Os leitores já devem estar familiarizados como estudo PURE, que seguiu mais de 135 mil pessoas, distribuídas entre 613 comunidades, em 18 países (inclusive Brasil), em variados continentes e graus de desenvolvimento econômico. O objetivo do estudo é avaliar uma grande variedade de fatores de risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular, principalmente infarto cardíaco e derrame (acidente vascular cerebral , AVC). Esse estudo já mostrou que consumir pouco sal parece aumentar o risco cardiovascular, e que consumir pouca gordura ou muito carboidrato parecem aumentar o risco de mortes não cardiovasculares. Agora é a hora de saber se consumir frutas, hortaliças (verduras) e legumes faz mesmo bem para a saúde.
O PURE encontrou todo tipo de alimentação, contendo desde nada até mais de um quilo de frutas, hortaliças e legumes por dia. Os autores consideraram uma porção de fruta ou hortaliça como tendo 125 g, e uma porção de legume como tendo 150 g. Os sucos não foram considerados para consumo de fruta ou hortaliças, e tubérculos (batata) e legumes não foram considerados como hortaliças. Naturalmente, os grãos (arroz) não são considerados hortaliças.
Em uma primeira análise, ajustando apenas para idade, sexo e comunidade, o consumo de frutas, hortaliças e legumes se mostrou inversamente associado ao risco cardiovascular e à mortalidade geral. Ou seja, quanto mais frutas, hortaliças e/ou legumes a pessoa consumia, menor o risco de ter um infarto, derrame, morte cardiovascular ou morte não cardiovascular. Isso valeu tanto para os alimentos em conjunto quanto para cada um dos três grupos.
Só que as pessoas que consomem mais frutas, hortaliças e legumes também têm vários outros motivos para serem mais saudáveis. Depois de ajustar as análises por fatores de risco conhecidos, aquela associação inversa com o risco cardiovascular ficou muito menos convincente. Não é que o estudo tenha mostrado claramente que esses alimentos não tenham efeito; ou que tenha sugerido que esses alimentos façam mal à saúde. É só que, mesmo num estudo desse tamanho, o efeito ajustado se mostrou fraco demais para ser estimado com confiança.
A tendência é que o próprio estudo PURE reexamine essa questão, pois a essa altura já conta com cerca de 200 mil participantes, e o acompanhamento a longo prazo (10 anos) deve aumentar a precisão das estimativas. De qualquer forma, está claro que as frutas, hortaliças e legumes não têm um efeito pronunciado sobre o risco de doença ou morte cardiovascular.
Infelizmente, o estudo não foi capaz de separar o efeito de cada tipo de fruta, ou cada tipo de hortaliça. Ou seja, os resultados dizem respeito aos grupos como um todo, e não excluem a possibilidade de alguma fruta ou hortaliça específica ter um efeito protetor cardiovascular pronunciado.
Agora que já passei pelos resultados desanimadores, posso contar a parte animadora! O risco de morte não cardiovascular e por todas as causas foi inversamente proporcional ao consumo de frutas, hortaliças e legumes – principalmente frutas e legumes. Mesmo com todos os ajustes, a mortalidade foi 22% menor entre as pessoas que consumiam 3 porções de frutas, verduras e legumes por dia, em comparação a quem comia menos de uma porção. Separando por tipo de alimento, as pessoas que consumiam ao menos 3 porções (375 g) de frutas ao dia tinham uma mortalidade 19% menor do que aquelas que consumiam menos de 3 porções por semana; e as pessoas que consumiam ao menos uma porção (150 g) de legume por dia tinham uma mortalidade 26% menor do que aquelas que consumiam menos de uma porção por mês.
Em resumo, temos um ótimo motivo para continuar comendo feijão com arroz (integral!) nas refeições e fruta nos intervalos!