O título original diz muito sobre a missão do livro: Como ajudar sua criança ansiosa
, numa tradução literal. Os autores do livro Transtorno da Ansiedade na Infância presumem o tempo todo que os leitores são pais e mães de crianças com medos, preocupações ou ansiedades excessivas. Mesmo sem dispensar a consulta a um profissional de saúde, o livro ensina aos pais como ajudar seus filhos a superar situações que normalmente lhe trazem um sofrimento despropositado. Faço questão de destacar um trecho que explica como saber se sua criança (ou adolescente) poderá ser beneficiada pelo livro:
Não existe isso de ‘medo anormal’. Todos os medos são normais — só que alguns são mais intensos e duram mais tempo que outros. […] O que importa é que se a ansiedade está prejudicando a vida de seu filho, você deve começar a pensar em fazer alguma coisa para ajudá-o a superar o problema.
Eu gostaria de deixar claro, desde o começo, que o livro não aborda o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, que está na moda há alguns anos, e nem outros problemas frequentes e importantes como depressão e abuso de drogas. O sumário (lista de capítulos) dá uma boa noção do tipo de situações em que o livro ajuda, mas faço questão de destacar algumas partes que me chamaram a atenção.
Um dos primeiros capítulos é sobre como lidar com pensamentos catastróficos, ou seja, com expectativas excessivamente pessimistas. Os autores do livro começam ensinando os pais a pensar de forma realista, para depois ensinar os pais a ensinar esse tipo de pensamento para seus filhos. Além dos propósitos didáticos, essa primeira etapa é importante na medida em que, numa família, dificilmente só uma pessoa tem preocupações excessivas.
Outro capítulo chega a ser útil para praticamente todos os pais, mesmo aqueles que não tenham crianças ansiosas. Em Como você pode ajudar a controlar a ansiedade de seu filho?
, o foco sai da criança, e recai sobre a atitude dos pais. Estou acostumado a orientar os pais a adotar uma certa atitude para lidar com a birra de crianças pequenas, e achei interessante observar que o livro propõe essa mesma atitude para ajudar as crianças a não ter ansiedade em excesso.
Eu também gostaria de destacar um dos últimos capítulos, Habilidades sociais e autoconfiança
. Não existe nada de errado em ser tímido, e em casos isso é até vantajoso, mas para muitas pessoas o isolamento social é uma necessidade, não uma opção. Esse me pareceu o capítulo mais trabalhoso, mas talvez seja o mais importante. Pense comigo: o que é pior, ter medo de avião ou medo de gente?
No início do livro, os autores explicam de forma genérica os motivos pelos quais uma criança pode ser excessivamente ansiosa: genética; a forma como os pais reagem à ansiedade da criança; o exemplo dos pais; e estressores
como violência doméstica ou ameaças na escola. Mas daí em diante o livro é sobre como lidar com a ansiedade, deixando para os pais descobrir porque suas crianças, especificamente, estão excessivamente ansiosas. Esse é um dos motivos pelos quais, mesmo lendo o livro, é importante consultar um profissional de saúde mental. Muitas vezes a família foca no problema da criança, e não percebe que algum problema na própria família que poderia ser resolvido e assim resolver o excesso de ansiedade da criança sem a necessidade de tratamento.
No geral, trata-se de uma leitura fácil, e, acredito, muito proveitosa — dia após dia os livros são cada vez mais usados como tratamento para transtornos mentais. A Internet está cheia de resenhas sobre o livro, geralmente positivas, mas só posso recomendar a resenha publicada no Pediatra em Casa, já que seu autor parece ter sido uma das poucas outras pessoas que leu o livro antes de recomendá-lo. Para mais informações e preço, confira a página do livro na Editora M. Books, bem como em livrarias na Internet ou em sua vizinhança.
Atualização: não deixe de conferir também as observações do psicólogo Vladimir Melo, companheiro de Planeta Saúde Brasil, sobre as diferenças entre a abordagem desse livro e a psicanálise.
Obrigado pela distinção. Li sim, e gostei.
Um abraço.
Outro, Andre!
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