O ministro da saúde, Alexandre Padilha, afirmou em entrevista que em 10 anos haverá vaga de residência médica para todos os médicos recém-formados. A residência médica é considerada a melhor forma de se especializar um médico. Durante os dois ou mais anos de residência médica, o profissional atua numa especialidade sob supervisão de especialistas reconhecidos, além de aprofundar seus estudos na área.
Há muito tempo os estudiosos da educação médica concordam que a faculdade não é o suficiente para formar um médico adequado. O avanço no conhecimento médico, o maior nível de exigência da sociedade e dos próprios médicos, e a ênfase da graduação em apresentar uma grande variedade de conhecimentos, tudo isso contribuiu para que o médico recém-formado saiba um pouco de tudo, mas não seja competente o suficiente em área alguma.
Em grande parte da Europa, por exemplo, é obrigatório ter residência médica para exercer a Medicina — há 20 anos, se não me engano. Não existe mais aquilo que chamamos de clínico geral. No Reino Unido, os general practitioners
são na verdade o que chamamos de médicos de família e comunidade, e em breve sua residência médica obrigatória será estendida para 5 anos.
Aproveito para dividir com vocês uma declaração conjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Mundial dos Médicos de Família e Comunidade (Wonca), 1994:
Recomendação dezesseis: A educação médica básica (graduação) deve prover uma fundação relevante para o treinamento específico subsequente. […] A meta da educação médica básica deve ser produzir graduados capazes de passar por treinamento específico subsequente em qualquer disciplina escolhida — inclusive medicina de família e comunidade. A educação médica sozinha é insuficiente para treinar médicos de família e comunidade. A competência em medicina de família e comunidade exige treinamento após a graduação.
Hoje em dia seria inviável no Brasil exigir a residência médica. Com a proliferação de faculdades privadas de Medicina nos últimos 15 anos, existe uma vaga de residência médica para cada dois recém-formados — sem contar com os que já se formaram antes mas continuam tentando ser admitidos.
A disponibilidade de um número suficiente de vagas de residência médica pode ser o primeiro passo para que o Brasil possa exigir dos recém-formados que se tornem competentes em alguma área antes de exercer a Medicina. Enfim a população brasileira poderá contar com médicos de família e comunidade de fato!