O último número do Bulletin of the World Health Organization (Boletim da Organização Mundial da Saúde) trouxe uma matéria (em inglês) sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Mais do que emitir julgamentos, a OMS coleciona depoimentos de brasileiros que conhecem profundamente o SUS para compor um retrato dos mais fieis. Recomendo a leitura para todos os que dominem o inglês. Também vale a pena ler a nota à imprensa pelo Ministério da Saúde e a notícia pela Agência Brasil.
Infelizmente, o trecho que aborda a Saúde da Família não é dos meus favoritos:
O Programa Saúde da Família, que cobre mais de 97 milhões de brasileiros, é uma peça chave no Sistema Único de Saúde. Ele emprega mais de 30 mil equipes de trabalhadores de saúde que fazem esforços concentrados para alcançar as comunidades mais pobres e isoladas.
De fato, a Saúde da Família tem um impacto radical na saúde das comunidades mais pobres e isoladas. O problema é que, lendo a segunda frase, tenho a impressão de ter voltado aos anos 90, quando a Saúde da Família ainda era realmente um programa, comandado pela Funasa (a mesma que combatia o mosquito da dengue) e só atendia às regiões incluídas no Mapa da Fome. Naquela época, o nome oficial da estratégia Saúde da Família era Programa Saúde da Família (PSF).
A Saúde da Família não é mais um programa de extensão da cobertura do SUS; é uma forma de trabalhar que está substituindo a rede de atenção básica pre-existente. A priorização dos mais pobres é uma questão de justiça social, mas, na medida em que a cobertura aumenta, cada vez mais famílias de classe média são atendidas. (Leia também: IBGE documenta expansão da Saúde da Família
.)
Em Vitória (ES), por exemplo, os bairros de classe média e alta também têm Saúde da Família. Os bairros até agora excluídos são aqueles com uma população mais jovem, que passa o dia todo fora de casa, dificultando o acesso ao atendimento em horário comercial. (Leia também: Promova a Saúde da Família
, Entrevista com um médico de família e comunidade
.)