Neste ano passei o dia do médico de família e comunidade de uma forma diferente. Dia 5 de dezembro foi realizado o Seminário Estadual de Qualidade da APS, e junto a 2ª Mostra de Experiências na Estratégia Saúde da Família. Fui convidado para representar a Associação Capixaba de Medicina de Família e Comunidade na moderação de uma mesa, onde três municípios de diferentes portes na região central do Espírito Santo relatariam suas experiências com o PMAQ. (Mais sobre o PMAQ no meu artigo que a RBMFC publicou este ano.)
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Programas verticais fazem mal à Saúde da Família
Duas semanas atrás eu dizia que uma das formas de melhorar o acesso à atenção básica é deixar os pacientes saírem das caixinhas em que teimamos em guardá-los. Essas “caixinhas” são chamadas tecnicamente de programas verticais. Em vez de defini-los formalmente, explico reproduzindo o depoimento de um médico a uma dupla de pesquisadores (Gomes & Silva, 2011):
Eu trabalho com cronograma, cada dia tem um programa diferente, segunda feira, pela manhã, eu faço puericultura, à tarde eu faço livre demanda; terça realizo visita domiciliar, à tarde livre demanda; quase todo dia eu tenho livre demanda porque o povo quer realmente é se consultar, eles não querem saber de organização, não. Na quarta-feira atendo as gestantes, à tarde livre demanda; na quinta-feira, pela manhã, como eu tenho 425 hipertensos e 76 diabéticos, eu organizo por agente de saúde o atendimento toda quinta-feira. Na sexta-feira, como a gente só trabalha meio expediente, até as 13 horas, eu atendo livre demanda.
Os programas verticais são uma herança da década de 80, quando ainda não havia o SUS (OMS, 2005). Basta ler o Relatório Mundial de Saúde 2008 (OMS, 2008) para perceber que a persistência dos programas verticais, focados em condições de saúde (como a hipertensão ou a suscetibilidade ao câncer de colo de útero) é uma característica dos países onde as pessoas só tem direito àquilo que faz parte de algum desses programas. Já no caso do Brasil, a Constituicão diz claramente que os cidadãos têm direito ao atendimento integral, ou seja, a todas as suas necessidades.
Nota rápida: roda de discussão clínica neste sábado
Eu já havia divulgado anteriormente que a Associação Capixaba de Medicina de Família e Comunidade (ACMFC) está realizando, mensalmente, um programa de educação continuada chamado rodas de discussão clínica. O que eu ainda não tinha dito é que uma das rodas seria conduzida por mim: neste sábado, dia 27 de outubro de 2012, às 09 horas, no auditório do CRM-ES, discutiremos a abordagem da cólica renal pelo médico de família e comunidade.
Não por acaso, este é o assunto do meu capítulo no Tratado de Medicina de Família e Comunidade. Como eu comentei na ocasião do lançamento do livro, o conteúdo do capítulo está diferente do que seria encontrado num livro de clínica médica ou de urologia, simplesmente porque o campo de ação do médico de família e comunidade também é diferente. Para ficar em um único exemplo, é fundamental que o médico de família e comunidade saiba que a maior parte dos cálculos urinários são expelidos espontaneamente, mas as pessoas que chegam ao urologista já tem uma probabilidade muito maior de precisar de uma intervenção.
Como garantir acesso ao atendimento médico nas unidades de saúde
Semana passada eu escrevi sobre a futilidade de se discutir prioridade no atendimento à saúde, com ênfase para as unidades básicas de saúde. A partir do momento em que a maioria das pessoas a serem atendidas têm prioridade, o melhor é deixar de discutir quem passa na frente, e providenciar para que todos sejam efetivamente atendidos, e logo.
Isso também vale para o atendimento às urgências nas unidade de saúde. Num pronto-socorro, onde quase todos os atendimentos são de urgência, faz sentido usar um sistema de triagem (ou acolhimento) para avaliar quem precisa ser atendido antes dos demais. Já numa unidade básica de saúde, quase toda demanda espontânea é pouco ou nada urgente, ao menos em termos biomédicos, o que não significa que possa esperar até o agendamento do mês que vem.
Não adianta gastar tempo, espaço físico e recursos humanos avaliando, por exemplo, o grau de urgência do atendimento a alguém que acabou de perder uma receita de medicamento para prevenir crises convulsivas. Se o atendimento não for realizado logo, a pessoa irá piorar de sua condição clínica e aí será uma emergência. E, se for para atender mesmo à pessoa, que tal fazer isso hoje, ou num prazo de 48 horas, para evitar o acúmulo de serviço?
Saúde da Família dá voto
Os colegas do Rio de Janeiro (RJ) dizem que o candidato à reeleição para prefeito lá está com 57% de intenções de votos. Não dá para deixar de associar o eminente sucesso eleitoral à política de saúde do município, que aliás já foi motivo de um artigo neste blog, em 2010: “Rio de Janeiro amplia Saúde da Família“.
Os cariocas reconhecem a importância da estratégia Saúde da Família e do médico de família e comunidade. Basta observar que, enquanto a atual presidenta Dilma Rousseff mal tocou no assunto em sua campanha eleitoral, Eduardo Paes enche a boca para falar de nós. Confira neste vídeo, aos 6 minutos e 50 segundos:
Existe Saúde da Família depois das eleições?
A estratégia Saúde da Família (PSF) é responsabilidade dos municípios, e por isso a cada quatro anos aparece um clima de insegurança. Como vão ficar as coisas quando mudar o prefeito?
Este é um ano de eleições municipais, de forma que achei oportuno dividir com vocês o depoimento de Hamilton Lima Wagner, médico de família e comunidade do município de Curitiba (PR):
Notas rápidas 31/08/2012
Algumas notícias enquanto não trago um artigo mais aprofundado:
RBMFC traz artigo sobre mudanças na PNAB
Ano passado eu tinha apresentado uma palestra sobre as mudanças que o Ministério da Saúde vinha fazendo na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). Na época publiquei um comentário sobre as novidades da PNAB aqui no Doutor Leonardo, e também fui convidado para adaptar o material da apresentação para a Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (RBMFC). Demorou um pouco, mas finalmente o artigo foi publicado, na seção de debate da RBMFC. O material não é mais tão atual assim, mas ainda é uma leitura muito interessante para quem trabalha na Saúde da Família.
Indústria promete reduzir sódio em margarina e cereal
Individualmente, a redução do sal da comida tem um efeito modesto no controle da pressão arterial. Mas, em termos de saúde coletiva, reduzir o consumo médio de sal por pessoa é capaz de reduzir o número de derrames em maior proporção do que o tratamento medicamentoso de todos os hipertensos.
Eu já tinha divulgado que o Ministério da Saúde tinha fechado um acordo com a indústria alimentícia para a redução do sal e do açúcar em seus produtos. Nesta semana a Folha de São Paulo publicou uma matéria sobre o andamento dessa redução:
As reduções propostas, escalonadas para 2013 e 2015, variam de 1,3% ao ano (para temperos à base de alho e cebola para arroz) até 19% ao ano (margarinas vegetais).
Comissão do Senado aprova vinculação de receita da União para a saúde
Atualmente o governo federal destina para a saúde apenas 4% do seu orçamento total, enquanto os estados são obrigados pela Emenda Constitucional nº 29 a destinar 12%, e os municípios, 15%. Há pouco tempo divulguei um projeto de lei de iniciativa popular para obrigar o governo federal a reservar pelo menos 10% do orçamento para a saúde. Enquanto as entidades médicas coletam assinaturas, a Câmara dos Deputados recebeu mais dois projetos de lei semelhantes, e agora descobri o projeto de Lei do Senado nº 156, de 2007:
Art. 2º A União aplicará, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, conforme definidos nesta Lei Complementar, o montante mínimo correspondente a dezoito por cento de sua receita corrente líquida, calculada nos termos do art. 2º da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.
O projeto acabou de ser aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, e segue para a Comissão de Assuntos Socias, de onde (se aprovada) vai para votão na Plenária do Senado.
Será que dessa vez vai?
ACMFC inicia programa de educação continuada
A Associação Capixaba de Medicina de Família e Comunidade (ACMFC, de cuja diretoria faço parte) já realizava todo ano uma jornada dentro do Congresso Médico Estadual da AMES. Agora também estamos promovendo eventos mensais, as rodas de discussão clínica, realizadas sempre num sábado pela manhã no auditório do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES).
A próxima roda de discussão clínica será realizada dia 15 de setembro, às 9 horas da manhã, e terá como tema a abordagem do olho vermelho (conjuntivite e seus diagnósticos diferenciais) na atenção primária à saúde. A apresentadora será a oftalmologista Adriana Cardozo, que é uma das autoras do respectivo capítulo do Tratado de Medicina de Família e Comunidade.
Como evitar a rotatividade do médico de família
A continuidade da relação entre a pessoa e seu médico é uma das características mais importantes de uma boa atenção primária à saúde, tanto que um estudo brasileiro percebeu uma diminuição na necessidade de internação hospitalar simplesmente pelo fato do médico trabalhar há mais tempo na mesma equipe de Saúde da Família. Acontece que, na média, o médico trabalha apenas 2 anos no mesmo município, e nem sempre passa esse tempo todo com a mesma equipe. Pior ainda: uma pesquisa da UFMG constatou que “problemas que têm origem na gestão municipal são a principal causa da rotatividade dos médicos da ESF.”
Como prometido na semana passada, revisei estudos sobre a rotatividade dos médicos de família e comunidade no Brasil para trazer algumas dicas:
Nova diretoria da ACMFC
Essa é uma nota rápida para divulgar que a Associação Capixaba de Medicina de Família e Comunidade elegeu sua nova diretoria, para o biênio de 2012 a 2014. O autor deste blog passou a diretor acadêmico, depois de 2 anos como diretor substituto:
- Presidente: Robson Adriano Zanoli
- Vice presidente: Marcello Dala Bernadina Dalla
- Secretária Geral: Flávia Thereza Rodrigues Decottignies de Barros
- Diretor Financeiro: José de Almeira Castro Filho
- Diretor Acadêmico: Leonardo Ferreira Fontenelle
- Diretora Científica: Lívia Matavelli Santos
- Diretor de Exercício Profissional: Thiago Dias Sarti
- Diretora de Comunicação: Violeta Vargas Lodi
- Diretores Suplentes: Waleska de Souza Reisman; Tatiana Argolo Toscano Figueiredo
Por coincidência, a eleição foi realizada no dia 19 de maio, que é justamente o dia internacional do médico de família e comunidade. (No Brasil, comemoramos no dia 5 de dezembro, aniversário de fundação da SBMFC.)