Janaúba é uma cidade no norte de Minas, com cerca de 70 mil habitantes. O clima é semiárido, expondo a cidade a secas periódicas. O PIB per capita da cidade é um terço do nacional, e apenas 4% da população tem plano de saúde. Mesmo sendo uma das cidades mais pobres de Minas Gerais, Janaúba conseguiu fazer a mortalidade infantil cair, de 1998 a 2007, de 33 óbitos por 1000 nascidos vivos para apenas 4 — o menor índice da América Latina. Quando a mortalidade infantil chegou a apenas um dígito, o município de Janaúba ganhou destaque nacional, e desde então secretários de saúde e pesquisadores de todo o Brasil fazem fila para conhecer o sistema de saúde da cidade.
Tudo começou em 1999, quando Helvécio Albuquerque assumiu a coordenação da Saúde da Família. O município contava com 4 equipes de Saúde da Família recém-contratadas, com vínculo precário, trabalhando em instalações inadequadas e sem capacitação. Naquele momento já entendíamos que o município precisava rever todo o sistema de saúde e esta reformulação deveria necessariamente se dar através da Atenção Básica
, disse Helvécio Albuquerque à Revista Brasileira Saúde da Família.
Para não ficar narrando muito a cronologia, eis uma lista (parcial) das melhorias adotadas nos anos seguintes:
- Construção de novas unidades de saúde, de acordo com as normas sanitárias e com ambiente agradável, além de móveis e equipamentos adequados, e um carro para cade equipe.
- Informatização das unidades de saúde. O prontuário eletrônico conta com ferramentas de gestão da clínica, como alertas sobre a pendência de exames de rotina. Esse é o mesmo prontuário usado pelos centros de referência, garantindo que as informações de lá sejam acessíveis às equipes de Saúde da Família.
- Curso de especialização para todos os profissionais, seguido de reuniões periódicas para educação permanente.
- Ampliação gradual do número de equipes de Saúde da Família — hoje em dia são 20, atendendo a todo o município.
- Desprecarização do vínculo trabalhista das equipes de Saúde da Família.
- Adoção do Plano Diretor da Atenção Primária à Saúde, do estado de Minas Gerais, para o planejamento das equipes.
- Gestão por resultados — os profissionais passaram a receber mais ou menos de acordo com o cumprimento de 10 metas, como por exemplo realizar pelo menos 4 grupos operativos (“educativos”) por mês, cobertura vacinal de pelo menos 95%, ou participação de todas as atividades mensais de educação permanente. Se o profissional não cumprir nem 5 das 10 metas, o contrato é rescindido automaticamente.
Assim com a cidade de Grand Junction, que mencionei há poucos dias, Janaúba também tem um sistema de saúde mais barato que a média nacional: 25% mais barato, para ser mais exato. E mesmo sendo tão econômica, consegue ter uma mortalidade infantil igual à da Suíça em plena caatinga. E não foi apenas a mortalidade infantil que caiu. Dos 4 hospitais da cidade, 2 fecharam por falta de pacientes. Um desses hospitais, dizem, era de um cunhado de Helvécio Albuquerque.
Para saber um pouco mais sobre a cidade, sugiro as seguintes leituras:
- Uma matéria na Revista Brasileira Saúde da Família nº 14, publicada pelo Ministério da Saúde em 2007.
- Resumo das atividades do 3º Seminário Internacional de Atenção Primária e Saúde da Família. O documento é extenso, então em vez de passar as páginas, pule direto para a parte em que Helvécio Albuquerque expõe a gestão por resultados.
- Matéria (em espanhol) publicada na Revista de Innovación Sanitaria y Atención Integrada, em 2009, sobre a rede de atenção à saúde materno-infantil em Janaúba.
- E por fim uma entrevista com Eugênio Vilaça Mendes, então assessor da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, expondo a participação do estado nos resultados obtidos pelo município. Publicada em 2008, pela brasileira Revista APS.
Sou mineira e não sabia destes dados de Janaúba.É de impressionar que uma região do norte de Minas,uma área tão carente financeiramente, tenha um nível tão baixo de mortalidade infantil.O governo local está de parabéns.
Mas,nós,que ainda enfrentamos níveis altos de mortalidade de rescém nascidos,precisamos conhecer bem os hospitais onde vamos com nossos filhos.Precisamos até mesmo lutar por melhorias no sistema de saúde,que garantam a nós e nossos filhos um bom atendimento e acompanhamento.
Para quem está prestes a ser papai e mamãe,vou deixar uma dica que pode ajudar muito na hora de cuidar da saúde da família,especialmente do bebê.
http://bit.ly/cxhlVy
Jordana, a maternidade é importante, mas existem uma série de outros fatores envolvidos, inclusive alguns que não passam pelo sistema de saúde, como a escolaridade materna e a (des)igualdade de renda. Em especial, um pré-natal bem-feito e alguns cuidados durante a puericultura podem contribuir em muito para a redução da mortalidade infantil.
Quanto à “dica”, qual é a sua relação com esse plano de saúde? Se não me engano, ele não tem rede credenciada em MG.