Arquivo do Autor: Leonardo Fontenelle

De onde vem o sal que você consome?

Pesquisadores da USP publicaram, ano passado na Revista de Saúde Pública, um estudo sobre o consumo de sal pela população brasileira. Com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE entre 2002 e 2003, a pesquisa apurou que o brasileiro ingere diariamente 11,4 gramas de sal (4,5 gramas de sódio) por dia. Ao destrinchar o consumo de sal pela origem, os pesquisadores descobriram que o sal puro e os temperos à base de sal são responsáveis por 76% do sal consumido pelos brasileiros.

Continue lendo

Como controlar a ansiedade do seu filho

O título original diz muito sobre a missão do livro: Como ajudar sua criança ansiosa, numa tradução literal. Os autores do livro Transtorno da Ansiedade na Infância presumem o tempo todo que os leitores são pais e mães de crianças com medos, preocupações ou ansiedades excessivas. Mesmo sem dispensar a consulta a um profissional de saúde, o livro ensina aos pais como ajudar seus filhos a superar situações que normalmente lhe trazem um sofrimento despropositado. Faço questão de destacar um trecho que explica como saber se sua criança (ou adolescente) poderá ser beneficiada pelo livro:

Capa do livro

Não existe isso de ‘medo anormal’. Todos os medos são normais — só que alguns são mais intensos e duram mais tempo que outros. […] O que importa é que se a ansiedade está prejudicando a vida de seu filho, você deve começar a pensar em fazer alguma coisa para ajudá-o a superar o problema.

Continue lendo

Redução do sal é tão importante quanto remédio de pressão

Dia 25 de novembro, como já mencionei aqui no Doutor Leonardo, o governo brasileiro divulgou um acordo com a indústria para a redução do teor de sódio (e de glicose) dos produtos alimentícios. A redução deverá ser gradual, para as pessoas não estranharem, e em 2020 os alimentos industrializados do Brasil deverão ter 50% menos sódio que hoje em dia. Esse acordo deverá ter um benefício imenso para a nossa saúde. Não se trata apenas de abaixar a pressão arterial. Trata-se de salvar vidas — muitas vidas.

Neste ano o New England Journal of Medicine publicou um estudo em que os pesquisadores simularam o que aconteceria nos Estados Unidos se aquele país tivesse uma iniciativa igual à do Brasil. Confira um trecho do resumo:

Uma intervenção regulatória desenvolvida para alcançar uma redução da ingestão de sal em 3 gramas por dia salvaria, todo ano, 194 a 392 mil anos de vida ajustados por qualidade de vida, e economizaria todo ano 10 a 24 bilhões de dólares em atenção à saúde. Tal intervenção traria mais economia do que custo, mesmo se apenas uma modesta redução de 1 grama por dia fosse atingida gradualmente entre 2010 e 2019, e seria mais custo-efetiva que usar medicamentos para baixar a pressão sanguínea em todos os hipertensos.

Continue lendo

Ministério da Saúde cria incentivo para especialistas em Medicina de Família e Comunidade

Parece que esse ano o Ministério da Saúde resolveu dar um presente de Natal para os médicos de família e comunidade. Justamente no dia em que publiquei um artigo sobre a diferença entre o médico de família e comunidade e o clínico geral, o Ministério da Saúde publicou uma portaria estabelecendo um incentivo financeiro para os municípios, proporcional ao número de especialistas em Medicina de Família e Comunidade, no valor de R$ 1 mil por mês por especialista.

Cenoura presa a uma vara.

Para que o município receba o incentivo, é necessário que o médico tenha sua especialidade registrada no respectivo Conselho Regional de Medicina (CRM). Não adianta fazer curso de especialização. É necessário ter feito residência médica (que é a melhor forma de especialização na Medicina) ou ter experiência e fazer prova de título de especialista. Para uma pessoa saber se um médico é especialista em alguma área (e registrou isso no CRM), basta acessar o site do Conselho Federal de Medicina, e clicar em Cidadão/Empresa → Busca por médico.

Continue lendo

Clínico geral não é médico de família

Dia 5 de dezembro foi comemorado o Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade, por isso resolvi tomar vergonha na cara e escrever um artigo que estou prometendo há muito tempo: qual é a diferença entre o clínico geral e o médico de família e comunidade.

Um médico realiza um exame de rotina em uma paciente em uma clínica médica.

A dúvida vem do fato de que o médico de família e comunidade está muito próximo daquilo que a maioria das pessoas considera um bom clínico geral. O médico de família e comunidade assume o cuidado integral da pessoa, mesmo quando ela tem alguma doença que também precisa dos cuidados de outros especialistas. O médico de família e comunidade pode trabalhar na estratégia Saúde da Família (PSF) do SUS, mas infelizmente a maioria dos médicos em equipes de Saúde da Família não têm especialização em Medicina de Família e Comunidade. Mas a MFC não é um cargo, é uma especialidade médica. Tenho colegas trabalhando em rede própria de planos de saúde, em consultórios particulares, em universidades e na gestão do SUS.

Continue lendo

Cidade mineira dá exemplo para o resto do Brasil

Janaúba é uma cidade no norte de Minas, com cerca de 70 mil habitantes. O clima é semiárido, expondo a cidade a secas periódicas. O PIB per capita da cidade é um terço do nacional, e apenas 4% da população tem plano de saúde. Mesmo sendo uma das cidades mais pobres de Minas Gerais, Janaúba conseguiu fazer a mortalidade infantil cair, de 1998 a 2007, de 33 óbitos por 1000 nascidos vivos para apenas 4 — o menor índice da América Latina. Quando a mortalidade infantil chegou a apenas um dígito, o município de Janaúba ganhou destaque nacional, e desde então secretários de saúde e pesquisadores de todo o Brasil fazem fila para conhecer o sistema de saúde da cidade.

Taxa de mortalidade infantil em Janaúba, Minas Gerais, no período de 2000 a 2007.

Tudo começou em 1999, quando Helvécio Albuquerque assumiu a coordenação da Saúde da Família. O município contava com 4 equipes de Saúde da Família recém-contratadas, com vínculo precário, trabalhando em instalações inadequadas e sem capacitação. Naquele momento já entendíamos que o município precisava rever todo o sistema de saúde e esta reformulação deveria necessariamente se dar através da Atenção Básica, disse Helvécio Albuquerque à Revista Brasileira Saúde da Família.

Continue lendo

Mais dinheiro para a saúde

Recentemente Roberto Gordilho divulgou um artigo de Eduardo Campos, presidente do PSB e governador reeleito de Pernambuco, defendendo a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29. Nesse artigo Eduardo Campos fez coro com o presidente Lula em lamentar a derrubada da CPMF no Congresso Nacional:

Em um cenário de anos de defasagem da tabela de remuneração por procedimentos do SUS — o que faz com que, por exemplo, hospitais privados e profissionais autônomos não se interessem em prestar serviço ao sistema —, a queda da CPMF tirou a possibilidade de aplicação de R$ 40 bilhões ao ano na área — que, vale lembrar, vai muito além de hospitais.

Acontece que só um terço da CPMF era aplicado na saúde. E pior, a CPMF não aumentou em nada os recursos do Ministério da Saúde, de acordo com o ex-ministro Adib Jatene: Aprovada a CPMF, a área econômica retirou os recursos de outras fontes e, no fim das contas, o Ministério da Saúde passou a ter menos dinheiro que antes da aprovação do tributo.

Por isso, estou com o (ainda) ministro José Gomes Temporão. Perguntaram se ele era a favor da CSS, um novo imposto semelhante à CPMF, e ele respondeu: Sou a favor de R$ 50 bilhões a mais para a saúde. Não importa se os recursos virão do Orçamento Federal ou de um novo tributo.

Indústria alimentícia vai reduzir sal e açúcar de seus produtos

O Ministério da Saúde anunciou recentemente a assinatura de um contrato com a Associação Brasileira da Indústria Alimentícia (Abia), renovando por mais 3 anos o Fórum da Alimentação Saudável. Esse fórum, composto também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi responsável pela retirada de 230 mil toneladas de gordura trans dos produtos alimentícios em 2009, segundo a própria Abia. Além de conseguir que todas as empresas restrinjam a gordura trans em seus alimentos (hoje em dia 94,6% teriam adotado a medida), o objetivo do fórum passou a incluir a diminuição dos teores de sódio e glicose nos produtos alimentícios.

Grãos de sal fotografados com aumento de 25%, com renderização de HDR (grande alcança dinâmico).

A importância do acordo foi ressaltada por um levantamento publicado recentemente pela Anvisa. O levantamento mostrou, por exemplo, que a quantidade de sódio em uma marca de batata palha foi 14 vezes maior que em outra; e que uma porção de macarrão instantâneo contém 167% do sódio que uma pessoa adulta pode ingerir num dia. O mesmo levantamento também descobriu que a glicose é responsável por cerca de 10% da composição dos refrigerantes, sucos e néctares analisados.

Continue lendo

Médicos de família fazem a diferença nos Estados Unidos

No meio acadêmico, a saúde dos Estados Unidos é motivo de piada. Mesmo para quem tem plano de saúde, o sistema é caro e os resultados são ruins, em comparação a outros países desenvolvidos. Eu poderia citar inúmeros artigos estudos científicos, mas em vez disso sugiro o filme Sicko: S.O.S. Saúde.

Vista panorâmica da cidade de Grand Junction, Colorado, nos EUA.

Mas existe uma cidade no estado do Colorado, chamada Grand Junction, que parece ser uma exceção à regra. Em junho de 2009, uma matéria (em inglês) publicada no jornal The New Yorker revelou ao país que aquela pequena cidade conseguiu a proeza de ter um dos sistemas de saúde mais baratos do país, e ainda assim ter um dos melhores conjuntos de indicadores de qualidade de atenção à saúde. Em agosto daquele ano, o presidente Barack Obama viajou à cidade para conhecer seu sistema de saúde.

Em setembro de 2010, a prestigiada revista científica The New England Journal of Medicine publicou (em inglês) o ponto de vista de dois médicos sobre a saúde da cidade:

O evento mais importante na história da atenção à saúde em Grand Junction foi a tomada da liderança por médicos de família. No início dos anos 70, um grupo de médicos de atenção primária à saúde [médicos de família, pediatras etc.] e especialistas fundaram um plano de saúde (Rocky Mountain Health Plans, ou simplesmente Rocky) e uma espécie de cooperativa (Mesa County Physicians Independent Practice Association, MCPIPA). Os médicos de família ganharam controle substancial dessas organizações, e promoveram uma cultura de incentivos para o controle e a transparência dos custos. Em 2006, Grand Junction tinha 85% mais médicos de família por habitante que a média nacional.

Continue lendo

Auto-exame das mamas faz mal à saúde

Durante muitos anos, os profissionais de saúde incentivaram as mulheres a fazer o auto-exame das mamas regularmente, como uma forma de detectar o câncer de mama no início e assim facilitar seu tratamento. De fato, os primeiros estudos científicos foram bastante promissores. As mulheres que praticavam ao auto-exame da mama apresentavam um risco 40% de ter câncer avançado no momento do diagnóstico, e um risco 36% menor de morrer por câncer de mama. Depois disso foram realizados estudos mais aprofundados (e caros), que chegaram a conclusões bem diferentes.

É mostrada uma mulher negra adulta nua da cintura para cima, realizando o auto-exame das mamas. Seu braço esquerdo está elevado e ela está examinando sua mama esquerda com a mão direita.

Em 2003 o British Journal of Cancer publicou um artigo de meta-análise, que interpretou em conjunto todos os estudos relevantes realizados em todo o mundo. Essa meta-análise mostrou que ensinar o auto-exame das mamas não diminui em nada a detecção ou a mortalidade por câncer de mama. Pior ainda, aumenta em 53% o risco da mulher ser submetida a uma biópsia desnecessária, e duplica a procura por atendimento médico especializado.

Continue lendo