, e nunca coloquei “Dr.” no carimbo. Já tive pacientes me chamando de “você”, “senhor”, “doutor” ou “professor”, sempre mantendo uma ótima relação, sem a agressividade que parece vir casada com a tirada “doutor é quem tem doutorado”. Só me chamo de “doutor” em raras situações, quando preciso comunicar rapidamente que sou médico, como no título deste blog ou em ligação telefônica a respeito de paciente. E isso funciona, porque em nossa sociedade chamar alguém de “doutor” é mais ou menos a mesma coisa que dizer que essa pessoa é médica, especialmente em um serviço de saúde.

Diálogo entre duas personagens do seriado Friends.

Ross: “Eu sou doutor Ross Geller.”
Rachel: “Ross, por favor, isto é um hospital, OK? ‘Doutor’ realmente significa algo aqui.”

Quem discordar pode me chamar de “doutor” mesmo assim. Há poucos dias o colegiado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel homologou minha defesa da tese! Um dos artigos já foi publicado pelos Cadernos de Saúde Pública e outro já foi aceito para publicação pela Revista de Saúde Pública, além do terceiro, que estou melhorando antes de submeter a uma revista.

Corrigindo… pessoas com sobrepeso vivem MENOS

Há quatro anos, divulguei uma descoberta contraintuitiva: pessoas com sobrepeso (IMC entre o recomendado e a obesidade) pareciam ter uma expectativa de vida maior do que aquelas com o peso dito normal. O estudo tinha concluído isso reunindo 141 pesquisas, com 2,9 milhões de participantes, então isso não era algo para se desconsiderar. O problema era que as principais doenças crônicas não transmissíveis são agravadas pelo sobrepeso (em comparação ao peso recomendado), de forma que os próprios autores do estudo admitiram a necessidade de examinar melhor do que é que essas pessoas estavam morrendo.

No fim das contas, o nó acabou sendo desatado de outra forma, através de um estudo ainda mais apurado, que contradisse as conclusões do anterior.

Gráfico de floresta para a razão de hazards para cada incrementos de 2,5 kg/m² no IMC, por sexo. Nadir em 22,5 a 25,0 kg/m², com aumento para ambos os lados.

Associação do índice de massa corpórea com a mortalidade geral, por sexo. © 2016 The Global BMI Mortality Collaboration. Distribuído sob a licença CC BY 4.0 Internacional.

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