No dia 31 de maio comemoramos o Dia Mundial sem Tabaco. E temos muito o que comemorar! A proporção de fumantes no Brasil diminui ano após ano, e o número de ex-fumantes já é maior do que o número de fumantes. Mesmo assim, o tabagismo ainda é o 5º fator de risco que mais prejudica a saúde do brasileiro. E quais os quatro fatores de risco mais importantes do que o tabagismo?
A lista dos os 10 maiores fatores de risco para a nossa saúde, que eu divulguei cinco anos atrás, foi atualizada em dezembro de 2012. Esse novo estudo de Carga Global de Doença foi um trabalho colossal, reunindo toda a informação disponível sobre 67 fatores de risco modificáveis e 291 doenças e outros agravos (por exemplo, agressões e acidentes), em todos os países do mundo.
Não apenas a nossa situação de saúde mudou muito, mas também os pesquisadores conseguiram acesso a mais dados, e a melhores técnicas de análise.
Este artigo substitui outro, publicado na terça-feira, 2 de junho de 2015.
Nesta lista, a importância dos fatores de risco está sendo medida na forma de anos de vida ajustados para a incapacidade, que é a somatória dos anos de vida perdidos (por morte precoce) com os anos vividos com incapacidade (ponderados pelo grau de incapacidade). Essas medidas levam em consideração não só a importância do fator de risco para as pessoas afetadas, mas também o número de pessoas que são afetadas pelo fator de risco. (Como seria de se esperar, existe um artigo científico detalhando como esses dados foram trabalhados. Mas o mais interessante é visitar o site do grupo de pesquisa, e utilizar as ferramentas de visualização disponíveis.)
Então, estes são os 10 maiores fatores de risco para a saúde do Brasil:
- Alimentação inadequada. Este fator de risco é a somatória de 14 fatores de risco alimentares. Alguns dos mais importantes são a falta de frutas, o excesso de sal, e o excesso de carne processada na nossa alimentação. Uma alimentação inadequada pode levar a problemas como câncer, diabetes, ou principalmente doenças cardiovasculares (como infarto e derrame). (Leia também: 10 passos para uma alimentação saudável, e Indústria alimentícia vai reduzir sal e açúcar de seus produtos.) A carga de doença atribuída à alimentação inadequada diminuiu 29% entre 1990 e 2010, e este fator de risco também é o número um quando a carga de doença é medida de outras formas, como o número de mortes ou os anos de vida perdidos.
- Pressão arterial alta. Quanto maior a pressão nos vasos sanguíneos, maior o risco de doenças cardiovasculares ou de doença renal crônica. (Leia também: Como prevenir e controlar a hipertensão arterial, e Seu aparelho de pressão está calibrado?.) A carga de doença atribuída à pressão arterial elevada diminuiu 35% entre 1990 e 2010. (Leia também: A saúde dos brasileiros está melhorando ano após ano e Saúde da Família previne mortes por infarto e derrame.)
- Uso de álcool. O uso de álcool, mesmo em quem não é dependente (“alcoólatra”), aumenta o risco de agressões, transtornos mentais, acidentes e cirrose do fígado, entre outros vários problemas de saúde. (Leia também: Você sabe beber com moderação?, Beber com moderação está associado a menor risco de infarto e Vitória discute restringir horário de funcionamento de bares.) A carga de doença atribuída ao uso de álcool aumentou 18% entre 1990 e 2010.
- Alto índice de massa corpórea (IMC). Quanto mais gordura, maior o risco de doenças cardiovasculares, diabetes ou doenças articulares. (Leia também: Como saber se você está acima do peso ideal, Saudável em Qualquer Tamanho: uma abordagem controversa da obesidade e Pessoas com sobrepeso vivem mais.) A carga de doença atribuída ao sobrepeso e à obesidade aumentou 27% entre 1990 e 2010, e este fator de risco já é o maior responsável por anos vividos com incapacidade.
- Tabagismo. O tabagismo aumenta o risco de doenças cardiovasculares e de câncer, além de lesões acidentais (por exemplo, incêndios). (Leia também: 10 motivos para fumar, 10 motivos para para de fumar, As doenças causadas pelo tabagismo passivo, Como parar de fumar, Como usar adesivos de nicotina para parar de fumar.) A carga de doença atribuída ao tabagismo diminuiu 44% entre 1990 e 2010.
- Alto nível de glicose no sangue. Quanto mais açúcar no sangue, maior o risco de doenças cardiovasculares, sem contar com o próprio diabetes. (Leia também: Conheça os sintomas do diabetes mellitus, Quem tem risco de ter diabetes mellitus e Como prevenir o diabetes mellitus.) A carga de doença atribuída à glicemia elevada praticamente não se alterou desde 1990.
- Falta de atividade física. A inatividade física aumenta o risco de doenças cardiovasculares e diabetes, além de câncer. (Leia também: Quando fazer atividade física sem passar pelo médico.) No momento, não é possível comparar com 2000 ou 1990.
- Riscos ocupacionais. Alguns trabalhos aumentam o risco de dor nas costas, acidentes de trabalho, inalação de partículas nocivas etc. A carga de doença atribuída ao trabalho diminuiu 21% entre 1990 e 2010.
- Alto nível de colesterol no sangue. Quanto mais colesterol no sangue, maior o risco de doenças cardiovasculares. (Leia também: Dicas de leitura: exame de colesterol, licença para comer ovo.) A carga de doença atribuída ao colesterol diminuiu 35% entre 1990 e 2010.
- Uso de drogas. O uso de drogas ilícitas, como a maconha e o crack, pode causar transtornos mentais, inclusive (mas não apenas) dependência. Além disso, também é uma importante causa de contaminação por HIV e agravamento de AIDS e tuberculose. (Leia também: Maconha aumenta risco de esquizofrenia.) A carga de doença atribuída ao uso de drogas praticamente não se alterou desde 1990.
No geral, a mensagem é otimista: metade dos principais fatores de risco (alimentação, pressão, tabagismo, trabalho e colesterol) estão afetando cada vez menos a nossa saúde. O envelhecimento da população tende a aumentar a carga de doença, então é preciso fazer um ajuste (como eu fiz) para perceber melhor como as condições de saúde das pessoas melhoraram. Afinal de contas, se a expectativa de vida está aumentando, é porque as pessoas estão vivendo cada vez mais!
Por outro lado, estão aumentando a carga de doença devida ao IMC elevado e a devida ao uso de álcool. Talvez o motivo seja justamente a dificuldade em abordar esses fatores de risco…
Aproveito para lembrar que, se você tem um ou mais desses fatores de risco, saiba que você está em boa companhia. Uma pesquisa realizada com quase 2 mil americanos de meia idade concluiu que praticamente ninguém tinha uma saúde perfeita. Mesmo assim, esta pode ser uma boa ocasião para finalmente modificar aquele comportamento pouco saudável que você já sabia que precisava corrigir!
Excelente publicação, Dr. Leonardo. As pessoas preocupam-se muito pouco com conduzir hábitos de vida saudáveis, principalmente aquelas que gozam de boa saúde e isso acaba sendo engraçado porque ter uma saúde excelente deveria ser o maior motivo pra continuar tendo, e eliminar hábitos negativos seriam um excelente passo pra isso.
Minha saúde é realmente perfeita, dificilmente fico doente e quando acontece é alguma gripe que sara rápido, sozinha e sem nenhum remédio. O meu problema, certamente, é a quantidade de glicose no sangue no sangue, pois eu sou viciado em doces, como exageradamente, quantidades absurdas, todos os dias, sem nenhuma exceção. Vou me esforçar pra abandonar esse hábito enquanto ainda posso fazer isso por vontade própria.
Parabéns pela publicação!
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