Arquivo do Autor: Leonardo Fontenelle

Perspectivas para a medicina de família e comunidade na Emescam

Dias 15 e 16 de março realizei na Emescam o Seminário Acadêmico Capixaba de Atenção Primária à Saúde (uma atividade de extensão), com a ajuda do resto da ACMFC e do CAAL. Mas o que eu queria mesmo contar para vocês é que, na mesa de abertura, a vice-diretora da Emescam anunciou que a Santa Casa de Misericórdia de Vitória pretende criar “em curto prazo” um programa de residência médica em medicina de família e comunidade.

No Espírito Santo já temos uma residência em medicina de família e comunidade, na Unesc. O programa ainda está na sua segunda turma, e já teve as vagas anuais expandidas de duas para quatro. Com a Santa Casa, expandiremos ainda mais a especialização em medicina de família e comunidade no estado. Isso é importante porque hoje são tão poucos especialistas que as secretarias municipais de saúde preferem empregar médicos quaisquer na estratégia Saúde da Família.

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Jornal Saúde da Família destaca o papel dos médicos de família e comunidade no cuidado das doenças crônicas não transmissíveis

Com a publicação de uma portaria do Ministério da Saúde sobre a organização do SUS para lidar melhor com as doenças crônicas não transmissíveis (como hipertensão, diabetes, cânceres, asma e enfisema), o assunto virou destaque na última edição do Jornal Saúde da Família, que é o periódico jornalístico (não científico) da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

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Pessoas com sobrepeso vivem mais

Cientistas do CDC e do National Cancer Institute (Estados Unidos) e da Universidade de Ottawa (Canadá) fizeram uma revisão da literatura científica e analisaram em conjunto 141 estudos, envolvendo 2,9 milhões de pessoas, para avaliar a associação entre o grau de obesidade e a mortalidade. O resultado foi publicado na revista científica JAMA em 2 de janeiro deste ano. Mesmo agregando estudos que já vinham sido publicados há muitos anos, o resultado é surpreendente.

De fato, os obesos têm maior mortalidade que as pessoas com peso normal, mas as pessoas com sobrepeso (algo entre o peso normal e a obesidade) têm mortalidade menor, ou seja, têm maior expectativa de vida. Além disso, as pessoas com obesidade grau 1 (o mais leve) têm a mesma mortalidade que as pessoas com o peso normal. O aumento de mortalidade entre os obesos está concentrado nas pessoas com obesidade graus 2 e 3, ou seja, os mais gordos.

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Planeta Saúde Brasil com os dias contados

Comunico que, a partir do dia 24 de janeiro de 2013, o Planeta Saúde Brasil vai sair do ar. O Planeta Saúde Brasil é um site criado em 2009 (é isso mesmo?) pelo psicólogo brasiliense Vladimir Melo para agregar o conteúdo de blogs de qualidade autorados por profissionais de saúde.

Em janeiro de 2010 assumi a manutenção do Planeta, mas na prática ele nunca “decolou”. A visitação permaneceu muito baixa, com muito poucos leitores fieis ou ocasionais. Aproveitando que se aproxima o ano novo, e que dia 24 o registro do domínio expira, decidi não renovar o domínio, e deixar o agregador sair do ar.

Sugiro aos leitores do Doutor Leonardo que aproveitem a ocasião para fazer uma visita aos meus ilustres vizinhos, até porque seus blogs continuarão a ser atualizados normalmente depois que o Planeta Saúde Brasil sair do ar:

Quem será o novo secretário municipal de saúde?

O mundo pode até não ter acabado, mas daqui a uma semana a maioria dos secretários municipais de saúde terão perdido seus cargos, mesmo se o atual prefeito tiver sido reeleito. Isso sempre traz um clima de expectativa, tanto para o profissional de saúde quanto para a população, tanto um quanto outro interessados na consolidação das melhorias e na correção das falhas da gestão anterior.

Em setembro publiquei a opinião de um médico de família e comunidade sobre a relação da estratégia Saúde da Família com a renovação dos prefeitos, e agora trago a vocês as reflexões de outro colega sobre a importância da escolha do secretário municipal de saúde:

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Qualidade da Saúde da Família no Espírito Santo

Neste ano passei o dia do médico de família e comunidade de uma forma diferente. Dia 5 de dezembro foi realizado o Seminário Estadual de Qualidade da APS, e junto a 2ª Mostra de Experiências na Estratégia Saúde da Família. Fui convidado para representar a Associação Capixaba de Medicina de Família e Comunidade na moderação de uma mesa, onde três municípios de diferentes portes na região central do Espírito Santo relatariam suas experiências com o PMAQ. (Mais sobre o PMAQ no meu artigo que a RBMFC publicou este ano.)

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Programas verticais fazem mal à Saúde da Família

Duas semanas atrás eu dizia que uma das formas de melhorar o acesso à atenção básica é deixar os pacientes saírem das caixinhas em que teimamos em guardá-los. Essas “caixinhas” são chamadas tecnicamente de programas verticais. Em vez de defini-los formalmente, explico reproduzindo o depoimento de um médico a uma dupla de pesquisadores (Gomes & Silva, 2011):

Várias gavetas de madeira subdividididas em várias caixinhas, contento material variado.

Eu trabalho com cronograma, cada dia tem um programa diferente, segunda feira, pela manhã, eu faço puericultura, à tarde eu faço livre demanda; terça realizo visita domiciliar, à tarde livre demanda; quase todo dia eu tenho livre demanda porque o povo quer realmente é se consultar, eles não querem saber de organização, não. Na quarta-feira atendo as gestantes, à tarde livre demanda; na quinta-feira, pela manhã, como eu tenho 425 hipertensos e 76 diabéticos, eu organizo por agente de saúde o atendimento toda quinta-feira. Na sexta-feira, como a gente só trabalha meio expediente, até as 13 horas, eu atendo livre demanda.

Os programas verticais são uma herança da década de 80, quando ainda não havia o SUS (OMS, 2005). Basta ler o Relatório Mundial de Saúde 2008 (OMS, 2008) para perceber que a persistência dos programas verticais, focados em condições de saúde (como a hipertensão ou a suscetibilidade ao câncer de colo de útero) é uma característica dos países onde as pessoas só tem direito àquilo que faz parte de algum desses programas. Já no caso do Brasil, a Constituicão diz claramente que os cidadãos têm direito ao atendimento integral, ou seja, a todas as suas necessidades.

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Nota rápida: roda de discussão clínica neste sábado

Eu já havia divulgado anteriormente que a Associação Capixaba de Medicina de Família e Comunidade (ACMFC) está realizando, mensalmente, um programa de educação continuada chamado rodas de discussão clínica. O que eu ainda não tinha dito é que uma das rodas seria conduzida por mim: neste sábado, dia 27 de outubro de 2012, às 09 horas, no auditório do CRM-ES, discutiremos a abordagem da cólica renal pelo médico de família e comunidade.

Não por acaso, este é o assunto do meu capítulo no Tratado de Medicina de Família e Comunidade. Como eu comentei na ocasião do lançamento do livro, o conteúdo do capítulo está diferente do que seria encontrado num livro de clínica médica ou de urologia, simplesmente porque o campo de ação do médico de família e comunidade também é diferente. Para ficar em um único exemplo, é fundamental que o médico de família e comunidade saiba que a maior parte dos cálculos urinários são expelidos espontaneamente, mas as pessoas que chegam ao urologista já tem uma probabilidade muito maior de precisar de uma intervenção.

Como garantir acesso ao atendimento médico nas unidades de saúde

Semana passada eu escrevi sobre a futilidade de se discutir prioridade no atendimento à saúde, com ênfase para as unidades básicas de saúde. A partir do momento em que a maioria das pessoas a serem atendidas têm prioridade, o melhor é deixar de discutir quem passa na frente, e providenciar para que todos sejam efetivamente atendidos, e logo.

Isso também vale para o atendimento às urgências nas unidade de saúde. Num pronto-socorro, onde quase todos os atendimentos são de urgência, faz sentido usar um sistema de triagem (ou acolhimento) para avaliar quem precisa ser atendido antes dos demais. Já numa unidade básica de saúde, quase toda demanda espontânea é pouco ou nada urgente, ao menos em termos biomédicos, o que não significa que possa esperar até o agendamento do mês que vem.

Não adianta gastar tempo, espaço físico e recursos humanos avaliando, por exemplo, o grau de urgência do atendimento a alguém que acabou de perder uma receita de medicamento para prevenir crises convulsivas. Se o atendimento não for realizado logo, a pessoa irá piorar de sua condição clínica e aí será uma emergência. E, se for para atender mesmo à pessoa, que tal fazer isso hoje, ou num prazo de 48 horas, para evitar o acúmulo de serviço?

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Prioridade para idosos no atendimento à saúde

Aqui em Vitória é muito comum os idosos exigirem prioridade no atendimento em unidades básicas de saúde. Essa exigência é polêmica, pois muitas pessoas entendem que os idosos têm menos compromissos e, portanto, menos pressa. Mas é lei: tanto o Estatuto do Idoso quanto a Lei nº 10.048 dão prioridade (absoluta, pelo Estatuto) no atendimento.

O problema é que a mesma Lei nº 10.048 também dá prioridade a portadores de deficiência, gestantes, lactantes e pessoas acompanhadas por crianças de colo. Além disso, a Constituição dá prioridade absoluta para crianças, adolescentes e jovens. Os jovens são uma novidade: a prioridade foi introduzida pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010. A definição de “jovens” deverá ser estipulada pelo Estatuto da Juventude; alguns defendem a faixa etária de 18 a 21 anos, mas a Organização Ibero-americana de Juventude propõe que seja dos 15 aos 29 anos de idade.

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