Acompanho os Causos clínicos desde seu início, há pouco mais de um ano. Trata-se de uma obra coletiva de médicos de família e comunidade brasileiros, revelando seu olhar sobre o encontro com as pessoas de quem eles cuidam. Mais do que medicamentos ou exames laboratoriais, sua matéria-prima são histórias de vida. Talvez sua melhor definição seja a conclusão de um dos primeiros “causos”: a atenção primária é uma cadeira na primeira fila para o espetáculo da vida
.
Não que só haja médicos de família nessa primeira fila, claro. Enquanto escrevo estas linhas, ocorre-me enfim que os Causos clínicos se inserem no mesmo nicho do livro Por um fio, do oncologista Drauzio Varella. A principal diferença é a variedade, tanto no tom quanto no estilo.
Talvez uma das características mais consistentes dos relatos seja a proeminência do ponto de vista dos autores; a condição do médico de família é uma parte importante das histórias. Como previsto na teoria dos sistemas, o médico de família não apenas observa os acontecimentos, mas em algum grau participa deles, afetando-os e sendo por eles afetados.
Para mim, esse ponto de vista é familiar como uma roda de amigos, ao mesmo tempo em que os relatos me permitem o contato com histórias de vida muito diferentes da minha, sem eu ter a preocupação em diagnosticar, tratar ou mesmo consolar.
Aproveito, então, para confessar uma curiosidade: o que será que meus leitores, em especial aqueles que não são profissionais de saúde, acharão de histórias onde o ponto de vista do médico-narrador aparece de forma tão proeminente? Deixo aqui uma lista dos últimos cinco “causos”, e aguardo seus comentários!