No início do ano eu tinha comentado que, ao longo de 20 anos, a mortalidade por doenças cardiovasculares diminuiu em 33% no Brasil. Na época, associei a melhoria à expansão da estratégia Saúde da Família, com base na experiência internacional de melhoria das condições de saúde quando as pessoas têm acesso à atenção primária à saúde, e com base no fato do derrame (AVC) ter caído de primeira para segunda causa de morte no Brasil. (O derrame é ainda melhor prevenido pelo controle da pressão arterial do que o infarto cardíaco.)
Em julho a revista científica The BMJ publicou um artigo de pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos confirmando a minha suposição. Examinando vários dados de 1622 municípios brasileiros ao longo dos anos 2000 a 2009, os autores observaram que a cobertura de 70% ou mais dos moradores de um município num ano predizia, para o ano seguinte, uma redução em 18% na taxa de morte por derrame, e 21% na taxa de morte por infarto, em comparação ao que seria esperado se o município não implementasse a estratégia Saúde da Família. Melhor ainda: esse efeito parece aumentar com o tempo. Em 2009, os municípios que durante oito anos tinham mantido uma cobertura de 70% ou mais apresentaram taxas de derrame e infarto 31% e 36% menores do que o que seria esperado sem a estratégia Saúde da Família.
A pesquisa usou um método estatístico razoavelmente sofisticado, mas o artigo é de uma leitura muito agradável (para quem é da área). Três dos autores já tinham participado em pesquisas sobre a expansão da estratégia Saúde da Família e a redução da mortalidade infantil, inclusive uma pesquisa mais recente que eu ainda não tinha citado por aqui.
Numa resposta, um palestrante do Imperial College London destacou a importância do estudo, dizendo que os autores tinham sido até moderados demais em suas conclusões, e dizendo ainda que seria bom para a Inglaterra aprender com a estratégia Saúde da Família. Vejam só: a Inglaterra é um dos berços da atenção primária à saúde, e há décadas tem servido de inspiração para o SUS!
Como já expliquei, o sistema de saúde é apenas um dos motivos para a redução da mortalidade cardiovascular no Brasil. Os outros motivos, como a melhoria da qualidade de vida e a redução do consumo de sal de cozinha, já aconteceram há tempos nos países mais desenvolvidos como a Inglaterra.
Além disso, a gente sabe que não costuma ser fácil conseguir consulta nas unidades básicas de saúde do Brasil. A expansão da estratégia Saúde da Família ainda significa, em grande parte, aumentar o número de profissionais para atender à população, ou mesmo levar alguma equipe para comunidades onde não havia nenhuma (em vez de só substituir serviços de atenção primária à saúde que trabalhem de outra forma). Essa questão do acesso à saúde já foi resolvida há muito tempo na Inglaterra.
Mas, em pelo menos um aspecto, a estratégia Saúde da Família tem sim o que ensinar para a Inglaterra. Estou falando do papel do agente comunitário de saúde no fortalecimento do vínculo entre a equipe de Saúde da Família e a comunidade em que ela trabalha. Na Inglaterra, todas as pessoas têm “sua” unidade básica de saúde (coisa que nem sempre funciona no Brasil), mas na prática as pessoas mais marginalizadas pela sociedade são justamente as que têm mais dificuldade de acesso ao serviço de saúde. É nessas situações em que o trabalho dos agentes comunitários de saúde, “esquadrinhando” a comunidade, faz toda a diferença.
Quando fiz residência médica em medicina de família e comunidade, os agentes comunitários de saúde contavam que o serviço da equipe era tão importante que os aluguéis da região aumentaram quando a equipe de Saúde da Família começou a funcionar. Que tal você compartilhar alguma história sobre o que mudou no lugar onde você mora (ou trabalha) quando a estratégia Saúde da Família chegou até aí?
Infelismente Dr. Nen posso falar nada pq na minha rua não tem agente de saúde., e o posto deixa muiiiito a desejar.
De fato houve uma mudança significativa, quando ocorreu o surgimento
do programa saúde da família no meu bairro as pessoas aos poucos foram tomando uma nova conscientização sobre prevenção de algumas determinadas doenças,principalmente da hipertensão e da diabetes.embora tenha-se muito o que se fazer, exemplo que haja mais facilidade no atendimento e maior agilidade na assistência.
obrigada
JURACI GOMES
Ola Drº Leonardo
tenho frequentemente sentido cosareira nos ouvidos, e muitas vezes chega a doer.Isso tem haver com a sinusite cronica que a algum tempo foi diagnosticada em mim?
JURACI GOMES
Ola Drº Leonardo
tenho frequentemente sentido coceira nos ouvidos, e muitas vezes chega a doer.Isso tem haver com a sinusite cronica que a algum tempo foi diagnosticada em mim?
Juraci, por favor leia os termos de uso do blog. Isso aqui não substitui consulta médica, e por isso não me pronuncio aqui sobre casos individuais.
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boa noite.Dr Leonardo meu nome é Natália e sou estudante de enfermagem.Tenho um trabalho para fazer sobre Saúde da familia ,porém está gerando muitas duvidas.
Caso o senhor puder responder eu agradeço.
como é realizado o programa saúde da família?E Qual é o objetivo/?
boa noite.Dr Leonardo meu nome é Natália e sou estudante de enfermagem.Tenho um trabalho para fazer sobre Saúde da familia ,porém está gerando muitas duvidas.
agradeço desde já
Caso o senhor puder responder eu agradeço.
como é realizado o programa saúde da família?E Qual é o objetivo/?
Sugiro começar lendo meu artigo sobre o que é a estratégia Saúde da Família.
muito bom sua explicação se o brasil não tivesse tantos pervesos no poder poderiamos ter uma qualidade de vida melhor eu sou da periferia e vejo como as pessoas sofrem em busca de remedios na farmacia do psf porque falta principalmente o básico.
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