O British Medical Journal publicou, em 2010 e 2011, dois estudos que revisaram o efeito dos suplementos de cálcio, com ou sem vitamina D, sobre o risco de infarto agudo do miocárdio e AVC (derrame). Foram incluídas 9 pesquisas, com mais de 28 mil homens e mulheres de meia-idade e idosos; o risco de infarto se mostrou 24% maior entre as pessoas que tomavam suplementos com cálcio.
No primeiro estudo, que abordou apenas os suplementos de cálcio sem vitamina D, foi possível ainda analisar a influência do cálcio da alimentação. As pessoas cuja alimentação continha mais de 800mg de cálcio por dia tiveram um aumento de 85% em seu risco de infarto com o uso dos suplementos; já as pessoas com dieta pobre em cálcio podiam usar os suplementos sem risco adicional. Essa diferença é ainda mais importante ao considerarmos que uma alimentação com 800mg de cálcio por dia é o suficiente para minimizar fraturas de osteoporose. Com uma ingestão diária maior do que 800mg, o risco de fratura continua o mesmo, e talvez até aumente.
A falta de cálcio é prejudicial para a saúde do aparelho circulatório, mas os suplementos de cálcio aumentam de forma abrupta a concentração sanguínea do mineral. Acredita-se que, desta forma, os suplementos de cálcio poderiam ativar uma série de mecanismos que estão relacionados com o risco da pessoa sofrer um infarto agudo do miocárdio ou derrame. (Os estudos também encontraram um aumento, menos convincente, do risco de AVC com os suplementos.)
Essa é uma discussão muito nova, e por isso nenhuma pesquisa clínica até hoje foi planejada para elucidá-la. Os estudos descritos acima foram feitos reaproveitando dados de pesquisas que tinham outros objetivos, como avaliar o tratamento da osteoporose. Isso abre a possibilidade para uma série de vieses, de forma que não existe ainda uma conclusão sobre a relação entre os suplementos de cálcio e o risco de infarto e derrame.
Mesmo assim, é melhor conversar com seu médico antes de começar a tomar suplementos que contenham cálcio. Até porque, como veremos na próxima semana, estudos recentes indicam que a suplementação de cálcio e vitamina D é bem menos útil do que acreditávamos.
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