Arquivo do Autor: Leonardo Fontenelle

O PSF é um programa?

Volta e meia alguém me pergunta se o PSF é um programa, que poderia acabar a qualquer momento. Em especial, isso costuma ser utilizado por secretários municipais de saúde para justificar a contratação temporária das equipes de Saúde da Família.

A estratégia Saúde da Família evoluiu gradualmente de 2 mil equipes, em julho de 1998, até mais de 35 mil equipes implantadas em março de 2014.

Número de equipes de Saúde da Família, de julho de 1998 até março de 2014. Elaborado por Elson Farias a partir de dados do Ministério da Saúde. Clique para ampliar.

Eu pretendia contar sobre como a Constituição Federal de 1988 levou a uma coisa, que levou a outra, até 14ª Conferência Nacional de Saúde recomendar que todos os brasileiros sejam atendidos pela estratégia Saúde da Família. Mas esse gráfico, elaborado pelo médico de família e comunidade Elson Farias, é uma daquelas imagens que valem por mil palavras. É como eu já dizia em 2008, e outro médico de família e comunidade disse há dois anos: entra eleição, sai eleição, e a estratégia Saúde da Família continua a crescer.

Então, por que os municípios insistem em chamar a estratégia Saúde da Família de “programa”?

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Saúde da Família previne mortes por infarto e derrame

No início do ano eu tinha comentado que, ao longo de 20 anos, a mortalidade por doenças cardiovasculares diminuiu em 33% no Brasil. Na época, associei a melhoria à expansão da estratégia Saúde da Família, com base na experiência internacional de melhoria das condições de saúde quando as pessoas têm acesso à atenção primária à saúde, e com base no fato do derrame (AVC) ter caído de primeira para segunda causa de morte no Brasil. (O derrame é ainda melhor prevenido pelo controle da pressão arterial do que o infarto cardíaco.)

Em julho a revista científica The BMJ publicou um artigo de pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos confirmando a minha suposição. Examinando vários dados de 1622 municípios brasileiros ao longo dos anos 2000 a 2009, os autores observaram que a cobertura de 70% ou mais dos moradores de um município num ano predizia, para o ano seguinte, uma redução em 18% na taxa de morte por derrame, e 21% na taxa de morte por infarto, em comparação ao que seria esperado se o município não implementasse a estratégia Saúde da Família. Melhor ainda: esse efeito parece aumentar com o tempo. Em 2009, os municípios que durante oito anos tinham mantido uma cobertura de 70% ou mais apresentaram taxas de derrame e infarto 31% e 36% menores do que o que seria esperado sem a estratégia Saúde da Família.

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Como cortar o sal sem sofrimento

Um tempo atrás eu estava contando que a redução do sal dos alimentos industrializados consumidos por toda a população diminuiria o número de derrames (AVC) e infartos mais ou menos tanto quanto o tratamento medicamentoso das pessoas consideradas hipertensas. Melhor ainda, o governo federal fechou um acordo com a indústria alimentícia para reduzir pela metade o sal dos alimentos industrializados ao longo de 10 anos.

O problema, eu dizia, é que a maioria do sal consumido pelos brasileiros não vem de alimentos industrializados, mas sim de sal e temperos prontos acrescentados à comida feita em casa, seja na panela, seja no prato. Quem vai ao médico costuma ouvir que é necessário tirar o sal da comida. Mas quem é que consegue mesmo fazer isso?

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Você conhece o acesso avançado?

Acesso avançado é uma forma de organizar a agenda das unidades básicas de saúde. O princípio é fazer hoje o trabalho de hoje; em situações excepcionais o atendimento pode demorar no máximo uma semana. E quando digo atendimento, não é uma avaliação inicial para depois o problema ser resolvido (como se faz no acolhimento com classificação de risco, proposto pela política de humanização do SUS desde 2006). É atendimento mesmo.

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Como usar adesivos de nicotina para parar de fumar

Muitas pessoas conseguem abandonar o tabagismo seguindo as dicas que reuni no artigo Como parar de fumar. Outras precisam de alguma ajuda. Como nem todo o mundo encontra com facilidade profissionais de saúde que saibam ajudar as pessoas a parar de fumar, trago aqui mais uma dica de como parar de fumar sem ajuda profissional.

A terapia de reposição de nicotina é o uso de medicamentos com nicotina para ajudar a pessoa na transição de fumante para não fumante. Esses medicamentos podem ser comprados sem receita médica. Existem basicamente dois tipos: adesivos e gomas.

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O que é a estratégia Saúde da Família

Em dezembro de 2008, antes de eu inaugurar este blog, o psicólogo brasiliense Vladimir Melo me encomendou um texto introdutório à estratégia Saúde da Família. O artigo tem sido um campeão de leituras, de forma que, quando ele decidiu desativar o blog, me devolveu o artigo para republicação aqui no Doutor Leonardo.

Estratégia Saúde da Família (ESF) é o nome que se dá atualmente a uma das mais bem-sucedidas iniciativas brasileiras em saúde das últimas décadas. Foi concebida em 1993, com o nome de Programa de Saúde da Família (PSF), a partir de iniciativas brasileiras e algumas iniciativas internacionais mais adiantadas (como o “general practitioner” britânico e o médico de família cubano). Em seus primeiros anos, o então PSF foi implantado nos municípios do “Mapa da Fome”, sob o comando quase direto de Brasília, mas depois passou a ficar sob o comando dos municípios, ocupando um papel cada vez mais importante no sistema de saúde, e passou a ser aberto a todos os municípios do Brasil. Em 1998, quando os repasses federais para a atenção básica passaram a ser por habitante, e não por número de procedimentos, a estratégia Saúde da Família começou a se expandir vertiginosamente. Em outubro de 2008, de acordo com o Ministério da Saúde, a ESF estava presente em 94% dos municípios brasileiros e atendia a 93,1 milhões de brasileiros. O resultado tem sido a melhoria de vários indicadores de saúde, e o aumento da satisfação dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Esses fatos foram destacados pela Organização Mundial da Saúde em seu Relatório Mundial da Saúde de 2008, que citou o Brasil como um exemplo a ser seguido.

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O que você acha mais importante num médico?

Achei interessante essa pergunta, proposta numa enquete da UOL.

A questão não é nova, e já foi respondida através de várias pesquisas científicas, utilizando métodos mais adequados e abordando pessoas que representem melhor a população geral. Mas não me lembro disso ter sido objeto de pesquisa no Brasil — certamente não entre os leitores deste humilde blog.

Portanto, peço a cada um de vocês que comente abaixo, de preferência sem ler as alternativas da enquete. O que é que você mais valoriza num médico?

Medicamentos similares serão equiparados aos de referência

Alguns anos atrás expliquei que os medicamentos genéricos eram comprovadamente equivalentes aos de referência, e por isso eram mais confiáveis que os medicamentos similares, ou seja, que os medicamentos de outras marcas. Essa diferença foi introduzida na década de 90, quando o Brasil começou a reconhecer as patentes dos medicamentos.

O que eu não expliquei ainda é que isso está para mudar. Até o fim de 2014, todos os medicamentos similares precisarão ter comprovado serem iguais aos de referência para continuarem a ser fabricados e vendidos.

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